PORCA MISÉRIA
Dois antigos impérios – o romano e o napoleónico – deixaram de estar representados porventura na zona do globo onde teve origem a humanidade. Não deixa de ser irónico. Nem Júlio César nem Bonaporte estão por cá para reparar danos mas os seus clones estão aí com soberba q.b.: em Paris, um advogado rico que usa tacões altos e vive com uma cantora pimba italiana; em Roma, o filho de um bancário que colecciona milhões e escapa dos processos judiciários entre as gotas da chuva enquanto brinca com beldades de fama duvidosa mas de certos atributos.
O futebol é apenas o que é mas normalmente este novo tipo de imperadores gosta de enfatizar o que é simples, elevando as eliminações das suas seleções a casos nacionais. De lesa pátria.
Ora, a pátria não tem nada a ver com a bola.
O futebol é um jogo universal. Um jogo apenas.
Aqueles que querem fazer dele uma indústria ou uma causa são vendilhões do templo.
A França esteve miserável, a Itália não bateu no fundo mas esteve longe dos seus pergaminhos. Mas é futebol. Ou preferem um jogo no qual as superpotências seguem sempre em frente nos preliminares, tendo pelo menos direito ao orgasmo final?
A montante e a jusante do futebol há muito terreno pantoso. Por isso, ver passar o Paraguai, a Eslováquia, o Gana ou Portugal é sempre um prazer. Pode ser uma ilusão mas pelo menos durante o solstício do Verão de 2010 da era cristã podemos todos pensar que quando o sol nasce brilha para todos.
Em breve se verá que a porca miséria está longe de ser um apanágio de italianos e franceses. Vamos poder encontrá-la no fim de um qualquer telejornal, depois das notícias das excentricidades de Berlusconi e Sarkozy.
Há mais vida para além do Mundial. E morte.
PS – Entretanto, Portugal disputou com o Brasil a taça amizade deste mundial, que teve o seu apogeu no Parque das Nações, em Lisboa. O país discute as scuts mas o jornal da uma da RTP, de hoje, sábado, só aos 15 minutos fala do assunto, depois de dedicar 12 minutos a Mário Soares e Manuel Alegre (e ainda não entrou qualquer peça sobre o Mundial…). Operações de branqueamento é mesmo o prato do dia deste país dominado pelo aparelho público onde também se eleva a causa nacional a vida de uma operadora de rede móvel e de dados, pelos grandes escritórios de advogados e pelo poder semi-oculto da maçonaria e do opus dei. O resto são tremoços!