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Suzy Menkes
international vogue editor

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Suzy Menkes discute a pressão sobre as princesas europeias contemporâneas e o modo como são julgadas pelas objetivas.

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Da esquerda para a direita: Catherine, Duquesa de Cambridge, numa festa no jardim do Buckingham Palace, este mês; A Princesa Diana em 1997, o ano em que morreu; Letizia de Espanha no seu primeiro compromisso a solo enuqnato rainha, numa visita ao Museu do Prado, em Madrid. © getty images

 

As princesas da Europa estão obcecadas pela imagem.

Olhei para uma foto da nova Rainha de Espanha, Letizia, sentada com um impecável fato branco, ao lado das suas angelicais filhas. E apeteceu-me chorar.

A minha emoção não foi devido à coroação do novo Rei Felipe VI.  Nem estava interessada no designer que criou o vestido da  sua mulher. Aliás, não estava particularmente interessada neste último.

Mas senti o desgosto, o mesmo que sinto por toda esta geração de princesas europeias, que são inteligentes, escolhidas por amor e não pela linhagem – mas eternamente destinadas a ser vistas como um cabide.

Há mais conversa de circunstância sobre as suas roupas, silhuetas, as alegadas rinoplastias ou outras trivialidades do que sobre as questões e as causas às quais se dedicam há já uma década.

Eu culpo a princesa Diana – ainda que a responsabilidade seja do seu legado, e não dela. A Princesa de Gales fez um tão bom trabalho, desde as campanhas pelo tratamento da Sida e remoção de minas, ao apoio a crianças com leucemia, e foi, no entanto, mais caracterizada pelo seu carisma, e particularmente pela beleza e pelo que vestia, do que pelas suas ações.

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Esquerda: “Diana Tímida”, a Princesa de Gales durante uma visita à Austrália em 1985. Direita: “Divorciada confiante”, Diana na festa daVanity Fair na Serpentine Gallery, em Londres, 1994. O famoso “vestido preto da vingança” foi um espetacular golpe da princesa – usou-o na noite em que o Príncipe Carlos admitiu o adultério, na televisão. © getty images

 

Diana, aristocrática, com uma educação básica e carente de amor e apoio, foi inteligente o suficiente para usar as suas roupas como um mural. A tranformação de “Diana Tímida” a jovem mãe, mulher traída, divorciada segura de si e, em última instância, uma superestrela, foi deliberadamente refletida na sua aparência.

Mas o legado desastroso de princesa preocupada e envolvida nas suas causas, uma princesa que seria uma avó de 53 anos no dia 1 de julho deste ano, tem aliciado a nova geração de princesas a fixar-se no espelho.  Focaram-se na aparência, algo que Diana tão brilhantemente manipulou, seguindo o chamamento dos ecrãs de televisão e das fotos de jornais. Os seus propósitos tornaram-se agora na impossível tarefa de ser a nova Lady Di.

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A princesa Grace e o Príncipe Rainier III do Mónaco durante a cerimónia de casamento na Catedral Saint Nicholas, no principado, 1956. © getty images

 

Vi o filme ‘Grace of Monaco’, largamente abordado pela crítica, e apercebi-me que o conceito de princesa enquanto estrela de cinema começou com um exemplo verídico: o casamento de Grace Kelly com Rainier do Mónaco, em 1956. Na altura, a apresentação de Sua Majestade era uma visão de Hollywood em seda, diamantes e penteado, fixando o padrão de estilo da sua época.

Hoje, a imagem é vista através de uma lente de smartphone. Letizia, enquanto visitava o Museu do Prado em Madrid, esta semana, na sua primeira iniciativa oficial como rainha, parecia de facto esbelta. Mas vê-las na vida real, como acontece com a Rainha Rania da Jordânia, é olhar para pequenos passarinhos, reduzidos a uma silhueta feita para a TV.

