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Terminou o Campeonato e, conforme parecia muito provável a partir de determinado momento, ganhou o Benfica. E ganhou bem. Foi a equipa mais regular, a que marcou mais golos, a que teve mais perío..." /> — ler mais..

Terminou o Campeonato e, conforme parecia muito provável a partir de determinado momento, ganhou o Benfica. E ganhou bem. Foi a equipa mais regular, a que marcou mais golos, a que teve mais perío..." /> Olhos de ver - Record

Olhos de ver

Só Lopetegui é que não vê

19 Maio, 2015 1

Terminou o Campeonato e, conforme parecia muito provável a partir de determinado momento, ganhou o Benfica. E ganhou bem. Foi a equipa mais regular, a que marcou mais golos, a que teve mais períodos de qualidade futebolística e a que, nos momentos decisivos, soube fazer a diferença: ora vencendo, ora evitando derrotas em jogos onde podia gerir a almofada pontual entretanto conseguida. Mas, para que não restem dúvidas, as águias não jogaram sempre bem, protagonizaram exibições sofríveis e aqui e ali acabaram por ter alguma sorte. Contudo, ao invés do que alguns só apregoam quando os seus emblemas não terminam em primeiro, importa realçar que todos os campeões precisam, aqui e ali, de ter a estrelinha. Sempre foi assim e sempre assim será. É como a questão das arbitragens. Todos os anos se assiste a um ror de críticas (mais ou menos justificadas) mas, no final, a coisa não foge muito da bitola tradicional: são os grandes os mais beneficiados. Mas é por isso que chegam aos títulos? Não digo que um “empurrão cirúrgico” nunca foi determinante, mas não é a norma. Quem vence, na maioria das vezes, fá-lo com mérito. Voltou a ser o caso, embora, em consciência, tenha de dizer que o Benfica contou, de facto, com uma ajuda (ainda que indirecta) bastante importante: Julen Lopetegui.

O treinador do FC Porto é o grande derrotado da temporada. E não o digo pelo simples facto de não ter conquistado o principal objectivo da época. A questão é que ele perdeu literalmente tudo: todas as competições em que a sua equipa participou (com a agravante da Liga ter fugido antes da derradeira jornada – devido ao escorregão próprio – e de não ter atingido uma única final sequer), a ligação com muitos dos jogadores (essencial para o sucesso de qualquer técnico), o apoio directo do clube (não me lembro de ver ou ouvir algum responsável a colocar-se ao seu lado, por exemplo, durante a “novela” com Jorge Jesus) e a confiança dos próprios adeptos, com destaque para os Super Dragões.

Pelo meio, num claro sinal de falta de nível (algo que parece apenas descortinar nos outros) ou de descontrolo emocional, atirou-se aos árbitros, aos adversários, aos jornalistas e a todos os que se lembrou. Chegou até, num claro momento de falta de lucidez e de sentido estratégico, a dizer coisas como “se fosse português estaria muito preocupado” com isto, aquilo e mais não sei o quê (até em Espanha, os dirigentes da sua classe, o aconselharam a ter mais cuidado com as palavras). Aparentemente, enquanto a época decorria e se percebia o rumo que levava, só não estava preocupado com os desempenhos da sua equipa. Por alguma razão que poucos (ou ninguém) compreendiam tinha a certeza que ia ser campeão, que a equipa se levantaria, que tinha tempo, que os outros iriam perder pontos. O discurso, admito, até tinha razão de ser (era preciso manter a esperança), mas era óbvio que se tratava de conversa sem substância.

Sejamos objectivos: Lopetegui conseguiu terminar uma época à frente do FC Porto sem ganhar nada. E isso, nas últimas décadas, com Pinto da Costa ao leme, é um feito. Cinzento, mas ainda assim um registo para a história. Mas, isso sucedeu após um desinvestimento da SAD na equipa de futebol? Não, exactamente o contrário. Os dragões, num esforço que se pensava improvável para não dizer impossível face à crise global e às exigências do “fair play” financeiro imposto pela UEFA, atacaram com todas as forças o mercado. O orçamento subiu para patamares elevadíssimos, o treinador comprou uma autêntica colecção de jogadores (ainda devem ter ficado alguns espanhóis em lista de espera)  e teve todas as condições para formar uma equipa campeã. Até teve direito a uma torre no centro de treinos para, em teoria, observar melhor o que se passava nas sessões de trabalho. Talvez tenha lá passado pouco tempo… Ou se lá esteve as horas necessárias, se calhar não viu o que todos iam percebendo, independentemente de serem adeptos portistas ou não.

