Com luz vivida vinda de um vitral, iluminando uma parede da igreja, e a música do orgão a chegar do lado oposto, jovens mulheres desfilavam pela nave. O cabelo estava molhado e embaraçado, como uma Ofélia naufragada. Os seus vestidos e sapatos pretos eram simples, excepto o toque de pelúcia.
A doce solenidade de Simone Rocha foi a visão mais romântica de femininidade testemunhada nos shows de primavera/verão 2015 de Londres. Todas as emoções estavam ali, desde os momentos sóbrios com lenços em chiffon na cabeça, como se se tratasse uma ida ida à Missa ao Domingo, às flores selvagens orientais em vermelho envernizado.
“Pensei muito no ballet“, disse a criadora nos bastidores. E deve certamente ter pensado nos seus próprios poéticos passos: o seu background irlandês, com o crochet da sua avó, foi uma das vertentes da coleção; a parte asiática da família, em Hong Kong; e o seu passo em frente enquanto representante da família Rocha, sendo que o pai John se reformou esta estação.
Mas a emoção, por mais sentida que seja, não é nada em Moda se não se conseguir veiculá-la na roupa. E Simone Rocha não deu nenhum passo em falso nos seus sapatos felpudos (mesmo que a própria estivesse a usar esses slippers decorados com pérolas).
A fragilidade das mulheres em simples vestidos nude em chiffon com uma bainha felpuda; a energia nos florais vermelhos e no polka dot; o branco de noiva, em renda… toda esta emoção conjugada nas roupas modernas perfeitas: vestidos decentes, casacos com bom corte muitas vezes usados diretamente sobre as calças, e os saptos rasos. O trabalho nos tecidos, que é um dos pontos fortes da criadora, tornaram peças aparentemente simples em algo especial.
Simone, que dedicou o seu desfile à falecida Professora Louis Wilson, a sua mentora em Saint Martin’s, é um verdadeiro talento com uma voz doce e clara. A moda londrina teve em tempos uma fase de Novo Romantismo. Simone Rocha é a versão pós-feminista do séc XXI.