Matthieu Blazy sai das sombras.
Mattheui Blazy, couture designer na Martin Margiela com Raf Simons
Com um toque de exotismo nos tecidos e um matiz erótico em patchworks reveladores de pele, a coleção excecional de Maison Martin Margiela tirou o designer Matthieu Blazy das sombras.
É raro assistirmos ao momento do nascimento de uma estrela na moda. Porém, enquanto Raf Simons, o antigo patrão do jovem designer, abraçava o seu protegido nos bastidores, tornou-se claro que este era o momento de Blazy.
Isso deve-se em parte ao facto de o conceito original de “artesanal” de Margiela, juntando peças aleatórias a peças vintage, parecer adequado ao presente, mas também devido à forma como o designer atual pegou num bordado histórico, comprado num leilão, e o deixou simplesmente com pano para envolver o corpo ou o integrou num patchwork de outros materiais.
“Era de Paul Poiret”, disse Blazy, de 30 anos, explicando como um casaco de padrões inspirado no estilo do período da Regência, da festa de tema oriental dada por Poiret em 1911, foi reutilizado pelos maravilhosos ateliers Margiela e mostrado em conjunto com uma saia prateada, decorada com moedas.
Parece complicado? Talvez, mas a fabulosa perícia das 16 horas de trabalho dedicadas àquele único conjunto, como detalhada nas volumosas notas do programa, mostrava os seus resultados sobre o corpo feminino. Parecia tão fácil. O desfile até teve um momento naïve e encantador, quando um sinal a dizer “I love you” de uma festa infantil surgiu num corpete em forma de coração.
O início foi muito “Margiela”: uma saia branca, com algumas decorações douradas (que eram, na verdade, joias vintage do designer Line Vautrin, da década de 1940), e as botas em algodão brancas que figuraram ao longo de todo o desfile.
No entanto, a combinação dos tecidos, por vezes deixando pequenos espaços através dos quais a pele espreitava sob o material transparente, deu-lhe uma nova dimensão. Um casaco camel de grandes dimensões, composto por pedaços de tons subtilmente diferentes, destaca-se como exemplo do comum tornado excecional.
Algumas peças possuíam um exotismo oriental. E o vestido bordado com lírios, inspirado num quadro de Van Gogh, era simplesmente adorável.
É compreensível que Renzo Rosso, cuja empresa Only the Brave está por detrás de Margiela, queria manter o designer nos bastidores – sobretudo porque o designer fundador da marca raramente mostrou a cara. Mas não é possível manter tamanho talento escondido.