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Bola na Área

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UMA CAPA NOJENTA

12 Março, 2011 2366 visualizações

Os portugueses que consomem futebol em forma de papel de jornal costumam analisar de forma bastante simplista os produtos de que dispõem. Para quase todos eles, O Jogo é um jornal conotado com o FC Porto, A Bola com o Benfica e o Record com o Sporting.
Tenho o privilégio de já ter trabalhado em dois desses jornais e tenho amigos em todos eles. Penso ter suficiente informação para saber o que as casas gastam mas tenho também a consciência de é muito difícil desentranhar esta ideia da cabeça dos adeptos.
Vem isto a propósito da polémica capa de A Bola a seguir ao último Sp.Braga-Benfica, o tal “Xistra decide o que estava decidido”, acompanhado pelo momento da expulsão de Javi Garcia e ainda por um antetítulo que nem sequer pode ser classificado de descuidado (“FC Porto não precisava deste árbitro para ser campeão por mérito).
Há aqui desde logo duas premissas erradas:
– Não foi Xistra que decidiu, foi Mossoró.
– O FC Porto não defrontou o Benfica nesse jogo.
Trabalhei muitos anos num outro jornal desportivo – a Gazeta dos Desportos – e não posso dizer que saí imaculado da tarefa sempre perigosa de organizar o material de capa. Fartei-me de meter o pé na poça, aliás.
Mas desta vez ninguém tem desculpa.
A forma como esta capa está construída é antes do mais um crime de lesa-jornalismo. Envergonha-nos a todos.
Mas são os sinais dos tempos.
Não vou dizer que os antigos é que eram os “puros”, que estavam imunes a pressões e clubismos e que depois deles é o deserto. Ando aqui há 30 anos e já ouvi muitas estórias.
Esta capa de A Bola é para guardar. Para estudar. Provavelmente representará no futuro a prova material de uma mudança de paradigma.
Caiu a máscara em pleno Carnaval.
Perdeu-se a vergonha.
Não crucifiquemos, porém, apenas o jornal da Travessa da Queimada, único sobrevivente do bastião jornalístico do Bairro Alto lisboeta. Outros também já pecaram. Mas, meus amigos, a não ser que a minha memória me engane, uma capa deste calibre nunca tinha visto. A culpa não é de quem a fez mas sim de quem permitiu que um dia ela viesse para a rua.
É nestes dias que não lamento o momento em que subi as escadas da “Queimada” para entregar a minha bola nas mãos de Vítor Serpa, optando pelo Record, o único jornal onde trabalhei e onde um dia fui suspenso com justa causa por ter emprenhado pelos ouvidos, promovendo uma determinada tese sem recorrer ao contraditório. Fico a dever esta lição a Alexandre Pais.
Estamos sempre a tempo de aprender.

Espero, sinceramente, a a própria A BOLA seja capaz de superar esta desgraça, colocando no sítio certo os desgraçados que inventaram esta capa.