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Já tenho aqui referido a escassez de jornalistas seniores nas redações, ou o seu “aburguesamento”, e o exagerado recurso a estagiários impreparados e de memória curta, chamados à primeira linha dep..." /> Quinta do Careca - Record

Quinta do Careca

Uma guerra perdida

31 Março, 2014 0

Já tenho aqui referido a escassez de jornalistas seniores nas redações, ou o seu “aburguesamento”, e o exagerado recurso a estagiários impreparados e de memória curta, chamados à primeira linha depois de lançados às feras sem meios de defesa. Viu-se de novo o resultado dessa realidade quando, num dos nossos canais de TV, se traçou o perfil do desaparecido Adolfo Suárez, o homem que conduziu a Espanha à democracia.

O repórter ignorou, de modo negligente, um momento marcante do percurso do ex-chefe do governo, aquele em que enfrentou, com rara coragem, os golpistas de Tejero Molina que ocuparam, de armas na mão, em 1981, o Congresso de Deputados. A peça de dois minutos foi repetida ao longo do dia, sem que alguém, com mais conhecimento, experiência e talvez pudor, corrigisse, ou mandasse corrigir, o lapso grosseiro.

Por coincidência, na mesma estação, uma reportagem sobre a pobreza, transmitida também “n” vezes esta semana, começava assim: “Passava pouco depois das três da tarde…” Habituemo-nos, a vida é o que é – e acontece que perdemos.

Antena paranóica, CM, 29MAR14

Ancelotti foi-se abaixo

30 Março, 2014 0

Há cinco anos, desde o tempo de Manuel Pellegrini, curiosamente, que o Real Madrid não baqueava em dois jogos consecutivos. Carlo Ancelotti faz, nesse particular, bem pior do que José Mourinho e destrói, em especial, o trabalho realizado pelo treinador português – e que na verdade acabou com a era de Guardiola no Barça – ao permitir que os merengues voltassem a perder o combate psicológico que já tinham ganho ao Barcelona: o de não entrarem em campo assustados com o papão, ou seja, o de atuarem ao mesmo nível mental que os adversários, ainda que o resultado no final não viesse a ser a vitória.

Das quatro partidas para a liga com os dois grandes rivais, o Real empatou uma e perdeu três, sendo que duas das derrotas aconteceram no Santiago Bernabéu. Pode ser-se campeão a falhar nos desafios decisivos? Pode, mas é muito mais difícil.

O último clássico com o Barcelona pôs a nu as velhas fragilidades dos madridistas, bem conhecidas mas que a série de jogos sem perder ia disfarçando, sem que Ancelotti fosse capaz de as anular. Elas vão desde a continuação dos impulsos “suicidas” do intocável Sérgio Ramos – que tantos dissabores têm provocado à equipa – à do choque de egos dos grandes protagonistas, evidente na troca de botas de Bale ou na sua teimosia na marcação do derradeiro livre, com Cristiano a dizer para Marcelo: “Ele quis marcar, o que queres que faça?”

Ancelotti é um monstro do futebol e sabe mais da arte que nós, opinadores, a jogar em “catenaccio”. Mas o seu provável falhanço na liga cai como um raio sobre os detratores de Mourinho, que já embandeiravam em arco com o estrondo do triunfo antes do apito final. São eles, os que prosseguem na feroz defesa dos “vícios” do Real, quem devia confrontar o técnico com os problemas que saltam à vista: não haverá, até no Castilla, um lateral superior a Carvajal? Marcelo, que ataca melhor do que defende, não podia ter ficado no banco? Benzema foi substituído e Bale ficou em campo porquê? Tendo Diego López deixado de fazer as defesas “impossíveis”, não estaria na altura do regresso de Casillas? A ganhar por 3-2, por que recuou a equipa? E se recuou porque não entrou logo Illarramendi para se “colar” a Messi? E por que jogaram o argentino e Iniesta sem marcação, como se fossem dois Manolos? Ai, Carletto, estás a ir-te abaixo é o que é.

Canto direto, Record, 29MAR14

Adolfo Suárez, um herói inesquecível

28 Março, 2014 0

Ganhei, na infância e na adolescência, quando não havia internet e o acesso ao conhecimento ia, para um jovem, pouco além dos manuais escolares, o gosto pelas personalidades históricas, pelos grandes desportistas e atores, e pelos heróis da banda desenhada. Semanalmente, procurava no Cavaleiro Andante ou no Mundo de Aventuras, não só os protagonistas imaginários como a descrição ficcionada do percurso terreno de figuras lendárias.

