A Semana da Moda de Londres abriu com uma revelação. Não foi o último génio de design gerado por uma das mais poderosas faculdades de artes britânicas – embora isso ainda estivesse para vir.
Nem um desfile apresentado da forma louca e inimitável pela qual Londres é famosa.
Não. A minha epifania aconteceu sob a forma de um alinhamento de escadotes metálicos gastos e uma série de caixas de encomendas em cartão vindas da China.
Com estas simples ferramentas, a McQ, a linha mais acessível de Alexander McQueen, mostrou a sua coleção para o verão de 2015.
Foi imediatamente evidente que a designer Sarah Burton e a sua equipa tinham produzido peças urgentes, desejáveis, fáceis de usar, amigas do bolso e fieis à atitude original e poderosamente criativa de Lee McQueen.
Viram-se casacos em pele envernizada tingida em tons metálicos, reluzindo em dourado ou prateado. As calças de ganga foram tratadas com folha para lhes imprimir vincos descolorados.
Seguindo um tema de ‘Sonho Californiano’ – o lado negro –, os casacos estruturados possuíam rebites circulares e estavam amachucados como se tivessem sido recuperados do fundo do mar. Outro look do mundo afogado de McQ consistiu de redes de pesca de tamanho industrial usadas em vestidos.
As T-shirts tinham padrões estilo manga ou tiras de BD com um slogan espirituosamente adequado: ‘Teenage Torpor’.
Quanto aos desenhos animados chineses, Andy Rogers, o diretor de marca da McQ, utilizou o cartão para expor acessórios (imagine malas de piton polvilhadas de laranja e verde) porque a Kering, a empresa mãe da marca, insiste em etiquetas com um ‘E’ representando um esforço de fazer moda ética.
Durante esta coleção, apresentada no primeiro dia dos desfiles londrinos, apercebi-me da razão por que é imperativo para os conglomerados de moda (sobretudo estrangeiros) investirem em jovens talentos britânicos – ou seja, pessoas que estão a trabalhar para criar uma marca completa.
Nesta estação, as estrelas incluíram evidentemente a Burberry, uma marca que Christopher Bailey – enquanto principal criativo e CEO – tem trabalhado e desenvolvido em mais do que um aspeto.
Igualmente merecedor de destaque, Christopher Kane – protegido da Kering, à semelhança de McQueen – que se encontra numa fase mais inicial de construção estratégica da marca. Entretanto, Jonathan Anderson foi escolhido pela LVMH para desenvolver a sua marca espanhola Loewe, bem como a do próprio designer.
A gigante francesa de Luxo é também mentora de Thomas Tait, que venceu o primeiro Prémio LVMH para jovens designers, uma iniciativa realizada sob a proteção de
Delphine Arnault, filha do presidente do conselho de administração e CEO da multinacional, Bernard Arnault.
Com 300 mil euros e um ano de orientação, Tait, nativo de Montreal, formado na Central Saint Martin’s e sediado em Londres, fará mais do que agitar as águas com o seu projeto artístico apresentado no desfile de segunda-feira. Ele espera igualmente dar os primeiros passos decisivos em direção ao desenvolvimento da sua marca.
Ao contrário de alguns dos meus colegas, penso que é muito positivo os gigantes da indústria estarem agora preparados para ajudar a pagar os blocos de construção do sucesso internacional.
Já vi demasiados designers britânicos entrarem fulgurantemente na cena da moda e ascenderem à glória, sem nunca rentabilizarem o seu talento. Foi o caso de Ossie Clark, o prodígio da década de 1960, cujas peças ainda hoje ecoam, mas nunca conseguiu criar um negócio viável.
Lee McQueen poderia ter sido outro desses espíritos incandescentes, mas apagados – muito antes da sua morte precoce. Em vez disso, o seu espírito sobrevive na coleção com o seu nome e em McQ, fundada em 2006.
Lee jogou tão bem com a LVMH e com a PPR da altura (atual Kering), que gosto de imaginá-lo a olhar benignamente cá para baixo, vendo uma coleção que lhe faz justiça e oferece a um público global mais vasto qualquer coisa para vestir.