Quinta do Careca

Telespetadores resistem à boçalidade

28 Outubro, 2013 0

Pela terceira semana, “Factor X”, da SIC, alcançou audiência superior a “Casa dos Segredos”, da TVI. É uma esperança. Entre o programa que explora as capacidades artísticas e aquele que traz à tona o pior do ser humano – com casos de prostituição, violência, mudanças de sexo, piercings no pénis e outras misérias que ultrapassam a imaginação mais delirante – as pessoas preferem surpreendentemente o primeiro.

Surpresa não pela opção favorável ao que é positivo, mas pela tenaz resistência dos telespetadores a sucessivas doses de boçalidade que procuram, sob a aba larga do divertimento, minimizar o valor do trabalho e do talento, e promover a fama do nada. Não é um fenómeno português, a luta pela sobrevivência empurra a “criatividade” para trilhos cada vez mais perversos.

E maior seria ainda a diferença entre o “Factor” e a “Casa” se a produção da SIC tivesse integrado no júri uma personalidade excêntrica, um “cromo” que gerasse audiências. Não sei se temos por cá gente desse calibre. Bem, ter até temos, mas anda tudo a armar na vida política.

Antena paranoica, publicado na ediçãp do CM de 26 outubro 2013

Um clássico mais decisivo do que parece

27 Outubro, 2013 0

Os adeptos leoninos andam eufóricos com o belo início de época da sua equipa, com a volta de 180 graus que mudou o futebol do Sporting e com os 12 golos de Montero nas oito partidas oficiais que disputou – uma média de 1,5 por jogo, é obra.

Duvido que Leonardo Jardim e os jogadores sintam essa euforia. Eles sabem como o futebol é fértil em colocar em baixo, em alguns minutos, o que levou tanto trabalho a transportar para cima. E entrarão no Estádio do Dragão confiantes nas suas capacidades mas ao mesmo tempo conscientes de que é no campo, com competência, e não à mesa do café, com fanfarronices, que se ganham os desafios.

Eles sabem que por muito grande que seja a motivação, serão mais a inteligência e a disciplina tática as armas adequadas para enfrentar um adversário que só está em crise até sair dela, o que pode acontecer já amanhã. Eles sabem que deverão exercer pressão, forte e permanente, quando não tiverem a bola e que terão de fechar, na sua metade do campo, todos os espaços ao FC Porto.

Eles sabem que terão de explorar a velocidade de Wilson Eduardo, Carrillo ou Capel, e a supermobilidade de Montero, para surpreender no contra-ataque, e de manter a concentração elevada nos lances de bola parada. E esperar que um pouco de sorte faça o resto, porque quando as oportunidades terminam nos postes ou os árbitros erram em desfavor não há competência que valha.

Por seu lado, o FC Porto, muito ao contrário do que possa julgar-se, não estará menos motivado. Duas derrotas caseiras para a Champions e uma exibição frouxa com o Trofense para a Taça obrigam os dragões a cerrar fileiras e a encarar este clássico como um confronto decisivo. Perder agora a liderança para o Sporting tornaria ainda mais complicadas as deslocações seguintes: ao Restelo e a São Petersburgo, esta particularmente delicada já que se jogará o futuro europeu.

Conseguirá o fator casa e a maior experiência dos portistas sobrepor-se à melhor forma e ao menor desgaste, físico e psicológico, dos leões? Será hora e meia de afirmação também para Paulo Fonseca e Leonardo Jardim – é hora de mostrar o que valem.

Canto direto, publicado na edição de Record de 26 outubro 2013

Em parágrafos – 4

25 Outubro, 2013 0

1. Poder viver a vida até ao fim só não é perfeito porque a morte, um dia, estraga tudo. E manter a atividade física independentemente da idade é, de facto, magnífico. Só que o corpinho tem um problema: não é de ferro. Atingida a plenitude – e como diz um amigo meu – entra em fase de desconstrução, mais lenta ou mais acelerada, mais tolerante ou mais cruel, mas sempre inevitável. Comecei a praticar desporto cedo e a jogar futebol ainda nos tempos da bola de trapos, no meio da rua, algo que falta hoje aos copinhos de leite em que transformaram os nossos jovens futebolistas. Terminei a carreira aos 55 anos, após um jogo em que vi, em lance banal, outro superveterano de guerra partir um pezinho como se fosse de gesso. Acreditem na eternidade, exagerem na brincadeira, confiem na sorte e depois queixem-se.