Para mim, era tão importante seguir o Tim-Tim na América, as sagas de Robin Wood, Zorro, Spartacus e Bufallo-Bill ou as investigações de Blake e Mortimer, como descobrir as intrigas na corte do Rei Sol, saber das malfeitorias de Robespierre na Revolução Francesa, conhecer os desígnios de Baden Powell e a genialidade de Chopin ou vibrar com a mítica rivalidade de Fausto Coppi e Gino Bartali, no Tour, e com o domínio absoluto de Juan Manuel Fangio, na Fórmula 1.

Com o tempo, fui aprendendo a distinguir as pessoas verdadeiramente relevantes dos ídolos de pés de barro e tornei-me mais seletivo nas paixões mas, nos dias que correm, tanto me integro no consenso face à extraordinária dimensão de Nelson Mandela, como não me deixo influenciar por opiniões divergentes e me mantenho fiel à admiração pelos ideais de generosidade de Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro da utopia que largou o conforto do poder alcatifado, em Cuba, para combater o que entendia serem as forças da iniquidade, nas florestas da Bolívia – e lá encontrar o martírio e a morte.

Recordo hoje, com idêntica admiração, Adolfo Suárez, chefe do governo espanhol por cinco dificílimos e tormentosos anos, e agora desaparecido. Mas não o faço pelo seu papel na entrada do país-vizinho no mundo democrático, pois aí a História é fértil em heróis. Inesquecível, sim, é a sua outra coragem, a física, exibida em contexto brutal, num daqueles momentos em que os humanos conhecem os seus limites e mostram de facto o que valem. E no dia 23 de fevereiro de 1981, quando o golpista Tejero Molina, à frente de 200 guardias, entrou no Congresso de Deputados, de arma em punho e a gritar ¡al suelo, al suelo!, só dois valentes não se meteram por baixo das bancadas: Adolfo Suárez e o general Gutiérrez Mellado, que tinha sido seu ministro da Defesa. Não é para todos. Curvo-me perante a memória de um Homem. 

Observador, Sábado, 27MAR14

Não queremos cá senadores

24 Março, 2014 0

Em semana de festa para o “Correio da Manhã” – que completou 35 anos e confirmou o êxito da CM TV – duas más novas se destacaram. A primeira foi a morte de Medeiros Ferreira, que tanto na política como na comunicação social nos deixa um legado de lucidez e sabedoria. Não mais desfrutarmos da qualidade da sua inteligência é uma perda irreparável.

A segunda má notícia é a reforma de Mário Crespo, cujo contrato a SIC não renovou, reforçando a tese de que o jornalismo não valoriza os seus senadores. São poucos, infelizmente, aqueles que se mantêm na profissão para além dos 65 anos, por vezes por culpa própria, outras porque quem tem o poder de decidir os acha demasiado velhos.

É verdade que Crespo nunca foi uma figura consensual e colheu tempestades de ventos que semeou. Mas vê-lo na SIC Notícias era a garantia de estarmos com alguém que fazia bem o trabalho e sabia do que falava. Mas não é menos certo que os tempos vão estranhos, com a experiência e a credibilidade esmagadas pelo arrivismo-google e pelo papaguear ignorante. Coisas da vida.

Antena paranoica, CM, 22MAR14

Final portuguesa à vista na Liga Europa

23 Março, 2014 0

Se não se encontrarem nas “meias”, Benfica e FC Porto têm boas hipóteses de ser os finalistas da Liga Europa. Até a Juventus, o mais difícil dos possíveis adversários, não é superior a águias e dragões, pelo que o que importa agora é ultrapassar nos “quartos” os dois melhores opositores que poderiam ter calhado, ambos sétimos classificados nas suas ligas. A sorte no sorteio foi um bom sinal porque, não chegando, sem ela não há campeões.

Do lado do AZ Alkmaar, teoricamente a equipa menos forte desta fase, o perigo maior para o Benfica virá do treinador dos holandeses, Dick Advocaat, velha raposa saída da escola do lendário Rinus Michels. Mas não só, uma vez que a irregularidade das exibições dos encarnados, retomada com a pálida atuação frente ao Tottenham, ameaça causar-lhe dissabores. A grande estirada de Oblak, quase no final da partida de quinta-feira – que evitou o 1-3 e uma carga de trabalhos – ficará na memória dos jogadores como alerta para o que não se pode fazer na alta competição: dormir à sombra da bananeira. E bom será, também, que os avançados “substituam” rapidamente os centrais na obtenção de golos, pois nem sempre as “torres da Luz” conseguirão resolver os problemas.

