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Olhos de ver

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Um treinador sem classe

5 Dezembro, 2014 1058 visualizações

Sempre defendi, defendo e – tenho a certeza – defenderei que em qualquer equipa, independentemente da modalidade, só ao treinador cabe a tarefa de decidir quem joga, quem arranca como suplente ou quem assiste aos compromissos oficiais na bancada.

Vem isto a propósito das recentes declarações de Nuno Espírito Santo sobre a situação de João Pereira no Valencia. O técnico em causa, mesmo tendo uma folha de serviços com pouca expressão nesta tarefa (pese o bom desempenho ao leme do Rio Ave), possui toda a legitimidade para considerar que na sua equipa deve alinhar o jogador A ou B e não o C ou D. Mas, até para salvaguarda da sua própria imagem e da credibilidade que precisa de ter para ser encarado como alguém responsável, devia ter pensado duas vezes antes de passar um atestado de incompetência ao lateral direito de 30 anos que, pelos vistos, parece ter desaprendido de jogar de futebol de um dia para o outro.

Nuno pode considerar que Barragán e João Cancelo são melhores que João Pereira. Admito até – apesar de discordar por completo – que possa ter razão nessa avaliação. Mas, alguém com classe, não teria dito o que disse, nem da maneira que o fez. Ficou mal na fotografia, mexeu com o profissionalismo de um futebolista que, até à sua chegada, era peça importante na equipa e um dos elementos mais acarinhados pelos adeptos.

Mas, recuemos uns tempos. Alguém considera ser possível que Nuno tivesse um conhecimento futebolístico mais aprofundado sobre Barragán e João Cancelo em relação a João Pereira? Eu não! O primeiro, apesar de ter passado nas selecções jovens, nunca foi um elemento de primeiro plano no contexto do futebol espanhol. Já Cancelo – igualmente com registo de qualidade na formação – somava apenas breves minutos na equipa principal do Benfica. Teria Nuno observado assim tantas partidas da formação da B das águias ou dos juniores? Não acredito. Pelo contrário, tenho a certeza que viu João Pereira actuar inúmeras vezes. Com a camisola encarnada, com a do Sporting, a do Valencia e, claro, a da principal Selecção Nacional. Isto só para referir as de maior nomeada.

Sendo assim, penso que quando chegou a Valencia o técnico estava mais identificado com João Pereira do que com os outros dois concorrentes para a posição de lateral direito. Mas, admito, a pré-época, os vários treinos realizados, podem ter contribuído para considerar que, afinal, o mais experiente era apenas o terceiro (e último) nesta corrida. Mas, se foi assim, qual a razão para a 20 de Setembro, antes do jogo com Getafe, ter dito que João Pereira “tem sido exemplar, faz parte do plantel apesar de não estar a ser opção nesta altura. É um profissional muito sério e conto com ele”?

Nuno, por esta ou aquela razão (e não tem de a explicar), tem legitimidade para fazer o que quer com os seus jogadores, mas devia aprender a ser mais comedido, a utilizar as palavras com outro cuidado. Dito de outra forma: devia saber driblar as questões dos jornalistas. Não sou grande apologista dessa forma de estar, mas considero-a mais inteligente e sensata do que passar atestados de menoridade a alguém que soma 40 internacionalizações pela Selecção Nacional, alguém que não sendo o melhor lateral direito do planeta não deve ter estado, por exemplo, no último Mundial só por acaso.

Ao dizer o disse, Nuno até desconsidera os anteriores treinadores de João Pereira, com particular destaque para Paulo Bento. Tinha necessidade de o fazer? Claro que não, mas se calhar tinha obrigatoriedade. Sim, sim, essa é uma forte possibilidade, pois só quem anda distraído é que ainda não percebeu o cerne de todo este “filme”. Vamos, então, resumi-lo: Nuno está no Valencia devido ao empresário que tem e João Pereira deixou de contar no clube espanhol porque, entretanto, mudou de agente. Alguém duvida? Então expliquem lá como é que jogadores sem grande cartel como Cancelo ou Filipe Augusto também chegaram ao clube valenciano de um dia para o outro?

Em resumo: Nuno pode saber muito de futebol e até vir a ter uma carreira de técnico de sucesso. Por enquanto ainda não deixou de ser uma promessa e se está nessa etapa muito tem a agradecer a quem o “empurrou”. Já João Pereira, até depois de ser enxotado por José Veiga no Benfica, deu a volta e chegou longe. Fará o mesmo a partir de Janeiro? Acredito mais nisso do que no sucesso de Nuno a longo prazo. É que quem não se dá ao respeito, mais tarde ou mais cedo acaba por ser vítima disso mesmo.