O meu 25 de abril
Tinha 12 anos quando aconteceu a revolução dos cravos (aqui na foto tinha menos)
Não havia Internet, a Olá só tinha um cardápio de 12 gelados, a televisão ainda era a preto e branco e salvo erro só tinha dois canais, ainda usava calções e frequentava o então 2.º ano do liceu nuns pavilhões mal amanhados no jardim do Palacete do Visconde de Trevões (em Matosinhos).
Já sabia o que era a PIDE e tinha uma vaga consciência das limitações à liberdade dos portugueses.
O ano que se seguiu foi bastante animado. O Partido Comunista ocupou o liceu e achei piada faltar às aulas que tinha noutro lado e invadir o reduto para, enquanto não parava de correr, dirigir uma caralhada aos comunas.
Pouco depois, a polícia de choque carregou mas nesse momento já estava na mercearia do senhor João a comer uma sandes e a beber um pirolito.
A minha maior proeza no ano do PREC não foi, porém, essa. Frequentava o 3.º ano numa escola que hoje é uma pensão e decidi pintar as paredes com tiradas humorísticas, a marcador grosso. Nunca me denunciei nem fui denunciado mas a coisa esteve preta (e não vermelha, também). Chumbei o ano com quatro 15 e três 7.
Conheci a malta do COPCOM. Todas as semanas iam à padaria do meu tio Francisco, a “Leixões”, assar cabritos. Era malta fixe mas mal barbeada.
Quando a coisa acalmou, filiei-me na UDP no café Onda. O objetivo passava por conviver com as miúdas da UDP mas não passou disso.
Durante alguns anos, a minha mãe assustava-se quando ia à caixa do correio e verificava que estava lá uma carta da UDP para mim.
Já o licei ia adiantado quando voltei a ter contacto com a política. Vá-se lá saber como ou porquê um candidato da Covilhã ou de Castelo Branco à presidência da República, ou um proto candidato, entrou em contacto comigo e com os meus colegas Pedro Alhinho e António Cima (hoje distintos advogados da praça portuense) e estivemos uma tarde inteira com ele no Majestic a discutir estratégia. Foi só essa tarde. Voltaria ao Majestic para um pequeno-almoço com Mário Soares, no âmbito do MASP, na sua 1.ª campanha, mas cheguei atrasado.
Alguns dos meus amigos entretanto divertiam-se no PS de Matosinhos mas nunca tive tempo para essas coisas pois desde os 16 anos que ocupava os meus fins de semana a cobrir jogos de iniciados, juvenis, juniores e regionais para “O Comércio do Porto”.
Provavelmente passei ao lado de uma grande carreira como político. Não na UDP, obviamente.
Foi há 38 anos e era um menino. É apenas disso que tenho saudades.