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Estava longe de imaginar que a carreira de Vítor Pereira pudesse prosseguir na Arábia Saudita, mas por mais improvável que seja este destino, sempre me parece mais normal que vê-lo deixar Portugal..." /> — ler mais..

Estava longe de imaginar que a carreira de Vítor Pereira pudesse prosseguir na Arábia Saudita, mas por mais improvável que seja este destino, sempre me parece mais normal que vê-lo deixar Portugal..." /> Olhos de ver - Record

Olhos de ver

Vítor Pereira: um campeão das Arábias

8 Junho, 2013 0

Estava longe de imaginar que a carreira de Vítor Pereira pudesse prosseguir na Arábia Saudita, mas por mais improvável que seja este destino, sempre me parece mais normal que vê-lo deixar Portugal para orientar alguma equipa com relativo peso em Inglaterra ou Espanha. Essa situação de “inventar” treinadores de um dia para o outro, sem a devida experiência acumulada, não funciona todos os dias, inclusive no FC Porto.  É certo que, em certa medida, foi assim com José Mourinho, com André Villas-Boas e que, olhando para os títulos nacionais, até parecia poder acontecer o mesmo com Vítor Pereira. Pura ilusão.

Depois de conquistar dois títulos ao serviço do FC Porto, pode começar por ser estranho que o técnico não tivesse merecido a confiança de Pinto da Costa – ainda me lembro de ouvir o líder portista garantir que o espinhense fora sempre a sua primeira opção para suceder a Villas-Boas, quando todos percebemos que o experiente presidente foi apanhado de supresa com a saída do técnico-adepto para o Chelsea… – para continuar no posto mas, como é óbvio, há muito se percebera que Vítor Pereira tinha os dias contados no Dragão. É que lá, ao invés do que se passa noutras paragens, cedo os responsáveis identificam quem é mestre no ofício. E Vítor Pereira, com todo o respeito, não tem andamento para dirigir um conjunto tão forte como o FC Porto.

É verdade que Vítor Pereira ganhou dois títulos de campeão (e outras tantas Supertaças) e que isso, em teoria, deveria valer-lhe muito crédito entre as hostes portistas. Mas não valeu. Nem entre os responsáveis da SAD, nem sequer junto do mais anónimo dos adeptos. E isso, naturalmente, é elucidativo. E qual a razão para essa aparente pouca estima? Os outros resultados e as exibições! É que ao sucesso na principal prova interna, o técnico juntou dois fracos desempenhos na Taça de Portugal, outros tantos na Taça da Liga (esta época ainda chegou à final, mas perdeu com um Sp. Braga que já estava longe do rendimento do começo da temporada) e um conjunto de desfechos sofríveis na Europa. Ser eliminado pelo Málaga nos “oitavos” da Champions foi duro, quase tanto como a época passada nem sequer ter logrado ultrapassar a fase de grupos e acabar “trucidado” pelo Manchester City na Liga Europa, a mesma equipa que, na ronda seguinte, foi afastada pelo Sporting.

Vítor Pereira pode ser um trabalhador incansável, um estudioso, um lutador que se recusa a desistir mesmo quando o cenário está complicado, mas não revela o carisma, a visão ou a astúcia necessária para quem se senta num banco em que é preciso ganhar sempre. Ou quase sempre. De resto, é justo dizer, com ele ao leme, o FC Porto poucas vezes encantou. Foi uma equipa essencialmente utilitária e mesmo em relação a essa eficiência temos de acrescentar que, se os dragões tiveram mérito na forma como arrebataram os seus títulos, é fácil admitir que o técnico contou com muitas ajudas. Dos deuses da fortuna (que foram preciosos aliados, por exemplo, no último compromisso com o Benfica) e dos tropeções dos adversários directos.

Vítor Pereira, aquando do recente discurso do título, fartou-se de dizer que nunca deixou de acreditar. Só se esqueceu de dizer que, independentemente do milagre de Kelvin, o ceptro só foi conquistado devido à incompetência alheia. Se Jorge Jesus tivesse conseguido guiar o Benfica a um triunfo caseiro com o Estoril na antepenúltima jornada, o FC Porto até podia ter goleado os encarnados em casa que… o título teria outro destino. Significa isso que se Vítor Pereira e os seus homens tiveram mérito, convém não esquecer que o sonho só se tornou realidade porque outros passaram do céu ao inferno num abrir e pescar de olhos. Mas isso, claro está, não é problema deste técnico das Arábias que, a esta altura, deve estar feliz com os milhões que o aguardam em Jeddah. Já nem se deve lembrar que perdeu o lugar para um jovem treinador que tem como cartão de visita o terceiro lugar à frente do Paços de Ferreira. Mas, enfim, sempre leva na memória que, no último jogo pelo FC Porto, derrotou o sucessor, com tranquilos 2-0…