‘A memória é uma parte importante do nosso futuro.’ – Pierpaolo Piccioli
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O desfile de Valentino, que encerrou a temporada de alta costura do inverno de 2014, foi romântico, gracioso e muito no espírito do recente renascimento da casa.
Nos bastidores, quadros pré-Rafaelitas de artistas como Alma-Tadema estabeleciam o tom do ambiente, juntamente com imagens de deusas romanas com pedaços de pano transparentes envolvendo os seus corpos nus.
Esta estética reaparecia no desfile, de forma bastante literal, sob a forma de vestidos etéreos revelando – delicadamente – muita pele.
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“Deusas pagãs, Roma Imperial, uma beleza genuína”, comentou Maria Grazia Chiuri ao lado de Pierpaolo Piccioli enquanto descreviam a atitude da dupla.
A nova Valentino tem gozado de grande influência na moda, trazendo de volta a noção da privacidade feminina. Têm-se visto mangas compridas e vestidos castos um pouco por todo o universo da moda.
No entanto, também tem persistido uma constante base subjacente de realidade, que frequentemente não se encontrou no desfile de alta costura.
Para começar, as cores. Havia tanto branco integral, como se incorporado das estátuas romanas, utilizado em vestidos de dia castos, embora os caules de flores pretos ao estilo Art Nouveau sobre uma saia branca tornassem o look chamativo.
Foi difícil encontrar casacos de inverno, à exceção de um sobretudo verde que se confundia com a vegetação fresca do plano de fundo, e uma criação emplumada, que possuía todo o dramatismo de um fato de ópera.
Havia outros abrigos, feitos de tapeçarias, como se tivessem sido roubados a peças de mobiliário históricas. E a sensação de o passado se tornar cada vez mais evidente num vestido de superfície floral estendendo-se até aos pés.
As sandálias rasas entrançando-se perna acima enquadram o desfile como uma espécie de lenda romana – certamente não numa Paris encharcada em chuva.
“A memória é uma parte importante do nosso futuro”, disse Pierpaolo Piccioli.
Mas e a história da Valentino, o designer fundador que passou quase meio século a fazer roupas para deslumbrar e conquistar os seus clientes privados? Afinal, é essa essência da alta costura. As roupas que desfilaram na passarela, frequentemente românticas, não pareciam nada adequadas com Kim Kardashian, no seu vestido justíssimo do século XXI, sentada na primeira fila.
Depois houve Valentino, a marca, que sofreu uma recuperação avassaladoramente jovem sem nenhum dos abanões e dramas sugeridos por esta escolha de palavras. Com efeito, esta é provavelmente a casa de moda antiga com um processo de transição mais suave para novas mãos.
Existe seguramente um próximo capítulo para os gestos graciosos e suaves da atual dupla de designers. E talvez eles possam argumentar que já podemos encontrá-lo na sua linha de pronto-a-vestir.
Valentino apresenta a essência e a dicotomia da alta costura da atualidade. Para o cliente? Para a imagem? Para a fantasia – ou de verdade?