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Após mais de 30 anos nestas vidas, muitos foram os treinadores que conheci e passei a respeitar não apenas pelo papel que representam no futebol. Tive a sorte, por exemplo, de conhecer José Maria ..." /> Uns vão de elevador, outros vão de Mota - Bola na Área - Record

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Uns vão de elevador, outros vão de Mota

6 Setembro, 2014 579 visualizações

Após mais de 30 anos nestas vidas, muitos foram os treinadores que conheci e passei a respeitar não apenas pelo papel que representam no futebol.

Tive a sorte, por exemplo, de conhecer José Maria Pedroto, nos seus últimos tempos no FC Porto. Quando também conheci Félix Mourinho, pai do Zé, então no Rio Ave, ou Fernando Cabrita, no Penafiel, e até Juca, nas seleções. Homens feitos no futebol mas todos eles homens que iam para além do chuto na bola. Mas foi Joaquim Lucas Duro de Jesus, vulgo Quinito, o treinador e a pessoa que mais admirei – era, se calhar um tanto como eu, uma espécie de outsider. Tanto treinava de chinelos como fato de gala. Não ressacava, não ressentia, era genuíno, e entrevista-lo era sempre um prazer. Está hoje retirado, um tanto esquecido, depois de ter conhecido o pior que esta vida nos pode dar: a morte de um filho. Lembro-me dele quase todos os dias e tenho saudades desses tempos.

Não vou aborrecer mais os leitores com as minhas memórias. Vou direto ao assunto de hoje: José Mota.

O atual treinador do Gil Vicente é o grande responsável pela renovação possível que está a ser feita na seleção, graças aos jogadores que potenciou no V. Setúbal, de onde não saiu propriamente bem, para atravessar um deserto de 12 meses sem trabalho. Curiosamente, ainda não vi ninguém sublinhar este facto. Aqui fica.

José Mota fez no meu Leixões um trabalho extraordinário – fomos sextos, vencemos o FC Porto no Dragão (o que para nós é quase como vencer o campeonato) e fizemos história. Que Mota me perdoe mas não posso deixar de colocar o seu trabalho atrás do de Carlos Carvalhal. Com ele não subimos mas fomos à final da Taça de Portugal e quase entramos na fase regular da Taça UEFA quando a equipa estava na 2.ª Divisão B. Todos sabem por que razão o Leixões de Carvalhal não foi mais longe, graças à tal rua escura de que o nosso treinador falou.

Voltando a Mota, vejo nele os primeiros treinadores que conheci. Homens do futebol, com ideias próprias, caráter, ranho e raça. Uma espécie rara nos tempos que correm, onde quase todos os treinadores sobem de elevador, encostados a empresários que trabalham hoje as carreiras dos treinadores como ontem se trabalhava a dos jogadores – o que se entende pois através de um treinador podem transferir-se muitos jogadores!

Como diz um amigo meu, também treinador, campeão nacional nessa condição, “hoje os treinadores são todos maus mas como os bons não têm lugar uns acabam por ganhar aos outros e até parecerem bons treinadores”. Se calhar há aqui algum exagero, mas…

José Mota, sei-o bem, é um treinador que respira futebol, que tem uma excelente relação com os jogadores e que está a demorar a aprender que neste mundo às vezes devemos ser hipócritas, não mostrando os nossos sentimentos.

Mas é assim que gosto do Zé. Pode não ser o especial de corrida mas faz-me lembrar os primeiros treinadores que conheci, verdadeiros monstros, homens grandes, sábios da bola, personagens cheias de conteúdo, romances vivos…

Sei, por isso, que José Mota vai ter sucesso no Gil Vicente, um clube de que gosto especialmente porque é dirigido por António Fiúsa, um presidente também à moda antiga.

Se calhar há aqui um tanto de saudosismo mas é algo a que também eu tenho direito e não apenas a artroses e lapsos de memórias próprios de quem vai a caminho dos 53 invernos…

Bom fim semana!