“Tudo começou há 200 milhões de anos!”, disse Mary Katrantzou, explicando como as placas tectónicas foram incorporadas nas costas nuas dos seus vestidos e as rendas foram inspiradas por folhagem verde pegajosa.
A designer, que há seis anos deu início à moda das misturas loucas de padrões digitais, já se afastara da sua norma. Mas esta escapadela submarinha, começando numa passarela coberta de lascas vulcânicas refulgentes, situava-se a um oceano de distância das suas coleções anteriores.
Tinha também indícios do Drowned World de Alexander McQueen. Mas o extraordinário trabalho artesanal criou uma atmosfera intensa, com a pré-história a transformar-se em continentes e oceanos, e criaturas marinhas bordadas agarradas a corpetes, enquanto serpentes e peixes mitológicos compunham joalharia metálica.
O público aplaudiu o processo de nascimento da Terra, expresso em cores e texturas, quando fissuras de padrões bordados num corpete e tons de verde mar se metamorfoseavam em corais mais luminosos ou azul marinho.
O milagre de moda a que aqui assistimos foi a temática não representar um conceito louco, sendo interpretada sob a forma de roupas contemporâneas, desde vestidos justos a tops, saias e calças. Poderia haver um vestido rendado sem alças reluzindo como se tivesse sido mergulhado em água ou um vestido em rede de pesca de padrão florido enfiado por baixo de um elegante casaco clássico. Não foi apenas o azul marinho a marcar a nova ordem mundial, mas também as decorações floridas e a abertura de um corpete assemelhando-se ao interior de uma concha.
Houve poesia neste desfile, o que foi um tributo à coragem de Mary – e à sua convicção de que, para chegar à costa da moda contemporânea, é necessário mantermo-nos na crista da onda.