A modelo de traços angulares dos anos 60, Penelope Tree, relata a sua história desde David Bailey às crianças do Camboja.
Gosto da ideia de uma roupa que faça mudar tudo, de algo tão essencialmente trivial como a moda alterando toda uma vida.
Penelope Tree, a angulosa criadora da imagem da década de 1960 – que conserva as suas maçãs do rosto esculpidas e figura de espeto – sentou-se à conversa com Sarah Mower no Festival de Port Eliot Festival e recordou a noite – e o vestido – que mudou o rumo da sua existência em 1966.
Como se viu nas imagens com grão captadas pela sua nanny em Nova Iorque, o vestido usado por Penelope Tree, na altura com 16 anos e cuja silhueta correspondia na perfeição ao nome – não era uma obra de alta costura. Mas enquanto ela recorda a noite em que se vestiu para o famoso baile Black and White organizado por Truman Capote em 1966, aquele vestido em jersey elástico com mais aberturas do que tecido deixou os adolescentes solitários, desajeitados e rebeldes “cheios de expetativas”.
Analisado hoje “a sangue frio” (como diz o notório título do romance de Truman Capote), o vestido não parece tão inspirador, mesmo sendo aquilo que Penelope descreve como “um decote nas costas até à cintura com alças de esparguete”. A sua memória de chegar ao Plaza Hotel numa noite de mau tempo, vestindo um casaco grande e protegida por um guarda-chuva gigante, vendo os grandiosos vestidos de baile e as orelhas de coelho angorá usadas neste período de grande tensão histórica marcado pela guerra no Vietname, é apenas o princípio da história.
As personagens de Hollywood, as feras políticas nova-iorquinas e os europeus com fortunas antigas foram todos reunidos por Capote. Penelope Tree descreve como foi levada para a pista de dança pelo fotógrafo da alta sociedade Cecil Beaton, impecavelmente vestido. Outra memória que conserva é de Mia Farrow dançando noite dentro com o seu guarda-costas porque Frank Sinatra “não era de danças”.
Penelope Tree pareceu-me sarcástica, mas sincera, quando a vi sentada numa tenda vestindo uma camisa com padrões e calças de ganga. Os espectadores procuravam a sombra de uma árvore gigante enquanto ouviam Sarah Mower a desfiar a história de uma criança solitária, enviada para um colégio interno aos 14 anos, ignorada pelos pais e separada dos irmãos mais velhos.
Contudo, a antiga modelo, agora com 64 anos, falou também sobre a sua liberdade enquanto “pobre menina rica” vivendo na fronteira do dinâmico mundo musical de Nova Iorque, que reunia Bob Dylan, Joan Baez, Lou Reed e Aretha Franklin.
“Era tudo muito excitante”, comentou. E essa descrição poderia igualmente ter-se aplicado a ela própria, porque o Richard Avedon telefonou à editora da Vogue Diana Vreeland na manhã seguinte a tê-la visto no baile.
A carreira de Penelope disparou como um foguete. Ela falou sobre a experiência de ser modelo nos Anos 60, quando as suas maçãs do rosto afiadas e maquilhagem geométrica nos olhos competiam com os de outra modelo gráfica daquele tempo: Twiggy.
No entanto, a maquilhagem que compunha o look era feita pelas próprias modelos em início de carreira e os acessórios eram botas e cintos que vinham dos seus próprios armários. Elas participavam na criação do look – não eram as “bonequinhas” submissas que o nome desdenhoso sugeria.
“Eu adorava receber atenção – estava ansiosa por crescer. Sentia-me especial”, diz Penelope, descrevendo o ambiente londrino da década de 1960.
A conversa aqueceu quando ela falou sobre a sua partida de Nova Iorque, levada de rompante pelo fotógrafo britânico David Bailey, com a mãe cingindo-lhe as mãos no hall de entrada enquanto o casal deixava a casa da família.
Ainda casado com a atriz francesa Catherine Deneuve, Bailey fugiu com Penelope para Londres, para a sua casa de vidro negro cheia de imagens das suas ex-namoradas.
“Podia ter sido muito pior – podia ter sido um Rolling Stone!” diz Penelope, com a sua ironia muito britânica.
Ela recordou os anos passados ao lado de Bailey e a obsessão deste pelo trabalho. Chegavam a casa às 2 da manhã, depois de jantarem com os infames gémeos Kray, gangsters londrinos cuja reputação fazia os empregados de meses tremer, e Bailey abandonava-a para se dedicar ao seu trabalho em Goodbye Baby & Amen – o seu projeto para fotografar todas as pessoas influentes em Londres nos Loucos Anos 60.
E assim terminou. A anorexia, a traição e uma doença dermatológica puseram fim à carreira de Penelope como modelo e ao seu papel como It-girl dos Anos 60.
“É uma daquelas experiências de vida – aprendi muito com ela, faz parte da história de uma pessoa”, diz Penelope. “O meu único arrependimento é não ter acabado a universidade.”
No entanto, construiu uma vida plena de significado, trabalhando com a Lotus Outreach, uma organização de caridade secular fundado por um professor budista. Desde 2002 que a sua missão é apoiar organizações que se empenham contra o tráfico de jovens mulheres atoladas na pobreza, sobretudo no Camboja. Penelope Tree visitou orfanatos, campos de refugiados para mulheres, escolhas, enfermarias com doentes com VIH e muitos outros programas de campo no Camboja.
Regressando ao país quatro anos depois, ficou impressionada com quanto se poderia fazer através da educação das jovens mulheres e essa tornou-se a sua missão pessoal.
E assim foi que a jovem do vestido funky que foi uma breve sensação na década de 1960 se tornou mãe e ativista da melhoria das condições de vida das mulheres.
Numa época marcada por “selfies”, foi refrescante ouvir uma pessoa tão modesta. E descobrir, por detrás da imagem bidimensional de Penelope Tree, uma mulher espirituosa, sábia e amável.