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Fiquei surpreendido quando o FC Porto, em 2014, contratou Lopetegui. Mais do que desconfiar das suas capacidades, pareceu-me estranha a opção por alguém com pouca “rodagem”. Eu sei que tinha boa ..." /> — ler mais..

Fiquei surpreendido quando o FC Porto, em 2014, contratou Lopetegui. Mais do que desconfiar das suas capacidades, pareceu-me estranha a opção por alguém com pouca “rodagem”. Eu sei que tinha boa ..." /> Olhos de ver - Record

Olhos de ver

Lopetegui soma e segue

4 Janeiro, 2016 0

lope

Fiquei surpreendido quando o FC Porto, em 2014, contratou Lopetegui. Mais do que desconfiar das suas capacidades, pareceu-me estranha a opção por alguém com pouca “rodagem”. Eu sei que tinha boa folha de serviço nas selecções jovens espanholas, mas faltava-lhe experiência à frente de clubes. Dirigir o Rayo Vallecano e o Castilla, no escalão secundário espanhol e com um registo cinzento, não me parecia “embalagem” suficiente para tomar conta de um emblema com outras responsabilidades e ambições. Um emblema habituado a ganhar nas últimas décadas e a apostar em treinadores experimentados (nem que fosse enquanto adjuntos) estava, aparentemente, a mudar de rumo. E a fazê-lo quando pretendia, a todo o custo, impedir o Benfica de chegar ao bi-campeonato.

Não foi preciso esperar muito para reforçar a ideia de que Lopetegui era um “tiro no escuro” de Pinto da Costa. A sua forma de gerir um plantel recheado de qualidade foi questionável desde a primeira hora. E isto não significa que não entenda uma ou outra alteração. Todos os treinadores as fazem e, diga-se em abono da verdade, tem mesmo de ser assim. Existem lesões e castigos; provas e jogos mais importantes do que outros; momentos de quebra e subida de forma; jogadores que tardam em adaptar-se a novas realidades e outros que, por esta ou aquela característica, são mais indicados para defrontar determinados adversários. Há até que gerir o esfoço acumulado ao longo de meses de treinos, viagens, estágios e jogos.

Mas, na ideia do basco, tudo serve para alterar a equipa. Pelas razões atrás referidas, por outras mais específicas e por algumas que, decididamente, só ele descortina. As constantes alterações no onze ao longo da temporada anterior foram uma ajuda preciosa para o Benfica de Jesus festejar o título.

Pensei que Pinto da Costa tinha segurado Lopetegui para dar continuidade ao seu antigo hábito de só despedir treinadores no decorrer da época em último caso. Acreditava que, no arranque da actual temporada, já seria outro o timoneiro no Dragão. Enganei-me. E parece que também se enganou o experimentado líder ao manter-se fiel a uma aposta arriscada de entrada e, após uma época de teste, completamente ilógica face aos desejos de SAD e adeptos.

Pinto da Costa já percebeu que errou, pois é virtualmente impossível não ter constatado isso. Ou que ninguém o tenha alertado para essa óbvia realidade. Bem pode tentar driblar a questão com declarações de circunstância, mas ele – melhor que ninguém – sabe que o caminho que a equipa trilha não á aquele que imaginou.

Mas, por estes dias, ver e ouvir Lopetegui chega a ser surreal. Enquanto se entretém a misturar os seus jogadores que, salvo duas ou três excepções, são quase todos susceptíveis de passar do onze para a bancada ou vice-versa, o técnico parece não reparar que a equipa tem dificuldade em afinar rotinas exactamente por culpa do seu ímpar modelo de gestão. Para ele, mudar a dupla de centrais é tão normal como abdicar da titularidade de André André quando o médio era uma das peças fulcrais da equipa. Imbula, o tal que custou 20 milhões, parece que desaprendeu, o mesmo se podendo dizer de Bueno, Tello ou até de Osvaldo que está de abalada. O técnico quer os jogadores, mas raramente parece saber o que fazer com eles. Só assim se explica que tenha tardado em dar minutos ao talentoso André Silva, mas que depois pretendesse vê-lo ajudar a mudar o jogo em Alvalade.

Mas, o problema não é só “baralhar e dar de novo” os jogadores. As opções tácticas são cada vez mais estranhas. Alguém se lembra de ver o FC Porto ir jogar um embate decisivo (como com o Chelsea) e abdicar de avançados? E em Alvalade, a perder, será normal tirar um dianteiro (Aboubakar) para lançar André Silva? Em sua própria defesa não ficaria melhor perder o jogo a arriscar qualquer coisa? Jorge Jesus diz que não é bem assim. Tem razão. Mas, só para recordar, quando o Sporting perdeu na Madeira com o União, o técnico leonino acabou com Slimani, Montero e Tanaka lá na frente. E com Matheus Pereira por perto…

Lopetegui assegura ter condições para continuar e proclamou, após a derrota em Alvalade, que o FC Porto vai ser campeão. Pode até acertar, mas convém recordar-se que a época passada disse a mesma coisa e falhou. O treinador vive em constante estado de negação. Parece ser a única pessoa que não vê e ouve a contestação dos adeptos e dos históricos do clube; que não entende as mensagens dos Super Dragões antes, durante e depois dos jogos. Para ele, tudo se resume ao desejo dos jornalistas em vê-lo “cortado às postas”. São esses malvados, claro, que inventam notícias para semear a confusão na equipa. E devem ser os mesmos que o apupam empunhando lenços brancos. Só pode!

PS – Não me recordo, em Portugal, de ver um treinador à frente do Campeonato e a ser assobiado pelos seus próprios adeptos num jogo em casa. Mas foi isso que aconteceu no recente FC Porto-Marítimo para a Taça da Liga. De lá para cá só mudou uma coisa: o líder da prova principal.

PS 1 – Em Maio último escrevi isto sobre Lopetegui. Mudou muito? Não creio