Questão de perspetiva
Os incêndios voltaram e de forma cruel. É difícil dar grande importância ao desporto quando temos amigos obrigados a abandonar a casa, que nos ligam a chorar, sem saber se mais tarde vão ter algo além da roupa que levam no corpo. Percebo agora melhor o triste comportamento dos clubes e as suas guerras de alecrim e manjerona, quando há partidos políticos que usam os números de mortos numa das maiores tragédias de que há memória no país para fazer chicana política. Assusta-me, confesso, que se possa descer tão baixo. E se estou habituado a que todos os dias adeptos vilipendiem Bruno de Carvalho, Pinto da Costa ou Luís Filipe Vieira, conforme o clube que defendem, assumo que me assusta muito mais que gente que devia ter mais do que dois dedos de testa use argumentos destes em política. Ficámos surpreendidos quando Trump foi eleito nos Estados Unidos e pensámos quão tontos eram os locais em escolhê-lo. Mas são vários os sinais por cá de que uma catástrofe semelhante nos pode calhar em sorte. Teremos o que merecermos. A maioria de nós, pelo menos.