Somos Milhões
Aníbal Augusto Milhais andou a disparar cunhetas de bala nas fronteiras de La Lys com a metralhadora a que dava o nome de “Luísa”, bem perto do estádio, em Lens, onde Portugal bateu a Croácia. Ficou conhecido por soldado “Milhões”.
Aníbal é um dos muitos pequenos grandes heróis da História de Portugal.
Como o foi Geraldo Geraldes, o Sem Pavor, quando conquistou Évora e a entregou a Afonso Henriques.
Como o foi aquele soldado que defendeu uma praça lusa na Índia tirando os próprios dentes para fazer acionar o mosquete.
Ou aquele que veio da Índia até Lisboa num bote à vela.
Para não falar em todos os que tombaram em Atoleiros ou Aljubarrota. Nos que expulsaram os franceses no início do século XIX. Nos que se tornaram os primeiros colonos europeus, na ilha caboverdiana de Santiago.
Foram milhões, são milhões, muito para além dos 11 milhões que dizem que somos.
Reparem na jogada do golo à Croácia.
Um cigano roubou a bola, esta foi entregue por um miúdo nascido numa ilha do Atlântico Norte, a mesma foi transportada por um negrinho de origem santomense, que a entregou a outro menino com raízes em Cabo Verde, com esta a acabar nos pés de novo no tal menino nascido no Funchal e com o lance a ser concluído por quem o iniciou. E o melhor jogador em campo, para quase todos nós, acabou por ser um rapaz nascido no Brasil.
Portugal não tem milhões, anda de chapéu na mão, mas tem estes heróis. Disse Portugal? Desculpem, pois este país é um Mundo e o Mundo é este país.