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Da esquerda para a direita: Rania, que se tornou Rainha da Jordãnia em 1999, veste Bruce Oldfield no seu casamento com Abdullah II no Palácio Real em Amman, 1993; O look polido de Rania hoje em dia. © getty images

 

Compare as suas imagens atuais com as dos seus álbuns de casamento e tudo parece ter mudado: figura, bochechas, nariz. É o caso de jovens mulheres, que acabaram de fazer 40 anos, a remodelar-se para a sedenta lente das câmaras.

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A Rainha Máximada Holanda e a Rainha Mathilde da Bélgica numa cerimónia, no início do mês. © getty images

 

Todas as jovens da realeza de hoje em dia – Mary da Dinamarca, Mette-Marit da Noruega ou a recém-coroada Rainha Máxima da Holanda – são magras e esculturais a diferentes níveis. Figuras Reais robustas são apenas encontradas nas gerações que abdicaram do trono, como é o caso da Rainha Beatriz da Holanda, cuja silhueta é similar à da falecida Rainha-Mãe da Grã Bretanha.

Kate Middleton faz parte da nova geração. Foi de estudante atlética a princesa magrinha e, agora, depois de mostrar a sua barriguinha logo após o nascimento do Príncipe George, que faz um ano no mês que vem, regressou ao corpo elegante, em fotografias, e magríssimo na vida real.

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Da esquerda para a direita: A Duquesa de Cambridge num formal Alexander McQueen, no início deste mês; e a usar jeans num estilo mais descontraído para ver o jogo solidário de Polo do Príncipe William. © getty images

 

A duquesa de Cambridge está usar a sua inteligência – tal como o Príncipe William, terminou o curso na Universidade de St. Andrews, na Escócia – para criar uma persona através das roupas que escolhe. O vestir couture e depois high street, com Alexander McQueen num dia e Zara no outro, envia uma mensagem: “Posso ser realeza – mas continuo a ser simplesmente a Kate”.

Alguma da culpa para os holofotes estarem no vestuário, mais do que nas ações, deve estar em nós – os editores de moda que são rápidos a julgar, espicaçados por uma blogosfera de sequiosos críticos via smartphone.

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Da esquerda para a direita: Charlene Wittstock em 2006 como nadadora, antes do seu casamento em 2011 com o Príncipe Alberto do Mónaco, em 12011; a Princesa Charlene do Mónaco grávida, em Monte Carlo, no início deste mês.   © getty images

 

Ainda que saibamos que todas as princesas, da sul-africana e suprema nadadora Charlene do Mónaco à nativa da Tasmânia Mary da Dinamarca e à belga aristocrática Rainha Mathilde, tiveram causas que apoiaram, é muito mais fácil comentar o seu guarda-roupa do que o seu contributo.

Letizia, por exemplo, está envolvida em várias iniciativas solidárias: pesquisa para doenças raras ou o apoio aos programas de nutrição da Organização Mundial de Saúde. Charlene do Mónaco apoia causas relacionadas com crianças e que envolvam a segurança na água.  Mary da Dinamarca financia a Fundação dinamarquesa de Pesquisa para o Cancro e ainda estudos de distúrbios raros.

Talvez nos seus próprios países estes projetos sejam largamente conhecidos. Mas, em termos globais, os únicos comentários que colam são a citação de Karl Lagerfeld sobre como Kate podia ter sido a irmã mais nova de Mary.

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Kate Middleton, com o filho e herdeiro do trono ao colo, o Príncipe George, e Mary da Dinamarca, com a filha, a Princesa Josefina. Ambas têm uma abordagem similar à sua aparência enquanto realeza. © getty images

 

O que está mais nas notícias? Tem havido incontáveis questões acerca de quando Charlene e Alberto do Mónaco iriam começar uma família. Agora o burburinho escalou para a dúvida sobre se Charlene estará grávida de gémeos.

Ah, a maternidade! O anacronismo da monarquia moderna é que ainda é o destino e objetivo de uma princesa que chega à realeza (como tem sido desde os tempos antigos) ter um filho ou dois. É-lhe pedido que gere ‘um herdeiro e um suplente’ que garanta a sucessão real.

