Marta-Gomes: o confronto Benetton
Apesar de boicotado por alguns paladinos do jornalismo português, os mesmos que se deixam facilmente encantar por qualquer canto de sereia na mira de conseguirem umas tantas migalhas que transformam em exclusivos serôdios, Carlos Marta lá apresentou hoje a sua candidatura à presidência da FPF.
Marta corre contra o tempo mas se se apresentou à corrida é porque tem algumas garantias de que pode ser bem sucedido.
Aliás, quando o atual presidente da câmara de Tondela se posicionou logo a candidatura de Gomes acelerou a turbinagem na busca de apoios que garantissem desde já a eleição.
Segundo o jornal do regime, estará apenas a um voto de conseguir essa eleição.
Será que está?, eis a questão.
No dia 10 de Dezembro iremos saber se facto há verdadeira correspondência entre aqueles que declaram apoio e o os que votam.
Esta fractura nas eleições federativas era perfeitamente evitável.
O futebol português tem demasiados problemas para ser ainda prejudicado por lutas de marcação de poderes.
O novo regime jurídico abriu caminho para a autonomia de sectores e para uma gestão independente mas os vícios antigos, está visto, são difíceis de extirpar.
Hoje, assistimos ao paradoxo, por exemplo, de vermos o Benfica não apoiar Fernando Seara, declarado benfiquista e apoiante de LFV, para o mais alto cargo da FPF: a presidência da AG.
Mais, o Benfica apoia, isso sim, e com toda a força, um vice-presidente do FC Porto que chegou a ser apontado como sucessor de Pinto da Costa e um líder para a Comissão de Arbitragem da Liga, Vítor Pereira, declaradamente sportinguista. E ainda: o Benfica apoia também o homem cuja candidatura foi anunciada em 2.ª mão por Pinto da Costa após um célebre Conselho de Presidentes no qual o porta-voz dos clubes da II Liga – o tal grupo que sugeriu a candidatura de Gomes – praticamente ficou a falar sozinho quando o líder portista se aproximou dos microfones…
Já sei que nesta altura podem dizer que o clubismo nada tem a ver com isto. Mas o problema é precisamente este: tem.
Nesta altura, ninguém está a apoiar projetos – todos estão a apoiar compromissos pessoais.
Acredito que quer Fernando Gomes quer Carlos Marta – desculpem mas não consigo contabilizar António Sequeira nesta guerra – vão ser capazes de se libertar desta lei mortal dos compromissos. Ambos têm estatura e capacidade para ultrapassar a teia dos interesses comezinhos. Mas é mau o que está a acontecer…
Bem, pelo menos já temos todos a certeza que estas eleições não serão um passeio para ninguém e que a democracia não será uma treta. Não me lembro de eleições para a FPF com duplos concorrentes e se calhar aqui já está o futebol português a ganhar.
Quanto ao Conselho de Arbitragem, não sei o que aconteceu para que muitas opiniões mudassem depois da extrema fragilização de Vítor Pereira na sequência do caso João Ferreira. A verdade é que mudaram e parece que não foi preciso mandar alguém jantar ao “Sapo”.
Vamos ter duas listas. Uma com o inevitável Vítor Pereira e o seu dócil séquito, a outra com Luís Guilherme na liderança e Paulo Costa como estratego. A arbitragem portuguesa bem podia dispensar nesta altura a contagem de espingardas mas infelizmente a nova lei não a autonomizou totalmente e coloca-a nas mãos daqueles que apenas reclamam arbitragens isentas mas que se calam e riem à socapa quando os árbitros erram a seu favor.
O que é que isto vai dar? Para já, muitas manobras de bastidores, muita chicana, muitas promessas e a certeza de que não haverá lugar para todos. Aí, sim, começará a verdadeira batalha dos votos.