Seja a Gwyneth Paltrow a falar dos paparazzi, o casamento de Kim e Kanye ou o aparecimento de Kate (Moss ou Middleton), o rio de comentários no Twitter é infindável.
Uma das duas Kates foi acusada de usar um uniforme de hospedeira da Virgin Air quando saiu do avião na Nova Zelândia. A outra Kate, sedutora aos 40 anos, estava supostamente a mostrar todas as rugas resultantes dos seus anos loucos de festa.
A Nicole Kidman, na passadeira vermelha de Cannes, foi desprezada por parecer a Princesa Grace do Botox. E a Kim, com o veu look de Versailles, foi apontada como só decote e sem classe.
Nicole Kidman na premiére de “Grace of Monaco”, em Cannes
A internet mostra a sua cara feia enquanto crítica de Moda. Se há algo maldicente para ser escrito em 140 caracteres ou menos, há sempre alguém disponível para fazê-lo – sobre o vestido que assenta mal ou os instáveis enormes saltos altos.
Um comentário simpático sobre como uma determinada celebridade está bonita é tão raro quanto um diamante de 24 carates (e até isso foi tido como ‘vulgar’ quando George Clooney encontrou finalmente a sua cara metade).
Eu tenho uma perceção muito diferente enquanto crítica de Moda. E no meu novo cargo enquanto International Vogue Editor, aqui está o meu mantra: nada de maldicência.
A minha abordagem pessoal no criticismo de Moda é o de que estou tão feliz por ver uma ótima coleção que parece-me necessário dar crédito onde ele é devido. E se o desfile é um flop? Tento oferecer comentários contrutivos – não odiosos. Tem tudo que ver com consideração por oposição à maldade, e a preferência pela análise em vez de uma reação em cima do joelho.
Talvez tenha havido sempre uma ideia – especialmente visto de fora da indústria – de que o mundo da Moda é uma ‘Central de Cabras’.
Estas histórias remontam aos anos 30 de Coco Chanel e dos seus maneirismos masculinos modernos, desprezando a perspicácia de Elsa Schiaparelli, referindo-se à rival como “aquela artista italiana que faz roupa”.
Karl Lagerfeld uma vez chocou a sociedade francesa ao chamar a Yves (Saint Laurent) um ‘pied noir’,ou pé negro, numa clara referência à infância do costureiro passada no Norte de Ádrica. E houve também uma longa disputa entre Giorgio Armani, maestro do minimalismo masculino, e Gianni Versace com a sua sensualidade exuberante.
Apercebi-me primeiramente que a perceção popular do mundo da Moda é de uma maldade espelhada, nos anos 90, quando me pediram para fazer um pequeno papel na ‘Absolutely Fabulous’, a série televisiva de duas colegas de Moda de meia idade, desesperadamente a tentarem parecer cool.
Cheguei ao estúdio e encontrei a Joanna Lumley a ser uma ‘super bitch’, gritando com cabeleireiro, enraivecida porque ele não conseguia reproduzir nela a minha poupa – vulgo ‘pompadour. E ficou ainda mais furiosa quando o seu penteado se desfez na primeira fila, enquanto o meu sobreviveu às filmagens.
Contudo, no mundo real – e não no digital -, as pessoas raramente são desagradáveis. Há um sentido genuíno de ‘família de Moda’ – uma família real ou uma que foi evoluindo.
Os Missoni são o arquétipo. Eu vi o alinhamento dos primos em S. Francisco, o mês passado, quando Angela e a filha Margherita receberam o diploma de doutoramento na Universidade da Academia das Artes, com a matriarca Rosita a liderar a equipa.
Rosita Missoni com a sua neta Margherita
Mesmo sem fazer parte de uma família biológica, como acontece no caso do clã Fendi, Ferragamo ou Ralph Lauren, há equipas tão leais que se o designer saltar do navio – como aconteceu com Ghesquière na Louis Vuitton – a família segue-o.
Karl Lagerfeld e Nicolas Ghesquière partilham uma piada no LVMH Young Fashion Designer Prize
Mas este é o mundo dos verdadeiros jogadores da Moda, onde há contacto físico entre criativos e críticos – mesmo que apenas bianualmente, nos desfiles e eventos sociais satélite dos mesmos.
Alinhamento do júri no LVMH Young Fashion Designer Prize
O crescimento da internet foi descrito como democratização, onde o ‘crowd sourcing’ e as conexões online têm alterado as forças de poder.
Mas participar via teclado, webcam ou feed do Twitter é um monólogo. Ser desprezível, controverso ou simplesmente nefasto é o único modo de um comentador de desktop ou smartphone dar nas vistas. B
Basta olhar para a TMZ e as respostas para as perguntas do “we gotta ask” para perceber que a maldicência é uma fonte de adrenalina para os leitores. E todos aqueles comentários quentes crescem lado a lado com a permissibilidade das oportunidades criadas pelas redes sociais.
O que fazer, se a corrida para o fundo acelera para baixo à velocidade da internet?
Sinto que é frustrante, não o criticismo em si, mas o conceito de que ninguém pode ousar ser diferente, se quiser evitar entrar na lista de mais mal-vestidas. Sou toda a favor da diversidade na Moda, não de uma ditadura; do desfritar, não do limitar.
As cabras têm a vantagem da velocidade – uma responsta não ponderada que pode tornar-se viral e promover um novo blogue. Mas a reação instantânea às nódoas negras de Lindsay Lohan, a ‘barriga elástica’ de Natalia Vodianova depois de ser mãe ou qualquer show de resort de qualquer criador não valem a pena o julgamento repentino.
Natalia Vodianova grávida e depois de ser mãe.
Se as cabras estão a ganhar, os verdadeiros amantes de Moda estão a perder.
A Suzy Menkes na Vogue será anti-cabra.