E ainda assim, não é o suficiente num mundo de selfies e Instagram. Uma vez mãe, uma princesa sente que tem de ter uma varinha mágica para recuperar da gravidez e regressar à sua silhueta original – tal como com as estrelas de Hollywood. Ficar magra para as câmaras tornou-se uma obsessão.

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Da esquerda para a direita
: uma jovem Princesa Victoria da Suécia em 1997 e já como mãe, com a filha, a Princesa Estelle, este mês. © getty images

 

A única personalidade real a admitir um distúrbio alimentar (além de Diana e a sua bulimia) é a Princesa Victoria da Suécia, que sofreu de anorexia em 1997, mas agora parece uma saudável jovem mãe. Talvez seja significante o facto de ser, ela própria, a herdeira do trono, e não princesa por afinidade.

Há boatos que apontam que Letizia é anorética. E a sua silhueta fraca de hoje é bem diferente da da poderosa apresentadora de televisão Letizia Ortiz Rocasolano antes do seu casamento em 2004.

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Esquerda: Letizia como princesa de Espanha, em 2004, o ano em que casou com o Rei Felipe VI; e à direita, uns dias ntes de se tornar Rainha de Espanha. © getty images

 

Colombe Pringle, que foi 10 anos diretora da revista sobre social e realeza francesa Point de Vue, seguiu as novas princesas e viu as mudanças dramáticas.

Perguntei-lhe porque é que a realeza mais jovem se tornou obcecada com a sua aparência.

“Todas querem ser estrelas de cinema – e aperceberam-se que as fotografias podem fazer-te parecer gorda”, opinou Colombe, que é agora jornalista da televisão francesa.

Na visão de Pringle, a jovem realeza vê-se como parte de uma mudança social mais abrangente.

“É a primeira geração para toda a gente”, diz. “É a primeira vez que as revistas só falam de it bags. Que Cannes é sobretudo sobre a passadeira vermelha. Estas raparigas são como cabides com diamantes nas orelhas”.  

Pringle, que fez da revista algo mais inteligente e político que uma tradicional publicação real, viu Carla Bruni evoluir de Primeira Dama de França a um ambulante cartaz de promoção de joias Bulgari.

Colombe até admite que o cabelo de Kate Middleton parece-se mais com um anúncio a um champô da Head&Shoulders que a um penteado real.

Então, o que reserva o futuro a estas princesas de classe média, sem o sangue azul a correr-lhes nas veias?

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Leonor,Princesa das Astúrias, herdeira direta do trono, em rosa, e a sua irmã Princesa Sofia, em azul, com a mãe, enquanto o pai é coroado Rei de Espanha. © getty images

 

A grande mudança histórica é que o primogénito, rapaz ou rapariga, está agora em linha para o trono desde que as regras sobre a sucessão real se alteraram.

E, por acaso feliz, aparte do exemplo do Príncipe George, quase todas as princesas tiveram meninas primeiro. Por isso, a Infanta Leonor de Espanha, agora com 8 anos, será Rainha um dia por direito próprio, bem como a princesa Estelle da Suécia, Ingrid da Noruega (filha da Princesa Herdeira Mette Marit), ou Catharina-Amalia, filha da Rainha Máxima da Holanda.

Isso significa que um novo séquito de meninas crescerá e tornar-se-á num grupo de confiantes princesas reais e depois rainhas, conhecidas pelo que fazem – e não pela sua aparência?

Isso é que seria um conto de fadas real.

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Da esquerda para a direita: as Princesas Alexia, Ariane e a sua irmã mais velha, a herdeira direta ao trono, a Princesa Catharina Amalia da Holanda, sob o olhar atento dos pais, o Rei Willem-Alexander, a Rainha Máxima da Holanda, e a sua avó, a outrora Rínha Beatrix.  © getty images

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Vogue International Editor Suzy Menkes is the best-known fashion journalist in the world. After 25 years commenting on fashion for the International Herald Tribune (rebranded recently as The International New York Times), Suzy Menkes now writes exclusively for Vogue online, covering fashion worldwide.

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