Já não se vê luz lá ao fundo
O SPORTING TEM JOGADORES MAS NÃO UMA EQUIPA. E DEPOIS DA HUMILHAÇÃO QUE FOI O VIDEOTON O QUE MAIS PODE ACONTECER?
O Sporting viu-se ontem numa encruzinhada onde tem chegado tantas vezes nos últimos anos e com tudo para seguir o mesmo caminho. Certo? Errado? É sempre difícil dizê-lo e na hora do adeus cada um aponta as suas razões. É legítimo e natural. Mas há coisas que saltam à vista na atual situação e que merecem reflexão.
Godinho Lopes poderá estar prestes a mandar embora o segundo treinador do mandato. Número pouco abonatório para um presidente que queria devolver o futebol aos dias bons e que ditará precipitação na hora de julgar quem treina. Mas será justo dizê-lo nesta altura?
Confesso que não gostava de estar na pele do líder. Os leões praticam mau futebol, não se percebe qual o onze base, há dificuldades mesmo para identificar o meio-campo e em 9 jogos oficiais esta época ganharam dois. Na Liga, em 15 pontos possíveis somam seis. Faz sentido manter um projeto em que não se vislumbra qual a ideia para a equipa, em que os jogadores saltam do onze para a bancada, onde quem tem qualidades inegáveis parece ter desaprendido a sua arte?
Afinal, o presidente também merece algum crédito. Godinho foi buscar dinheiro não se percebe onde para retocar a equipa, deu a Sá Pinto reforços quando eles não pareciam possíveis e deixou-o escolher colaboradores, tanto próximos como na formação, de forma a reforçar a ligação ao clube. A verdade é que depois de tudo isto o casamento está a falhar e as desavenças – leiam-se maus resultados e exibições – saltam à vista. A humilhação na Hungria será a última gota de água?
A separação vai custar, como custam sempre, porque ninguém o desejava. Aliás, se o treinador do Sporting não se chamasse Sá Pinto, há muito que teria sido corrido. Mas hoje, olhando para o que foi feito até aqui, provavelmente o melhor para ambas as partes é mesmo o adeus. Para o clube, porque na equipa não se vê luz ao fundo do túnel e a queda pode ser ainda maior. Para o treinador, porque se manterá como símbolo do leão e com margem para continuar a carreira sem mácula noutras paragens. Antes que seja tarde.
Texto publicado na versão impressa de Record de 5 de outubro de 2012