Terá sido a presença de Charlotte Casiraghi, a embaixadora equestre da Gucci, sentada na primeira fila com uma Kate Moss coberta de pele de cobra, que fez o desfile do dia de abertura da temporada de Milão parecer tão ousado?
“Crazy Girl” cantava a banda sonora, enquanto apareciam as modelos vestidas com conjuntos de camurça com alusões à década de 1970, e depois com ganga, complementada com brilhos Glitter Gulch e patchworks de pelo, desde raposa a cabra.
“E a Ásia!”, disse a designer Frida Giannini nos bastidores, apontando para as flores que desenhavam o padrão do seu top em seda. Talvez fosse um cumprimento à atriz chinesa Yang Mi, sentada entre a audiência, ou a François-Henri Pinault, que dirige o grupo de luxo da Gucci e explicou por que razão a estratégia das vendas topo de gama da China não podia seguir o mesmo caminho que a dos E.U.A. e a da Europa.
Embora houvesse algumas passagens aborrecidas na coleção da Gucci para a primavera/verão de 2015, o desfile foi quase sempre bem coordenado quando pareceu focar-se no produto. Blusas estruturadas mais simples equilibraram o glamour hippie-de-luxe e os vestidos bonitinhos impressos com flores chinesas ou grous japoneses mesclaram-se fluidamente com roupa de noite. Não se viu preto, a cor preferida e tão familiar a Frida. As peças para depois do anoitecer foram, por conseguinte, menos destinadas à passadeira vermelha e mais dirigidas ao mundo real.
Aquilo que pareceu fresco nesta estação foi o luxo casual que deveria ser a essência da Gucci. E o coração da marca: os acessórios. Viram-se cintos que davam duas voltas à cintura, malas rijas estilo Anos 70 e botões navais dourados em culotes de ganga, estrategicamente colocados abaixo do umbigo.
Os embelezamentos não acabaram nos botões. Havia também exemplos recorrentes de alamares a vincar a personalidade do glamour.
A cor contava uma história de moda plena de significado – o bordeaux, a cor de ferrugem e o cor de laranja dos Anos 70 que deram depois lugar ao azul e ao verde. A forma como as cores eram sombreadas, sobretudo no pelo, era subtil.
O único mistério que sobressai é por que razão a Gucci, que lançou uma linha de beleza nesta estação e foi responsável pelos lábios sensuais de Charlotte Casiraghi, não enfatiza mais um dos seus produtos existentes e icónicos: os sapatos. Viram-se botas em camurça alaranjada, botins cor de laranja e sandálias verdes com saltos grossos, mas nada que se aproximasse dos sapatos instantaneamente reconhecíveis que estiveram na origem da fama da Gucci.