Mas irregular mesmo é o Sevilha, que tem o quarto melhor ataque da liga espanhola – só o trio de ouro marcou mais – mas tem igualmente a 14.ª defesa, o que abre boas perspetivas aos azuis e brancos. Numa jornada, os andaluzes são derrotados em casa pelo Celta (0-1), e na ronda seguinte vão a Barcelona ganhar ao Espanhol (1-3). Numa semana, empatam no Vicente Calderón (1-1), e oito dias depois soçobram com o Levante, no Sánchez Pizjuán (1-2). Foram a Camp Nou perder (3-2) com um golo de Alexis, aos 93 minutos, e só venceram no seu estádio o Almeria (2-1), último classificado, aos 92, com um remate de cabeça do inevitável Rakitic.

Se o verdadeiro FC Porto, aquele que tão bem jogou em Nápoles – e com uma defesa de recurso – estiver de volta, a final ficará mais perto. Mas se, ao contrário, regressarem a apatia e a conversa a mais, as camisolas não chegarão para salvar uma época já impossível de esquecer.

Canto direto, Record, 22MAR14

Chegou a primavera

21 Março, 2014 0

1. Há muitos anos que não me recordava de um inverno tão chuvoso, tanto na água que caiu do céu como no martirizado espírito dos portugueses. Talvez a primavera, o sol que reapareceu e a temperatura que começou a subir possam fazer alguma coisa por nós. Precisamos de ânimo, acima de tudo, e a capa plantável desta edição da SÁBADO, além de original, aponta-nos um caminho: o do regresso à terra. E quem sabe, no meio das incertezas que nos rodeiam, se o nosso futuro não passará por aí.

2. O Negócios dava conta, esta semana, de que os reformados se sentem perdidos no labirinto dos cortes, desde a sucessão de roubos às pensões à mudança de regras nas taxas, passando pelos atrasos e pelas salvaguardas retroativas. Nada que nos espante, já que a Segurança Social não se dá ao dever de, ao menos uma vez por ano, entregar aos pensionistas um extrato em que conste o ilíquido a que têm, ou teriam, direito e os vários descontos que lhe são aplicados. Limita-se a depositar nas contas bancárias as verbas resultantes da sua contabilidade secreta, sem dar qualquer satisfação – sendo satisfação, neste caso, um termo totalmente inapropriado. Toma lá qualquer coisa e cala-te, eis o lema da pessoa de mal em que se transformou o Estado.

3. Realizou-se agora o Festival da Canção, um evento que há 40 anos parava o país de parolos que fomos. Apercebi-me da sua irrelevância logo em 1974, quando cheguei a Brighton, Inglaterra, para acompanhar o concurso internacional e verifiquei que, na rua, ninguém sabia da existência da coisa. Parece que ganhou uma canção de Emanuel, o que deixou muito irritados os defensores da lusa qualidade musical. Só nos faltava mais esta grande maçada.

4. O Sporting compreendeu, enfim, que no futebol português é preciso falar grosso para que o sistema abane. E após ter sido prejudicado por diversas arbitragens, acabou por vencer o FC Porto com um golo precedido de ilegalidade. Bem andou o treinador Leonardo Jardim ao reconhecer, no final do clássico, que “isto é como a vida, uma vez acontece aos outros e outras a nós”, ou seja, sublinhou assim o absurdo protagonizado pela sua direção, que pretendia processar judicialmente os árbitros. Depois disso e do erro do auxiliar de Pedro Proença, que levou à vitória sobre os dragões, Bruno de Carvalho vai ter de recentrar a litigância e descobrir novos focos de tensão. Será fácil.

5. A violência das reações ao chamado manifesto dos 70 – que são, afinal, 74 mais Pacheco Pereira – revelam bem o estado de intolerância a que chegou a sociedade portuguesa. Como se não fosse lícito, e mesmo saudável, contrariar a verdade oficial, apontar diferentes caminhos ou simplesmente ter outra opinião. A assinatura num papel volta a ser antipatriótica – como dantes.

6. Já tive filhos, plantei árvores e estou, julgo, a escrever um livro. Para responder ao original desafio da SÁBADO e plantar uma ideia sou forçado a recorrer ao meu lado menos positivo e reconhecer que quando um ex-autarca e ex-cooperativista algarvio empresta 3,2 milhões de euros, que reclama agora, a um clube de futebol liderado por um construtor civil, a criatividade em Portugal bateu no teto. Morrer estúpidos e pobres é o que nos resta. 

Observador, Sábado, 20MAR14

E há 50 anos Osvaldo Silva fez história

18 Março, 2014 0

Faz hoje meio século (ai, ai…) que o Sporting, muito pelos pés deste homem, Osvaldo Silva, venceu o Manchester United por 5-0 (!) e fez história.

