Perceberam que morreu mais um?
Morreu mais um ser humano antes de um jogo. O que torna, confesso, o jogo em si em coisa pouco importante para mim. E quero acreditar que para um grande número de pessoas. Mais uma maioria silenciosa. Porque não vão para a rua gritar a insatisfação com o atual estado de coisas. Mas, como eu, proíbem os filhos de ir à bola. Não só por medo. Respeito pela vida humana. Ontem, nas redes sociais não foram poucos os adeptos de ambos que me confessaram ter sido o jogo do very light no Jamor a última vez que foram a um estádio. Compreendo.
A morte do adepto italiano nada teve a ver com o futebol em si. Gente que se encontra às 3 da manhã para andar à pancada com a desculpa de ser ultra não merece perdão. Mas também não merece morrer. Merece sim um país que se digne a olhar para um problema real: os bandidos que se escondem hoje no meio das claques e ao abrigo do poder dos clubes vão praticando crimes sem castigo. É óbvio que as claques têm de ser legais. Já. Mas só isso não resolve o problema. O comportamento dos Super Dragões ou da Juventude Leonina mostra-o. Importante é parar os energúmenos que festejam mortes. Que se encontram para batalhas. Que destroem cadeiras nos estádios. Que assaltam postos de gasolina. Porque estão estes animais acima da lei é algo que me escapa.
Bruno de Carvalho e Vieira perderam uma boa oportunidade para serenar os ânimos. Um fez um convite impossível de aceitar, o outro resolveu chamar demagogo, mentiroso compulsivo e populista ao homólogo. A sério? Logo ontem? Perceberam que morreu mais um?
Diz que houve dérbi. Benfica feliz com empate que sabe a vitória, leão queria mais mas não soube. Ontem ninguém merecia vencer. Por tudo.
Texto publicado em Record a 23 de abril de 2017