2. O Mal voltou. E com ele regressaram as histórias, os casos, as efemérides, a animação televisiva ao jantar dos portugueses. Esta semana, José Sócrates lançou um livro, acantonou de novo as tropas e promete mais do que andar por aí. Assisto às suas renovadas picardias com Santana Lopes e recordo que a SÁBADO nasceu, vai para 10 anos, com os dois como colunistas. Uma década decorrida, aí estão eles. Como diz outro amigo meu: goste-se ou não, eles fazem parte do nosso tempo e das nossas vidas. Ah, pois é.

3. A propósito de livros, uma palavra para Porto – viagem ao passado, obra com a assinatura de Germano Silva, historiador da Invicta e jornalista admirável, de cujos textos se disfruta com prazer. Referência merecida também para Ínclita geração, de Isabel Stiwell, um romance histórico que tem outra Isabel, a de Borgonha, como protagonista, e na prosa limpa e viciante a marca da autora. E termino a ronda na livraria com A noite em que te vinguei, de Luís Norton de Matos, ex-internacional de futebol, treinador e comentador, igualmente jornalista, que se lança agora na ficção, evidenciando um surpreendente ritmo de narrativa que torna a leitura apaixonante. Chapeau! – a dividir por três.

4. Maria Luís Albuquerque deu entrevistas, fez prova de vida política e reforçou a ideia de que quanto maior a conversa menor o acerto. Após meses a tentar convencer-nos da bondade da convergência de pensões e salários do Estado com os privados, o Governo, através da ministra das Finanças, acabou de matar a tese, prometendo que logo que possível tudo será reposto. Portanto, ou se volta a divergir, no que não se crê, ou Dona Maria fala do que não sabe.

5. A ponte de Criz, na foz do Dão, tem a recuperação parada e os operários, desviados para outra obra em Espanha, avisaram familiares e amigos para não a atravessarem porque o colapso está por um fio. Que país de anedota, este.

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 24 outubro 2013. Tema de Sociedade da semana: os seniores e o desporto

Tema do dia: uma decisão precipitada da OA

23 Outubro, 2013 0

A Ordem dos Advogados cancelou a inscrição de Vale e Azevedo por entender que o ex-presidente do Benfica não tem “idoneidade” para exercer a atividade.

Espero que não se trate de uma conclusão precipitada, decidida assim, em cima do joelho e em tão pouco tempo. Será passível de recurso, certamente.

Ricardo e Machete: dois casos dolorosos

21 Outubro, 2013 0

No Belenenses-Olhanense, o primeiro golo dos azuis resultou de um livre de Miguel Rosa que Ricardo parecia ir defender com facilidade. Puro engano, já que o ex-internacional, que chegou a ser uma referência do futebol português, não segurou a bola e, completamente “aos papéis”, deixou-a entrar na baliza – um lance patético. Que saudades do vice-campeão europeu de 2004 e símbolo do Sporting…

Um dia, Ricardo trocou Alvalade por Sevilha, e só o salário aumentado “compensou” a destruição de uma carreira que jamais logrou relançar. Hoje, a triste realidade é que à frente das redes do clube algarvio está apenas um fantasma.

Recordo o grande guarda-redes que foi ao ver na TV a figura “démodé” de Rui Machete, que faz lembrar Mr. Magoo e que não consegue, ao menos, ficar calado. Os repórteres metralham-no com perguntas, ele diz que não presta declarações, mas lá vai balbuciando palavras soltas e penosas. Como no futebol, andar na vida pública para além do prazo de validade termina em tempos de dor. E quanto mais alto se subiu, maior é o tombo.

Antena paranoica, publicado na edição impressa do CM de 19 outubro 2013

Falar de mais é sinal de amadorismo

19 Outubro, 2013 0

Bruno de Carvalho anda eufórico com o belo começo de época do Sporting e aparece já a falar um pouco mais do que devia. Desde a infeliz seta que lançou a Pinto da Costa por causa da idade até à confessada ambição pelo título que levou Leonardo Jardim a afirmar que a ele nunca o presidente veio com essa conversa. É uma roleta russa: se os leões ganharem no Dragão, Bruno será um génio, se perder terá de meter a viola no saco.

