“Não vamos por aí”, disse um Christopher Kane emocionado nos bastidores, enquanto falava sobre a sua mentora e amiga, a Professora Louise Wilson, a quem dedicou este desfile.
Christopher contou como, após a súbita morte de Louise este ano, encontrou uma coleção de fotografias tiradas no início dos seus estudos na Central Saint Martin’s College of Art and Design, onde Louise treinava e acarinhava os seus alunos.
Nas imagens, a sua irmã Tammy desfilava vestidos com cordas enroladas que ele criara na cozinha.
Uma das coisas que a sua mentora teria certamente dito a todos os seus alunos, seria para avançarem, seguirem em frente, nunca olharem para trás. Poderia ter havido algo de elogio fúnebre neste desfile – uma celebração nobre de Louise, tão admirada e adorada por todo o universo da moda.
Mas não. O que houve foi Christopher a pegar em coisas infantis, olhando para o passado, quando a sua história era feita de cordas coloridas. Apesar disso, esta decoração conseguiu compor alguns looks elegantes e estruturados e vestidos curtos com as cordas cosidas à volta do corpo. Procurei em vão a inquietante subcorrente de sexo ou perversidade que em tempos invadiu o trabalho de Kane. Cordas de bondage? Não. As roupas eram demasiado senhoris para isso. Será que a aplicação de cornucópias sobre tule pretendia transmitir alguma mensagem fetichista? Não sei.
Também não se viu qualquer alegria jubilante de cor ou uma inserção marota num tom contrastante. Nas notas do programa, Kane disse ter sido inspirado pela farda bordeaux da sua escola. A sério? Não havia coisas mais interessantes para ir buscar ao seu passado escocês?
Como é óbvio, Christopher Kane estabeleceu um padrão de qualidade tão elevado para si próprio que nenhuma coleção pode ser má. No final, viram-se vestidos moldados em tecidos reluzentes com cordinhas brilhantes artisticamente incorporadas. Um vestido em renda preta com cordas vermelhas e brancas recebeu a aparente aprovação de Salma Hayek, sentada na primeira fila com o seu marido, François Henri Pinault, que apoia Kane através do grupo Kering.
Havia todas as razões para Christopher se sentir subjugado. Por isso, vamos pensar nesta coleção como uma fase na história de um grande designer e um velório respeitoso para Louise Wilson.