Desemprego sobe e continuará a subir

16/05/2012
Colocado por: Rui Peres Jorge

A taxa de desemprego em Portugal apresentou um novo recorde: 14,9%. Rui Bernardes Serra, do Montepio, diz que evolução está em linha com o forte agravemento da situação económica e do mercado de trabalho, esperando que o desemprego continue a aumentar ao longo deste ano. Evidencia também o aumento do número de desempregados desencorajados (que não procuram emprego) nas crises que passam a ser considerados inactivos. Paula Carvalho, do BPI, frisa a forte destruição de emprego no último ano, mas também o crescimento do número de inactivos. Bárbara Marques, do Millennium bcp, também salienta o aumento dos inactivos e chama a atenção para a aposta da utilização de verbas do QREN no combate ao desemprego. 

   

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

Bárbara Marques – Gabinete de Estudos do Millennium bcp

 

1. A taxa de desemprego aumentou para 14,9% no 1º trimestre de 2012 (+0,9 p.p. que no trimestre anterior), abrangendo 819,3 mil pessoas, e com maior incidência no sexo feminino (15,1%, +1 p.p. no trimestre e mais 0,3 p.p. que a taxa de desemprego masculina). A população empregada verificou uma forte diminuição de 4,2%, assim como a população ativa (-1,3%), decorrente da posição atual do ciclo económico e sugerindo a intensificação das tendências de emigração e envelhecimento gradual da população. A população inativa voltou a aumentar expressivamente (+1,6% no trimestre) por transição de uma elevada percentagem de pessoas desempregadas (13,8%), revelando a menor predisposição na procura ativa de emprego no atual contexto.

 
2. A diminuição homóloga do emprego foi superior à diminuição verificada no PIB no trimestre (-2,2%), o que demonstra a prevalência de níveis de confiança empresarial relativamente baixos, com manutenção de esforços de racionalização de custos e de defesa da produtividade por parte dos empregadores, fator determinante para correção dos desequilíbrios da economia portuguesa. A produtividade aparente do trabalho terá subido cerca de 2 p.p. face ao trimestre homólogo. Contudo, a conjugação deste contexto com o desfasamento padrão entre a evolução da atividade económica e variação do emprego sugere a manutenção da taxa de desemprego em valores acima dos 15% nos próximos trimestres.

 

3. De referir que está prevista a reafectação das verbas do QREN, num valor entre os 400 e os 600 M€, para medidas de apoio ao emprego jovem (segmento cuja taxa de desemprego atingiu os 36,2%), que deverão começar a ser implementadas este mês. A concretização da expectativa de afetação de cerca de 70 mil jovens, i.e., ~10% da população desempregada, poderá atenuar significativamente a evolução negativa do mercado de trabalho.

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do banco BPI

 

1. A taxa de desemprego vai ao encontro da nossa previsão anual, de 15% em média para este ano. Dadas a quebra de série no último trimestre de 2011, as comparações homólogas não são tão válidas, pois efectivamente com a nova metodologia o agravamento poderia não ser tão elevado (2.5 p.p. face ao trimestre homólogo). Ultrapassando esta questão, as tendências no mercado de trabalho são efectivamente de agravamento e preocupantes. Alguns sinais desfavoráveis:

 

1.1. A queda do emprego, menos 4.2%, em mínimos absolutos desde 1998;

 

1.2. Analisando os fluxos entre estados no mercado de trabalho, uma percentagem significativa quer dos empregados quer dos desempregados transitou directamente para a inactividade, respectivamente 4.4% dos empregados e 13.8% dos desempregados no no 4º trimestre de 2011.

 

1.3. A população activa continua a encolher e cresce o número de inactivos, mais 57 mil pessoas que no trimestre homólogo. Destes, destaca-se o aumento do número de domésticos, reformados e, sobretudo, outros inactivos (cerca de +40 mil individuos), dos quais alguns deverão ser desencorajados; ou seja, face à pioria no mercado de trabalho, as pessoas optam por ficar fora do mercado, não procurando activamente colocação.

 

1.4. Neste contexto, a queda da taxa de actividade é preocupante: 60.8% da população com mais de 15 anos, o patamar mais baixo desde 2000; caso este afastamento do mercado de trabalho adquira contornos mais permanentes poderá afectar o produto potencial, dada a perda de aptidões que essa situação envolve.

 

Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio

1. Segundo o INE, a taxa de desemprego estimada para o 1º trimestre de 2012 foi de 14.9%. Este valor é superior em 2.5 pontos percentuais ao do trimestre homólogo de 2011 e em 0.9 pontos percentuais ao do trimestre anterior. Trata-se de um valor em linha com a nossa previsão (15.0%). O agravamento da situação do mercado laboral que se tem vindo a assistir resulta da situação recessiva em que se encontra a economia portuguesa, em resultado do conjunto de medidas de ajustamento com que a economia se está a confrontar, devendo o pico máximo da taxa de desemprego ser atingido somente entre o final deste ano e o início do próximo.

 

2. Esta subida da taxa de desemprego resultou simultaneamente de um aumento do número de desempregados, como já tinha sido visível nos dados mensais dos desempregados registados nos centros de emprego, e de uma redução do emprego, com INE a referir que, entre as atividades dos serviços, a maior diminuição foi observada nas atividades do comércio por grosso e a retalho, do alojamento, restauração e similares e da educação. Redução que tem vindo a ser também visível nos índices mensais de emprego divulgados pelo INE com base na informação fornecida pelas empresas. É sabido que o inquérito ao emprego, em que a taxa de desemprego constitui provavelmente o número mais mediático, não utiliza a informação dos referidos índices e dados mensais, mas antes a informação recolhida junto das famílias.

 

3. Por conseguinte, é normal que existam discrepâncias, como de resto sucedeu no 4º trimestre em que o agravamento da taxa de desemprego acabou por ser bem superior ao que era sugerido pelos referidos indicadores. Até porque a contribuir para estas discrepâncias está a categoria dos “desempregados desencorajados”, que sendo indivíduos que se encontram sem emprego, não são tecnicamente considerados desempregados pelo facto de, por exemplo, não terem procurado trabalho nas últimas 4 semanas, caindo dentro da categoria da população inativa. Em momentos de crise, em que é bastante difícil encontrar trabalho, é normal que o nº de “desempregados desencorajados” suba, aritmética que per si contribui para uma redução artificial da taxa de desemprego. A este propósito refira-se que do total das pessoas que se encontravam desempregadas no 4º trimestre de 2011, 30.7% saíram dessa situação no 1ºT2012, sendo que 16.9% se tornaram empregadas e 13.8% transitaram para a inatividade, em parte engrossando a categoria dos desempregados desencorajados.

 

Rui Peres Jorge