Rebocado pelos êxitos do FC Porto, o futebol português evoluiu muito em matéria de competência, a vários níveis, na última década. Mas na comunicação interna e no marketing relacionado com a imagem ainda existem tiques de amadorismo. Um dia, Godinho Lopes surgiu na redação para tentar resolver, e bem, uma questão delicada a que jamais me referirei, tendo aproveitado para me confrontar com um texto publicado dias antes. Procurei explicar-lhe que a opinião publicada não ganhava jogos, nem derrubava presidentes, e aconselhei-o a não sobrevalorizar as críticas e a focar-se, sim, no que urgia então ao Sporting: a subida de rendimento da equipa.

O problema de alguns clubes é que se preocupam mais em controlar as entrevistas dos jogadores do que em falar a uma só voz. E em fazê-lo não por impulso ou como resposta a provocações, mas apenas quando o momento for favorável ao interesse das suas organizações. A gestão dos silêncios não deve ser um capricho dos presidentes ou dos treinadores – eu digo sempre o que me apetece! – antes um ato de inteligência que colha benefícios. Deixar alguém a falar sozinho pode ser a mais dura das réplicas.

Dou comigo a pensar neste tema, tão básico e tão óbvio, ao ver Jorge Jesus prosseguir na defesa da sua conduta no caso do adepto detido em Guimarães, mantendo assim a grande “cena” na ribalta da informação e impedindo o seu estratégico arrefecimento. Terá Jesus indicações de que vai ser punido com severidade, o que seria uma nova anedota, ou estará simplesmente a dar um sinal de que não consegue pôr o Benfica a jogar mais e melhor? É que se não se trata de qualquer dessas situações, a insistência é um erro incompreensível.

Canto direto, publicado na edição de Record de 19 outubro 2013

Simone, uma mulher vendaval

18 Outubro, 2013 0

Simone de Oliveira representa hoje, para o bem e para o mal, um Portugal desaparecido que renasce. É notável como esta mulher de 75 anos foge aos arquivos da RTP Memória, resiste à pacatez da aposentadoria e vence ainda o maior inimigo de um cantor ou actor: o esquecimento. Eu sei que se trata de profissões que garantem aos melhores uma certa imortalidade. Porque podem ter longas carreiras, continuar ativos até tão tarde quanto a saúde lhes permita e legar, aos vindouros, uma marca inapagável.

Mas foram precisamente os aplausos de que se alimentaram, a admiração pública de que desfrutaram e o estatuto que um dia tiveram que, ao dissipar-se, deixaram uma sensação amarga, difícil de ultrapassar e que o abandono pode mesmo vir a tornar insuportável. Vejo amiúde nas televisões esses tristes fantasmas, agarrados ao passado com o desespero próprio de quem não soube envelhecer, viu embaciar o velho brilho de outrora ou simplesmente não conseguiu entender as novas exigências de um mundo que gira a uma velocidade impossível de acompanhar.

Não creio que Simone padeça desse mal. Tem uma personalidade muito forte, egocêntrica, por vezes pretensiosa e que chega a roçar o cabotinismo. Frontal e desbocada, ela nunca viveu no lodo das meias tintas – ama ou odeia, gosta e desgosta, está e não está. Habituámo-nos a aceitá-la assim, seria outra pessoa, e seria banal, se cultivasse a hipocrisia e se vestisse de cinzento. Recordo-me de a ouvir na rádio, há um bom par de anos, num programa que conduzia já não sei em que estação, e no qual tecia considerações – espontâneas, claras, excessivas e sempre definitivas – sobre qualquer tema trazido à antena. Um vendaval.

É verdade que foi uma estrela num país que se esfumou. Recebida em Santa Apolónia, vinda do Festival da Eurovisão, por uma multidão em delírio, famosa igualmente por uma relação proibida com Henrique Mendes, dona de voz poderosa e porte superior, lindíssima mesmo quando o peso a mais tentava inutilmente diminuí-la, Simone recorda-nos, talvez, o pior de tempos infelizes que gostaríamos de esquecer. Sem sucesso, porque os velhos demónios estão de volta, não por culpa da artista, que nos traz, de idêntica forma, a herança positiva que o Portugal maligno nos deixou: o culto de valores morais, a importância do trabalho, o reconhecimento através do mérito.

