Algures no lado longínquo de uma ondulante duna, onde o som do mar se fazia sentir além de uma passadeira dourada, Miuccia Prada encenou o seu confronto entre a beleza da antiguidade e a exigência atual pela simplicidade.
Por um lado, intensas peças brocadas que pareciam ter sido encontradas num velho sótão, a sua beleza e trabalho manual ainda mais ou menos intacto, excetuando a folhagem de fios embaraçados.
Por outro, no oposto desta luta entre senso e sensibilidade, encontravam-se casacos e vestidos severos, a sua forma simples traçada e re-traçada com costura sobre costuras. Pareciam uma versão de Moda de Arte Povera, enquanto os brocados sugeriam uma grandeza do séc. XIX.
Tome o vinho ou a água da Prada. E consegue as mesmas meias com uma fileira de flores na canela e um sapato de salto robusto.
Mas como sempre com a Prada – e este desfile foi compreensivelmente Miuccia em espírito – nada é como parece.
“É o irresistível trabalho de artesãos, como fazer candeeiros de teto”, disse Prada nos bastidores, explicando como tinha requisitado os melhores especialistas italianos para re-interpretar brocados antigos.
A batalha da Prada para alinhar opostos tem sido o seu desafio ao longo das últimas duas décadas. O rugido de entusiasmo e aplauso, quando entrou na passerelle para a uma generosa vénia final, mostrou o quão as pessoas a respeitam e admiram a sua coragem na Moda.
O que diferiu nesta coleção foi a sua beleza histórica. Acabou a estética feia, mas também não há a nostalgia de tempos passados. Não há mais conflitos homem/mulher, porque todas as peças eram femininas, sem calças, só uma saia brocada com uma simples camisola.
Em vez disso, a Miuccia seguiu um seu delírio e desejo de preservar a arte manual do passado, que se mantem sempre e para sempre relevante.