O VIGÁRIO
Hoje percebemos todos que o seleccionador nacional não tem um leque vocabular muito vasto, depois de ter tentado bombardear com insultos um jornalista de “O Sol” que o entrevistou por telefone e que, pelos vistos, gravou a conversa. Talvez porque está habituado a falar com gente que conhece bem até onde pode ir, tudo indica que Queiroz permitiu-se a um desabafo, desculpando com o amadorismo latente da estrutura federativa a campanha decepcionante da equipa de todos nós na África do Sul. “O Sol”, e muito bem, não vai pôr na praça pública o som da gravação, invocando protecção de fonte. Portanto, neste momento temos a palavra do seleccionador contra a do jornalista, sendo pouco crível que este último tenha inventado uma manchete ou entendido mal o que o treinador disse. Ora, Carlos Queirós não disse qualquer novidade. A “porcaria” que o próprio detectou precisamente no dia em que perdeu o apuramento para um Mundial, no rescaldo dos tais triunfos no Mundial de juniores (a propósito, alguém sabe quem foi o último campeão mundial de sub-20?), nunca terá sido devidamente varrida e o seleccionador passou como cão por vinha vindimada sobre o assunto quando voltou a emergir na condição de treinador da selecção nacional. Cumprido um apuramento penoso, lá veio ao Mundial. Não quisemos ganhar nem à Costa do Marfim nem ao Brasil e ganhámos o que era óbvio ganhar. Depois, nos oitavos de final, fomos esmagados pela Espanha. É verdade e tem de ser dito: qualquer selecção da actualidade arrisca a humilhação quando defronta uma equipa ligeiramente desfalcada do Barcelona. Mas até lá não faltaram trapalhadas, desde a história mal contada de Nani, passando pela chamada de Ruben Amorim e pelo perfeito disparate de dar um quarto para cada jogador e ainda um jacuzzi para a vedeta. Quanto às opções durante os jogos, penso que nem é preciso acrescentar o que quer que seja. Ah, tivemos ainda aquela entrevista de Gilberto Madaíl à partida da África do Sul, numa espécie de Guantanamo sacudido por um ligeiro tremor de terra, que acabou por sintetizar o que foi a nossa campanha no Mundial: uma espessa névoa.
E agora? Meus amigos, agora há que ter paciência.
Quem leva com Sócrates é capaz também de levar mais dois anos com Queiroz. Por mim falo, não gostava nada de lhe dar a alegria de fazer a malinha e ir à sua vida com mais 5 milhões de euros na carteira.