Suceder a Jil Sander, mãe fundadora da moda andrógina, já era suficientemente difícil. Chegar depois de Raf Simons, o poderoso substituto de Jil nos seus anos on/off, poderia ser ainda mais complicado.
O designer Rodolfo Paglialunga, atual diretor criativo da marca, iniciou a sua coleção de estreia em Milão com o conceito de “mudança toral”. Simons ficou famoso por pintar o espaço de apresentações minimalista de Jil de preto e enchê-lo com vasos de flores. Rodolfo brincou com outras zonas do edifício, dando aos espectadores uma vista para o famoso Castello Sforza de Milão.
Porém, a abertura da marca ao mundo exterior não se traduziu em mudanças na passarela. O desfile mostrou-se respeitador do conceito de Jil Sander, com o masculino metamorfoseando-se em feminino. Paglialunga apresentou todo o tipo de peças, como camisas de alfaiataria possivelmente usadas com uma camisola sem mangas.
O desfile não foi inundado por calças de fato porque essa época faz parte do passado, mas viram-se calções mais folgados e assexuados do que alguns homens seriam capazes de usar (quanto mais mulheres!).
A alfaiataria consistiu de cortes direitos e as saias eram bem cortadas, algumas com os padrões gráficos que a própria Jil tentou introduzir após uma das suas três saídas e regressos. Houve um indício vago de uniformes desportivos em azul marinho e sangue de boi.
Se fosse compradora, teria provavelmente ficado maravilhado com o facto de Jil Sander, a marca, estar de volta ao seu lugar, com uma coleção elegante e compreensível. Enquanto editora de moda, acho que Rodolfo, que evocou como inspiração Annemarie Schwarzenbach, uma fotógrafa suíça de beleza andrógina da década de 1930, pagou as suas dívidas a Jil. Na próxima estação será altura de seguir em frente.