Aqui deixo, com um beijo à sua filha Eunice, a foto de ambos, com a parte principal do texto que publiquei neste blog.. há quatro anos (ai, ai, outra vez…).

Este senhor, que vemos na foto com a filha Eunice ao colo, foi um enorme jogador de futebol. Chamava-se Osvaldo Silva e veio do Brasil para integrar a grande equipa do Sporting que na época de 1963/64 conquistou a Taça dos Vencedores das Taças, uma precursora da Taça UEFA e da Liga Europa.

Numa das eliminatórias, os leões foram goleados em Manchester (4-1), pelo Man. United de Best, Bobby Charlton e Dennis Law, com Osvaldo Silva a marcar o golo solitário do Sporting.

Quando tudo parecia perdido, em Lisboa, em 18 de março de 1964, a equipa leonina rubricou uma das páginas mais gloriosas do futebol português, conseguindo eliminar o poderoso MU, que deixou Alvalade vergado ao peso de uma humilhante derrota: 5-0! E quem marcou três dos cinco golos? Adivinhou, leitor: Osvaldo Silva.

Os chefs cabotinos de “Masterchef Portugal”

17 Março, 2014 0

Encarei a estreia da nova série de “Masterchef Portugal”, na TVI, de pé atrás. A nossa tradicional “meia bola e força” dispõe agora de terreno fértil nos orçamentos apertados que tudo condicionam. Bem, quase tudo. Porque na escolha do júri, onde o risco era maior e o falhanço impossível de disfarçar, a aposta foi certeira. É verdade que o pretensiosismo – com Miguel Rocha Vieira imbatível nesse particular – não é fácil de suportar, mas o perfil cabotino dos jurados faz parte do formato, que sem esses “cromos” não teria o êxito que alcançou.

Aquele jeito metade pai e metade carrasco encontra no desempenho de Manuel Luís Goucha o ponto mais alto. O apresentador recorreu à sua velha costela de ator para largar os tiques “clownescos” que são a graça do “Você na TV!”, apanhou o tom egocêntrico de um “chef” de cozinha – que também é – e ajudou-nos com isso a aceitar a presunção de Rui Paula e Rocha Vieira. Neste caso, as audiências não enganam: 1,44 milhões de espetadores fizeram, na noite de estreia, justiça a um excelente programa de TV.

Antena paranoica, CM, 15MAR14

Processar os árbitros é ridículo

16 Março, 2014 0

De vez em quando, ouvimos uns arrivistas a “propor” o julgamento dos responsáveis políticos pelo estado a que o País chegou, como se fosse possível atingir um consenso acerca dos nomes a levar a juízo ou as opções tomadas pelos que alcançaram o poder na sequência do voto popular – certas, erradas ou mesmo parecendo absurdas – não fossem legítimas. Julgar a democracia era, na verdade, o que tal gente gostaria.

Lembrei-me dessa ideia peregrina após a direção dos leões ter decidido avançar com processos judiciais “contra os responsáveis da arbitragem que conduziram a que o Sporting ficasse fora das competições europeias (…) e pela retirada de pelo menos sete pontos no campeonato”. Compreendo a indignação leonina pelos grosseiros erros de árbitros que dirigiram jogos do clube, mas gostaria de ver também referidas, à luz de idêntico rigor e em nome da credibilidade, as partidas em que o Sporting saiu beneficiado, nem que exista só uma. E depois, para que o caso tivesse ponta por onde se pegasse, teria de se provar que houve corrupção, má fé ou associação criminosa para prejudicar objetivamente o Sporting – uma missão impossível.

Bruno de Carvalho tem uma estratégia clara: manter o Sporting e o seu futebol na primeira linha da atualidade. Acabaram os azares, os salamaleques e os paninhos quentes, o que é bom. Mas o caminho é o da renovação das estruturas e não o foguetório cuja repetição conduz apenas à ineficácia e ao ridículo. Lograr acabar, por exemplo, com a espessa manta de impunidade que protege os maus árbitros, com o método corporativo da sua seleção, e com os obscuros critérios que escondem relatórios e definem nomeações, seria um enorme serviço prestado à arbitragem e ao futebol.

Porque o que estraga a melhor modalidade do Planeta são os incapazes: jogadores, treinadores, dirigentes ou árbitros. Todos caem como tordos mal fique exposta a sua incompetência. Todos? Não, num edifício do centro da capital há uns abencerragens que resistem. Enquanto não os tirarem de lá, esta suja realidade de suspeição, asneira e alteração da verdade desportiva não deixará de nos atormentar.

Canto direto, Record, 15MAR14