Não é para todos
São muitos os pais que hoje em Portugal tentam proporcionar aos filhos uma prática desportiva saudável desde cedo. Não é fácil. Os horários a que a sociedade nos obriga não facilitam, mas com maior ou menor dificuldade lá se vai conseguindo. Claro que tudo isto depende muito de condicionantes que vão desde ao onde se vive até ao dinheiro que se tem. O desporto em Portugal é para todos, mas como a saúde, a justiça ou algo mais simples como a alimentação, quem não é obrigado a contar o dinheiro ao fim do mês tem mais facilidades.
Entre os miúdos que começam a praticar desporto desde novos, alguns apaixonam-se pela competição e daí a passarmos fins de semana a acompanhá-los, a vê-los crescer, a senti-los vibrar com o que fazem vai um passo. Mas há um reverso da medalha a que ainda não estou habituado, confesso. A incapacidade de federações desportivas e Estado se entenderem em cargas horárias e calendários que permitam a um jovem que gosta de praticar desporto, estudar como qualquer outro da sua idade. Perdoe o egoísmo mas dou um exemplo pessoal. O meu filho mais velho acaba este ano o ensino secundário. Aluno de quadro de honra na escola pública tem o último exame a 28 de junho. A preparação para a época desportiva da equipa a que pertence arranca 12 dias depois, a 10 de julho. Assim, aos 18 anos, terá 12 (!) dias de férias. Uma situação que se repete desde os 16 anos. Isto é, perdoem-me, criminoso. Um incentivo ao abandono escolar se olharmos às condições dadas a quem pratica desporto de competição. Nem imagino o que será na universidade.
Texto publicado a 10 de junho de 2017