Com tanto material de qualidade à disposição, Lopetegui só tem de ser considerado o principal culpado pela época da equipa. Foi ele quem demorou uma eternidade a construir o onze base, quem desvalorizou (dentro e fora de campo) Quaresma e outros, quem pensava que para ganhar em Portugal bastava (como disse uma vez Quinito) colocar os jogadores no balneário e escolher (às escuras) 11, quem pensou que Benfica e Sporting não seriam capazes de fazer frente a uma equipa teoricamente mais apetrechada. Não chega? Quem é que foi incapaz de motivar os jogadores até ao fim, quem é que entrou na Luz a necessitar de ganhar e optou por uma táctica conservadora e acabou sem sequer ameaçar o adversário nos últimos instantes?

Só no dia em que, matematicamente, a esperança em ser campeão acabou é que o treinador espanhol conseguiu – seguramente a custo e com os jornalistas a pressioná-lo – admitir que também tinha culpas no cartório. Até aí, tinha sido uma mera vítima de uma conjugação astral negativa. Só a ele terá passado despercebido que a sua equipa não fez um único golo às águias em dois jogos. Só ele, no embate da Luz, viu várias ocasiões de golo para os portistas. Provavelmente, só ele terá encontrado sérias razões de queixa da arbitragem nos duelos directos com a equipa de Jesus.

Com ele, o FC Porto numa só época ficou em desvantagem na Liga e saiu de cena da Taça de Portugal com derrotas em casa diante dos eternos rivais. Só ele, apesar de aqui e ali nos ter tentado dizer que sabia muito da história do futebol nacional, não sabe o peso que isso tem no universo azul e branco.

Mas, no meio de tudo isto, Lopetegui assegura que tem condições para continuar. Duvido. Sei que tem contrato e que Pinto da Costa nunca foi um líder de reagir a quente. Mas, se iniciar a próxima época, o técnico que nunca antes tinha orientado uma equipa numa primeira divisão (apesar dos dois títulos europeus de Sub-19 e 21 da Espanha) ficará com a “cabeça a prémio” logo no primeiro tropeção. Valerá a pena correr esse risco?

Pinto da Costa pode, efectivamente, ser um aliado de peso de Lopetegui. Mas, já se percebeu, que serão poucos dentro da estrutura e até fora dela. Não me recordo de ver alguém ligado ao FC Porto “embrulhado” com um técnico rival sem ser devidamente acolitado. Na Luz, foi vê-lo aos gritos e aos empurrões, enquanto os dirigentes observavam, os jogadores trocavam camisolas com os benfiquistas e, pouco depois, Quaresma (que nunca escondeu a sua rivalidade com os encarnados) beijava Jesus. E no Restelo? Enquanto o espanhol dava murros no banco, ao seu lado todos seguiam impávidos e serenos. Isto não é sinal de divórcio? Se calhar não é, mas lá que parece…

Só ele não deve ter visto ou ouvido (ou não compreendeu ou valorizou) a tarja a pedir o regresso do ADN do clube, os insultos no Restelo ou à chegada ao Dragão após o empate com o Belenenses e a recente “oferta” de pás e picaretas antes do treino desta terça-feira . Só ele, provavelmente, desconhecerá o que significa no FC Porto ver os Super Dragões a atuar assim. Pior: só ele deve desconhecer que poucas vezes a claque não está em consonância com os responsáveis.

Por agora, ninguém sabe o desenrolar deste “filme”, mas se tivesse de apostar diria que Lopetegui está mais para sair do que para ficar. Vai ser despedido? Não me parece. Para variar, talvez consiga ver todos estes sinais e perceber que há muito está em “banho Maria”. Foi normal ele passar o ano a dar o peito às balas, enquanto a estrutura – pelo conteúdo da suas declarações – apenas se limitava a orientar o seu discurso? Não me parece. Quando o “caldo” começou a entornar, deu toda a ideia de que no Dragão alguém achou por bem que o único que devia levar com os “salpicos” era o treinador. E meses depois, por muito que ele não repare, o seu avental está cada vez mais repleto de nódoas.