No tempo em que os “animais” falavam era assim
Não resisti e reproduzo aqui um comentário no Facebook do meu velho amigo Gonçalo Pereira Rosa, diretor da NG Portugal, a propósito do tempo em que os animais falavam no futebol:
Houve um tempo em que era possível juntar quatro craques da bola numa fotografia sem ter de pedinchar autorizações aos clubes e aos empresários — os únicos agentes conhecidos vendiam seguros. Sem ter de mendigar autorização à Federação para usar o relvado do Jamor. Sem ter de negociar acordos imbecis com o X, que só vai se o Y não for porque ele é patrocinado pelo sponsor rival, com o W, que só vai se a fotografia for tirada exactamente a meia distância entre o Porto e Lisboa, ou com o Z, que até gostava de aceder, mas está impedido pelo presidente de confraternizar.
Era o tempo dos bigodes farfalhudos e dos cabelos cortados no barbeiro uma vez por mês. Das camisolas pirosas, justas e iguais para todos. Dos equipamentos sem nomes de patrocinadores e iguais de ano para ano. Das bancadas de cimento, sem nomes de cervejas. Das botas pretas e indistintas, sem tons dourados ou amarelos. Das bolas que ensopavam com a chuva. Dos jogadores tratados pelo apelido. E sobretudo dos craques como Nené, Costa, Oliveira e Matos, que não amuavam, nem remetiam os jornalistas para as suas páginas de Facebook e Twitter.
Gazeta dos Desportos, Setembro de 1981.
(A fotografia deve ser do Lobo Pimentel, mas não juro.)