O vestido tinha uma textura simples e modesta, mas era iluminado por lantejoulas que brilhavam enquanto a modelo pisava com sandálias rasas a passarela do desfile de Bottega Veneta.
Num dos desfiles mais requintadamente executados e belissimamente apresentados até à data para o verão de 2015, Tomas Maier, o designer de Bottega, criou, com uma beleza atlética, um momento de calma no meio da tempestade de regresso aos ruidosos Anos 70 a que se assistiu em Milão.
“Estava a pensar em dança, no corpo – graciosidade, exercício, postura”, disse Maier nos bastidores, alongando o próprio corpo, de cabeça bem erguida numa pose elegante.
Na passarela, as modelos pareciam preparar-se para uma aula de ballet – um macacão cor de rosa, usado com um cardigan comprido. Poderia haver também uma sweater arrapazado com calças simples, ou uma blusa com um floreado de tecido no pescoço a comemorar a feminilidade, mas não de forma exagerada.
As cores foram sobretudo bege claro, azul pálido ou rosa corado e os materiais humildes. No entanto, vestidos simples pela barriga das pernas eram embelezados com tiras em pele envernizada e aglomerados de paillettes. Este efeito ‘de pobre a rico’ era infinitamente subtil, com o verdadeiro luxo expresso na belíssima criação de roupas que se moviam com o corpo.
Depois, na altura exata em que o desfile parecia estar a instalar-se num tipo de beleza sonolenta… Puf! Apareceram quadradinhos Vichy – uma história de moda nesta estação – mas sob a forma de um complexo padrão de liso e xadrez. O efeito foi modular e gráfico, com um toque de doçura juvenil.
Poucos designers masculinos conseguiram entrar na pele da mulher do século XXI como Maier. Alber Elbaz, da Lanvin, é provavelmente o seu único rival. Em Bottega, não se viu uma única peça que parecesse mal planeada ou desenquadrada – e a perfeição é um feito imponente.