O buraco da Madeira e o do Benfica
Ok, eu sei que posso estar a exagerar mas a verdade é que quer o Benfica, quer a Madeira continuam sem conseguir sair de uma espiral deficitária.
Reparem no valor das acções do Benfica, que se despenharam da marca psicológica de 1 €, as tais que em 2007 Joe Berardo estava disposto a comprar por 3,5 €.
De então para cá muito coisa mudou. O país das maravilhas desapareceu, Sócrates já não corre à volta do Kremlin ou do Pentágono e uma auditoria descobriu um buraco de mais de 6 biliões de euros na Madeira, um buraco capaz de afundar um continente mas que, curiosamente, nem sequer fez estremecer a Pérola do Atlântico, onde Jardim continua a discursar em jantaradas bem regadas.
Gosto de Jardim. Fiz-lhe um dia uma entrevista, para a saudosa “Gazeta dos Desportos”, e só não levei para casa um charuto porque na altura não fumava. Sempre que vou à Madeira sou conduzido por um taxista que, a caminho do Funchal, faz questão de apontar uma vivenda que não é melhor que a minha e de dizer: “É aqui que mora o nosso presidente”.
Não acredito que Jardim seja um daqueles políticos que metem a mão no saco. Não o culpo pelo “buraco” mas obviamente também não valido as barracadas e o despotismo de que se queixa quem vive na ilha e não concorda com o seu Dux.
Quanto a Vieira, é indesmentível que se está a esforçar bastante para recolocar o Benfica no caminho da glória mas os oito anos que leva na presidência do Benfica apenas deram dois títulos. O que sabe manifestamente a pouco.
Entretanto, a SAD benfiquista acumulou um passivo na ordem dos 380 milhões de euros. O que não é nada comparado com o tal buraco.
A marca Benfica tem um valor elevadíssimo e os seus activos também mas não deixa de ser estranho ver o Benfica a não conseguir recuperar. Sobretudo para quem conhece bem as qualidades negociais de Luís Filipe Vieira, cujo percurso empresarial foi mais rápido que o Space Schuttle a partir do Cabo Canaveral, como me dizia outro dia o mecânico da inspecção de automóveis onde o meu carro chumbou por ter os pneus carecas.
Vieira não é propriamente um personagem simpático. Mas continua a fazer o seu caminho embora ainda não tenha percebido que não tem que ser como Pinto da Costa. Porque Pinto da Costa só há um e só haverá um. Quando LFV perceber que não é por aí que deve ir, talvez o Benfica recupere o tempo perdido. Enquanto tal não acontece, o ex-presidente do Alverca vai entretendo o povo com imitações de sua santidade, como hoje aconteceu quando disse que Vítor Pereira já provou que tem capacidade para treinar qualquer clube.
A ironia não é uma arte. É um dom.