— ler mais..

Terminaram os Jogos Olímpicos no Rio e, como quase sempre sucede quando cai o pano no mais importante evento desportivo do Mundo, ficamos com a sensação de que somos um país irrelevante no context..." /> — ler mais..

Terminaram os Jogos Olímpicos no Rio e, como quase sempre sucede quando cai o pano no mais importante evento desportivo do Mundo, ficamos com a sensação de que somos um país irrelevante no context..." /> Os Jogos Olímpicos não são para Portugal? - Olhos de ver - Record

Olhos de ver

Voltar ao blog

Os Jogos Olímpicos não são para Portugal?

22 Agosto, 2016 3553 visualizações

A judoca portuguesa Telma Monteiro, transportou a bandeira de Portugal, durante a cerimónia de encerramento  Jogos Olímpicos Rio 2016, disputada no Rio de Janeiro, Brasil, 21 de agosto de 2016. A XXI ediçãos dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, decorrem no Brasil entre os dias 06 - 21 de agosto. ANTÓNIO COTRIM/LUSA / Rio 2016: Cerimónia de encerramento / LUSA / ANTÓNIO COTRIM / BRASIL JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016 / Jogos Olímpicos de Verão / © 2016 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. / JOGOS OLIMPICOS / Rio de Janeiro

Terminaram os Jogos Olímpicos no Rio e, como quase sempre sucede quando cai o pano no mais importante evento desportivo do Mundo, ficamos com a sensação de que somos um país irrelevante no contexto internacional do desporto. Ver Portugal, no medalheiro, equiparado aos Emirados Árabes Unidos ou à Moldávia não é, de facto, animador. Pior, contudo, é perceber que nações como a Malásia (5 medalhas), Tailândia (6), Geórgia (7), Coreia do Norte (7), Irão (8) ou Uzbequistão (13) apresentam números bem superiores.

Face aos resultados, muitos portugueses questionam se vale mesmo a pena enviar tantos atletas aos Jogos. De resto, por muito que sonhem (e ainda bem que o fazem), a maioria dos nossos representantes sabe que não terá qualquer possibilidade de conquistar medalhas. Um amigo, cansado de viver várias vezes a mesma realidade, já concluiu que os ‘Os Jogos Olímpicos não são para Portugal’.

Pois bem, mesmo sabendo que a contabilidade dos Jogos Olímpicos é feita através do número de medalhas que cada país obtém e que isso, historicamente, nunca nos colocou numa posição de destaque (o máximo que conseguimos foi três troféus em 1984 e em 2004), é ilógico pensar que, face à realidade, devemos restringir a participação olímpica, deixar de apoiar os atletas/modalidades ou olhar para o evento com total indiferença. Independentemente dos resultados, os Jogos Olímpicos são para Portugal. Como são para todos os países, dos mais poderosos aos que ainda anseiam pela primeira medalha. Devemos ter orgulho em ver os nossos atletas participar naquela enorme festa, não devemos aceitar é que a presença se transforme numa enorme festa, sem qualquer tipo de exigência.

Os atletas portugueses têm de continuar a tentar melhorar os seus registos. Mas se a tentativa de evolução é um dos princípios do desporto, convém que os outros portugueses (os que assistem aos Jogos pela televisão) percebam que enquanto o Mundo existir conforme o conhecemos jamais será possível ver um pequeno país fazer frente a colossos como Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, França ou Japão.

Portugal não tem a base de recrutamento dos países mais populosos (somos apenas o 88.º nesse ‘ranking’), o poder económico das nações mais ricas, nem se assume como potência mundial num único desporto olímpico. Historicamente, o nosso país só é crónico candidato a todas as competições de uma modalidade. Porém, para nosso azar, o hóquei em patins não faz parte do programa. Pior: não parece que venha a fazer tão cedo. Ainda mais grave: quando apareceu nos Jogos de Barcelona, em 1992, com o estatuto de modalidade de exibição, ficámos… em quarto.

Em 24 presenças nos Jogos, Portugal soma outras tantas medalhas, das quais apenas quatro são de ouro (todas no atletismo). A média é fácil de fazer. Tão fácil que volta a mostrar-nos uma realidade que nos sabe a pouco. Mas, contra factos não há argumentos. Contudo, é abusivo (errado e injusto) concluir-se que o Azerbaijão ou o Irão, por exemplo, são países com melhor desporto em relação a Portugal só por terem mais medalhas. A classificação dos Jogos é feita pelo número de medalhas e com a especificidade de considerar mais importante um ouro do que hipotéticos 10 galardões de prata ou 20 de bronze, mas a qualidade média do desporto de uma nação mede-se de outras formas, até porque nos Jogos não entram todas as modalidades, não se pode participar com o mesmo número de atletas em todas as competições (o atletismo permite três por prova, mas no judo, boxe ou taekwondo, por exemplo, apenas cabe um por peso, enquanto na vela ou canoagem só se aceita uma embarcação por classe) e o programa não engloba a totalidade das várias disciplinas/especialidades que existem em certos desportos. De resto, em muitas modalidades o acesso é bastante restrito, enquanto noutras (com destaque para o atletismo) abre-se a porta de modo a possibilitar a participação de praticamente todas as nações nem que seja apenas numa prova. É por isso que nem sempre a mesma posição deve ser lida apenas como um número. O nono lugar de Luciana Diniz, na competição individual de obstáculos no hipismo, entre quase 80 concorrentes, tem mais peso que o mesmo nono lugar de Rui Bragança, no taekwondo, numa prova onde só participavam 16 elementos (e onde um foi desclassificado sem competir). Porém, se quisermos ver de outra forma, a qualificação de Bragança para os Jogos foi bastante mais exigente…

Para se ter uma noção mais real do valor médio do desporto de um país, faz mais sentido contabilizar o número de diplomas alcançados (lugares entre os oito primeiros), os pontos obtidos por cada Comité (atribuindo 8 aos vencedores, 7 às medalhas de pratas, 6 ao bronze e terminando com 1 para os oitavos colocados) ou até as posições conseguidas referentes a semi-finalistas (entre os 16 melhores).

Gastando algum tempo a fazer as contas, rapidamente se percebe que Portugal é uma nação com um desporto muito mais desenvolvido em comparação com, por exemplo, o Quénia. As 13 medalhas que os africanos conquistaram no Rio foram todas obtidas no atletismo. Aliás, das 100 que já arrebatam em 14 presenças nos Jogos, 93 foram no atletismo (92 em corridas e somente uma em disciplinas técnicas) e 7 no boxe. De resto, é quase um deserto de resultados relevantes. E há muitos mais exemplos destes, como o Irão que totaliza 68 medalhas distribuídas por escassos quatro desportos (43 na luta, 18 no halterofilismo, 6 no taekwondo e 1 no atletismo). Fora as três modalidades principais… o seu desporto tem uma expressão bem diminuta.

Voltemos ao hóquei em patins. Nas 42 edições do Campeonato do Mundo da modalidade, Portugal esteve no pódio em 39 ocasiões. Alcançámos medalhas em 92.8% das presenças. Tendo em conta que o primeiro Mundial se realizou em 1936, seria expectável que nos 19 Jogos Olímpicos que se realizaram desde então, o nosso país conquistasse 17/18 medalhas só nesta modalidade. E não é exagerado, mantendo as percentagens verificadas nos Mundiais, pensar que 7/8 seriam de ouro. As nossas contas nos Jogos dariam um salto tremendo só com a presença desta modalidade. Contudo, o valor médio do nosso desporto iria continuar a ser exactamente o mesmo…