“Sonho de uma noite de Verão”, disse Dries Van Noten nos bastidores, limpando uma lágrima enquando a audiência aplaudia um show excepcional.
Como se fosse! Será que ele imaginava que nós não tínhamos entendido de imediato a sua ode à natureza – uma milagrosa adaptação do movimento Arts and Crafts do final do séc. XIX – traduzido em roupas desportivas e modernas?
O vislumbre apenas da relva felpuda e a carpete de folhagem na passerelle sugeriam um sonho verde, mesmo antes dos primeiros pássaros começarem a piar e chilrear ao som da música, ou mesmo depois das modelos desfilarem no feérico chão verdejante, criando com os seus looks uma cama floral.
Foi um daqueles momentos poéticos nos desfiles de primavera-verão que ficarão na memória como parte da obra de Van Noten.
Talvez fosse daquela exposição de sucesso que aliou artistas à Moda na qual Dries foi curador, no Musée des Arts Décoratifs, patente até 2 de novembro, que o encorajou a voltar à natureza. Mas ao mesmo tempo, criou estes novos designs com densa arte.
O efeito geral era o de peças decorativas, mas em silhuetas elementares, as superfícies ricas e tridimensionais como árvores numa floresta – para não falar da carpete musgo tecida pela artista sedeada em Buenos Aires Alexandra Kehayoglou.
Textura ou outra superfície de interesse foi primordial para o show. Havia tiras em seda coloridas num casaco leve ou uma camisola felpuda. Casacos sem mangas, o efeito tão de musgo quanto o da passerelle, eram usados de forma despojada com calças justas, enquanto o chiffon apenas raramente flutuava em vestidos românticos compridos. Mais típicos eram as bandas que rodeavam os tops na zona do peito ou sobre a pele nua, deixando espreitar vislumbres de pele.
Calções e as sempre presentes calças, bem como aquelas sandálias em cunha e a joalharia de natureza, traziam uma frescura que evitava que o vestuário parecesse uma malha tecida por William Morris.
Dries estava mesmo a romancear a natureza: as cores, quentes com o rosa como se estivessem numa cama de flores; um padrão pálido, como se tivesse sido queimado pelo sol; ou uma saia criada em tufos de púrpura, como um arbusto psicadélico.
Se algum dos efeitos fora feito digitalmente, não parecia: mais como se um tecido de estampado de maçãs tivesse sido encontrado num sótão no meio de uma arrumação, no meio de bordados envelhecidos. Era como se tivessem sido plantados juntos e brotado um casaco.
As palavras não conseguem descrever os intrínsecos detalhes usados com tamanha leveza, nem como o criador criou esta versão do séc XXI das Arts and Crafts.
Dries Van Noten tem reconhecido orgulho pelos seus jardins belgas. Mas istofoi mais que uma versão bordada a flores da beleza da natureza, Foi um tour de force do design e da imaginação – e amor.