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Agora na Liga somos todos amigalhaços

6 Fevereiro, 2015 1338 visualizações

A história da Liga de Clubes está ainda por escrever (escreve-se tanto porcaria e de isto ainda ninguém se lembrou) e por isso ouso fazer aqui uma pequena resenha.

A Liga de Clubes Profissionais de Futebol nasceu no início dos anos 80, na sequência de diversos movimentos associativos, e teve em Lito Gomes de Almeida e João Aranha os seus pais fundadores. A Liga não pegou propriamente de estaca mas só na década de 90 conseguiu finalmente emergir, numa tentativa dos clubes para terem uma voz ativa num ambiente dominado pela todo-poderosa FPF. Nesse período, Pinto da Costa e Manuel Damásio chegaram a assumir a presidência do então organismo autónomo mas foi Valentim Loureiro quem afirmou definitivamente a Liga como um player do futebol português. O major trouxe a arbitragem e a disciplina para a Liga, mandou fazer a sede no Porto e só não continuou porque foi apanhado nas escutas do Apito Dourado, por causa de jogos do Gondomar, equipa então na 2.ª divisão B, ou seja, fora do círculo do futebol profissional.

Valentim Loureiro – o tal que, um dia, assumiu a hipoteca pelo Estado do balneário e da retrete dos árbitros do Estádio das Antas – deu dimensão à Liga de Clubes e foi na condição de presidente da assembleia geral que viu Ricardo Costa acusar o Boavista, o FC Porto e o U. Leiria de crimes de coação e tentativa de corrupção. Nessa altura a Liga já era presidida por Hermínio Loureiro.

Hermínio Loureiro não foi um político que caiu de paraquedas na Liga. O agora membro da comissão executiva da Liga e vice-presidente da FPF sempre foi um homem do desporto, o que o qualificou para secretário de Estado da respetiva tutela. Hermínio deu à Liga o que lhe faltava: dimensão técnica e comercial, competência, qualificação de quadros. Fez um trabalho notável mas acabou por ser vítima do Apito Final pois quem levou com ele não lhe perdoou o facto de ter dado carta branca à comissão disciplinar.

Criou-se uma situação delicada na Liga mas foi mais ou menos bem resolvido com Fernando Gomes. O antigo administrador da FC Porto conseguiu mesmo continuar a avançar no capítulo da sustentabilidade. Mas a vacatura de Gilberto Madaíl na FPF tirou-o demasiado cedo da LIga. Com ele foram para a FPF os principais quadros da Liga, com destaque para Carlos Lucas e, sobretudo, Tiago Craveiro.

A vitória de Mário Figueiredo nas eleições contra o candidato, digamos, do sistema (António Laranjo) baralhou todas as contas. Figueiredo surgiu como paladino da defesa dos interesses dos pequenos e médios clubes. Principal objetivo, retirar à Olivedesportos o monopólio dos direitos televisivos e conseguir a centralização dos mesmos, duplicando, no mínimo, as receitas dos clubes pequenos e médios. Era um desafio enorme pois é sabido como é difícil mudar o que está instituído.

Mário Figueiredo escolheu caminhar por terreno minado.

O que aconteceu todos sabem: foi perdendo apoios, os patrocinadores começaram a fugir e a FPF passou a ver a Liga com um olho no burro e outro no cigano.

A Liga passou a ter um papel primeiro de outsider, logo a seguir de pária.

O processo culminou no dia em que Mário Figueiredo, temendo um golpe de Estado, mandou fechar a Liga a cadeado e fez com que os principais dirigentes reunissem na área de limpeza da bomba de gasolina que confronta com a sede da Liga.

Figueiredo passou a ter os dias contados mas ainda conseguiu estrebuchar antes de sair.

Luís Duque ocupou o seu cadeirão com a bênção de FC Porto e Benfica. O Sporting, que apoiou quase até ao fim Figueiredo, mantem-se na expetativa. Sem surpresa, os clubes deixaram de pressionar a Liga quanto aos prémios devidos e o campeonato passou a ter um patrocinador de peso, a NOS. Na cerimónia que fechou o contrato, parte da elite do dirigismo português esteve presente. Nem Fernando Gomes, presidente da FPF, faltou. E Joaquim Oliveira, o alvo favorito de Figueiredo, sentou-se na 2.ª fila do auditório.

A Liga de Clubes segue o seu caminho. Falta saber se perdeu uma oportunidade para equilibrar um campeonato cada vez mais desigual e para se libertar de velhos automatismos. Vai ser difícil sair deste paradigma enquanto os clubes que estão a seguir aos grandes dependerem destes para, como se viu na última janela de mercado, reforçarem as suas equipas e sobretudo realizarem vendas que de outro mundo jamais conseguiriam fazer. Quanto aos clubes do fundo da tabela, têm de se continuar a contentar com os 2 milhões/ano da Olivedesportos e com a saúde financeira dos seus mecenas.