Em nome do Rosa
Recordo perfeitamente o dia em que Valentim Loureiro, então presidente da Liga, anunciou penalizações para os clubes que emprestam jogadores e que os impedem de jogar por outras equipas quando chega a hora do confronto direto.
Aconteceu na então sala de reuniões da sede da Liga, agora transformada numa casa de banho. Estava sentado bem perto do major e quando ele acabou de falar, com um grande sorriso nos lábios, lancei a pergunta:
– Mas os clubes não podem sempre alegar que os jogadores estão lesionados ou que ficam de fora por opção técnica.
O major fez uma curta pausa e explodiu na minha direção com dois murros na mesa:
– Lá estão vocês a levar tudo para o mal!
Já se passaram alguns anos e muitas histórias de jogadores emprestados que se lesionam na semana crucial, tendo acontecido mesmo o caso de um que se lesionou no caminho para o estádio, e não foi há muito tempo!
Agora, o foco está em Miguel Rosa e Deyverson, dois dos jogadores mais influentes de “Os Belenenses”, sobre os quais o Benfica tem direitos, que ficaram de fora no dérbi da Luz.
Não vou perorar sobre as razões das ausências pois presumo sempre que o leitor é pelo menos tão inteligente quanto eu.
O que posso garantir é que nada vai acontecer.
Não há forma de provar que os jogadores foram afastados intencionalmente, para dar vantagem ao Benfica, ou melhor, para retirar vantagem aos “Os Belenenses”.
Lito Vidigal disse o seguinte sobre o assunto:
– Um mês antes já se estava a falar sobre esses jogadores e sentimos que estavam condicionados e decidiu-se que não fariam parte da convocatória.
Ou seja, está esclarecida a opção que no caso não foi técnica mas sim profilática. Ver o assunto pelo ângulo do condicionamento dos jogadores é uma perspetiva lógica. Recuando a Abelardo, castrado pelo seu amor a Heloísa, mas autor medieval que às vezes importa recuperar, tudo pode ser lido à luz da lógica ou da dialética. Seja a existência de Deus, seja a não existência de Deyverson e Miguel Rosa num jogo de futebol.