Entrevista ao Marquês
Serenados os ânimos ali junto ao Parque Eduardo VII, aproveitamos para chegar à fala com o Marquês.
BnA – Está-me a ouvir aí em cima senhor Sebastião José de Carvalho e Melo?
MP – Perfeitamente meu amigo. Já não o via há muito tempo.
BnA – É verdade. Nos meus tempos de mouraria passei aqui algumas vezes e até marquei encontro aqui com uma namorada mas enganei-me e fiquei três horas à espera dela no Rossio. Na altura ainda era novo nesta cidade e só conhecia relativamente bem o Bairro Alto e o Camões.
MP – Por acaso ainda me lembro da moça aqui junto ao meu pedestal. Esteve mais de três horas a ser galada por marialvas mas resistiu. Chegaste a encontra-la?
BnA – Sim, encontrei-a ali junto ao bar que servia piratas e pernas-de-pau. Por acaso até casei com ela.
MP – Muito me contas. O que demandas?
BnA – Bem, queria saber como viveste a festa do Benfica.
MP – Estava com algumas reservas mas correu muito bem. Não caiu ninguém de cabeça e só me fizeram meia dúzia de pichagens. A malta portou-se bem e até me vestiram a camisola do João Gobern.
BnA – Tens a certeza que era a camisola do Gobern? Não seria a do Pedro Guerra?
MP – Agora deixaste-me na dúvida.
BnA – Bem, deves estar satisfeito, tu que acabaste como um proscrito seres agora o centro das festas dos clubes lisboetas…
MP – Tem a sua piada, de facto. Até porque tenho bastante concorrência aqui na capital. Aqui bem perto, por exemplo, há o Elefante Branco e o Camões tem muitos mais bares por perto, para além do Fernando Pessoa.
BnA – Ok mas esses eram poetas e a malta do futebol gosta de coisas mais à bruta. Como tu.
MP – E se fosses chamar bruto ao Salazar?
BnA – Mas esses por ora ainda não tem estátuas embora tenha sido considerado o maior português do século XX e não dava muito jeito ir festejar a Santa Comba.
MP – Olha, é um orgulho ser eu o escolhido. No fundo, salvei o país de um rei louco, controlei as coisas quando Lisboa tremeu, foi inundada e ardeu, e promovi o casamento entre portugueses e índios, o que deu origem ao melhor país do Mundo.
BnA – Há uma coisa que sempre te quis perguntar: onde estavas no 25 de abril?
MP – Estava aqui, pá. Raramente saio daqui. Só o fiz uma vez, quando os Stones vieram a primeira vez a Alvalade.
BnA – Qual á a figura do futebol português com a qual mais se identifica?
MP – António Fiúsa.
BnA – Perdão?
MP – É presidente do clube da terra cujo símbolo melhor representa o país, sendo ainda um elemento definidor da latinidade dos nossos machos. Tal como eu, é meão na altura mas grande nos seus objetivos. Ser presidente campeão no Benfica e no FC Porto é relativamente fácil. Difícil é ser presidente do Gil Vicente e ganhar o caso Mateus.
BnA – E Pinto da Costa?
MP – Também gosto dele mas nunca o vi aqui a festejar. Ah e tem um certo gosto pelo Brasil.
BnA – Luís Filipe Vieira?
MP – Aproveito para lhe dar os parabéns e para lhe lembrar que há outros heróis nacionais para além do Eusébio.
BnA – Bruno de Carvalho?
MP – Adoro esse miúdo. Já aqui esteve pendurado, quando era da Juve Leo. Mas precisa de começar a fumar menos.
BnA – Como é, vamos ser campeões do mundo no Brasil?
MP- Só pode, amigo. Fomos nós que fizemos o país maravilhoso. O que aconteceu pouco depois de mim com o D. João VI foi uma história muito mal contada. Ele não fugiu para o Brasil. Ele apenas fugiu de Portugal.
BnA – Tens alguma mensagem para os portugueses?
MP – Essencialmente, acalmem-se e conduzam mais devagar. Tenho visto aqui coisas incríveis. Esta malta está sempre atrasada, é?
BnA – Pelo visto.
MP – Só mais uma coisa. Diz aí ao pessoal para não me mijar no pedestal pois fica um cheiro horrível no verão e é falta de respeito.
BnA – Bem, obrigado por este bocadinho. Até para o ano.
MP – Fica a saber que também tenho uma praça no Porto.
BnA – Ok.