Mercado comanda o futebol
Como muito bem sublinhou o meu amigo Luís Paulo Rodrigues, os jogadores são “produtos financeiros”. Quem o diz é Mangala, um dos jogadores que movimentaram o último mercado. “Trazemos valor para as empresas. Cada um de nós tem um valor de mercado, o qual pode subir ou descer consoante o nosso rendimento”, disse ainda o central francês que passou pelo FC Porto e agora no City, o maior clube de Manchester, desde há algum tempo na mãos de investidores, pois também o velho futebol inglês foi assaltado por dinheiros brancos. A ilusão dos adeptos permanece mas já poucos são os que acreditam nos beijinhos ao emblema. Os adeptos já perderam mesmo a paciência e nem perdem tempo a decorar logo os nomes dos novos jogadores. Os clubes portugueses, como se sabe, estão altamente endividados. Mas continuam a vender e a comprar como se não houvesse amanhã. A nova lei impõe trocas e vendas permanentes porque os empresários, e aqueles que estão a jusante e a montante, precisam de fluxo para faturar. E os jogadores, com carreiras curtas, aproveitam e vão na onda. O fluxo de capital é contínuo mas as empresas de que fala Mangala não prosperam mas tornam muita gente próspera. Não são só os empresários a beneficiar de tudo isto mas todo um contingente que trabalha na promoção dos produtos e alguns desses muitas vezes encontram-se nos lugares mais inesperados. Esta é uma situação que nos faz lembrar o que aconteceu nas grandes empresas de especulação de capital. Tudo rola e tudo parece cor-de-rosa enquanto dura. Um dia a bolha vai rebentar. Mas, tal como acontece no mercado de capitais, aí quem se vai tramar não foi quem conseguiu mais valias a transacionar mas quem plantou e fez crescer os tais produtos. A toxicidade deste mercado é brutal e o futebol tal como o conhecemos já era. O espetáculo a que estamos assistir é a um perigoso regabofe que depois de descredibilizar o belo jogo (e vamos ver o que vai acontecer com esse negócio das apostas) ameaça também acabar com ele. Se calhar estou a exagerar e espero estar enganado. Mas tudo isto cheira violentamente a esturro.