Sensação estranha esta de se olhar para uma mulher que vem de tão longe, com um rosto enrugado que revela muito da sua autenticidade, e ver não uma velhinha que foi mas uma pessoa que é. Por que o país regrediu? Sem dúvida. Mas também por causa de um temperamento único. Chapeau, Simone! 

Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 17 outubro 2013. Tema de Sociedade da semana: a biografia de Simone de Oliveira

O dia em que até eu fiz greve…

16 Outubro, 2013 0

Pois é verdade, agora que se anunciam greves atrás de greves, caiu por terra, com este recorte de jornal saído dos meus preciosos arquivos, a minha errada convicção de que nunca tinha feito uma greve…

Corria o dia 11 de fevereiro do ano da graça de 1982, quando um grupo de 25 jornalistas do diário “Portugal Hoje” decidiu aderir à greve patrocinada pelo seu sindicato. Já não faço a mínima ideia dos motivos, mas a verdade é que participei na coisa… há 31 anos, ai, ai. E bem acompanhado!


Carta de um leitor anti-António

15 Outubro, 2013 0


From: Armando José Nunes Afonso [mailto:——@sapo.pt]
Sent: terça-feira, 1 de Outubro de 2013 12:44
To: Sabado
Subject: Pensamentos

POUCO INTELIGENTES
Os Portugueses são, muito pouco, ou nada inteligentes, e, a prova desta minha afirmação traduz-se nos resultados e nas reações que houve nas últimas eleições Autárquicas. Isto porque pelo facto de os partidos de esquerda terem oferecido aquilo que não pode oferecer e segundo porque não têm com quê. Ora vejamos:
– Quem paga o Ensino, os Partidos, a Saúde, os Tribunais, a Assembleia da Republica, os deputados, as Autoridades policiais e Jurídicas, as Fundações, os Reformados, os Desempregados, os Sindicatos, Sindicalistas. as Centrais Sindicais, as DÍVIDAS contraídas durante mais de 30 anos.
– SÓ PODE SER ORÇAMENTO DO ESTADO.
– E o que é o Orçamento do Estado? São as receitas que resultam dos Impostos que … MUITO POUCOS CIDADÃOS PAGAM E ALGUMAS EMPRESAS “as poucas pequenas e médias que ainda vão resistindo, porque as grandes, sabe-se como é” mas, o melhor é esquecer.
SERÁ QUE A EUROPA ESTARÁ NA DISPOSIÇÃO DE INVESTIR MAIS NOS PORTUGUESES? TEREMOS NÓS A CAPACIDADE EM DEMONSTRAR A CREDIBILIDADE SUFICIENTE PARA MOSTRAR QUE SOMOS CAPAZES DE COMEÇAR A PRODUZIR (trabalhar)? E mais, QUEM IRÁ PAGAR A FACTURA? Coitados dos Pais do senhor, o tal que oferece tudo, como houve alguém que também ofereceu e depois foi para o bem bom gozar dos rendimentos e mais, que nós CONSENTIMOS O SEU REGRESSO PARA QUE COM A DESFAÇATEZ QUE TODOS CONHECEMOS FALAR NUMA INSTITUIÇÃO PAGA PELO ORÇAMENTO. Desculpem-me mas isto não é de gente minimamente inteligente.

ACREDITEM QUE ESCREVI ANTES DE LER O ARTIGO “OBSERVADOR” de Alexandre Pais
Este ilustre e racional jornalista que muito considero, escreve no seu artigo que a melhor arma da Democracia é o VOTO. 2000% de acordo com ele mas, em DEMOCRACIA. Será que alguma vez a tivemos? Será que se ensinam, desde crianças, os nossos cidadãos a serem DEMOCRATAS? SEREM RESPONSÁVEIS? Será? Tenho a certeza absoluta que não e para isso basta olhar para as reacções democratas dos nossos professores, médicos, jornalistas e políticos.
Pois é senhor Alexandre Pais. Explicou bem o seu raciocínio, é coerente e grande o que pensa mas, votou mal porque o António poderá merecer mas o António, o outro, é um desastre e é muito perverso porque, MENTE e, pior do que isso É INCOMPETENTE.

Armando Afonso