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Mais um jogo, mais um tropeção e, pior que isso, mais um objectivo que fica pelo caminho. O desaire em Moreira de Cónegos, em embate referente à Taça de Portugal, foi só mais um numa extensa list..." /> — ler mais..

Mais um jogo, mais um tropeção e, pior que isso, mais um objectivo que fica pelo caminho. O desaire em Moreira de Cónegos, em embate referente à Taça de Portugal, foi só mais um numa extensa list..." /> Olhos de ver - Record

Olhos de ver

Godinho como Passos

21 Outubro, 2012 0

Mais um jogo, mais um tropeção e, pior que isso, mais um objectivo que fica pelo caminho. O desaire em Moreira de Cónegos, em embate referente à Taça de Portugal, foi só mais um numa extensa lista que, decididamente, já não surpreende ninguém, fiel à causa ou não. No Sporting, com uma ou outra excepção, é sempre mais do mesmo. Mas, aparentemente, tal não parece perturbar em demasia o líder. Godinho faz lembrar Passos. Tudo é normal, tudo faz sentido e um dia – seguramente longínquo – os sorrisos voltarão. O pensamento pode ser simpático. O problema é que não convence o mais ingénuo, nem o rei do optimismo. Basicamente… não convence ninguém.

O Sporting, independentemente dos discursos de ocasião dos seus principais responsáveis, continua a afundar-se a um ritmo alucinante, financeira e desportivamente. Pelo meio, jogadores e treinadores são “triturados”, enquanto os sócios tardam em forçar a solução mais urgente: a saída de Godinho Lopes. Só o afastamento dos dirigentes que mandam no futebol e a entrada de gente com novo pensamento, decidida a romper, em definitivo, com o modelo de gestão que Roquette idealizou é que pode salvar o clube deste processo de morte lenta em que mergulhou há muito.

Em Alvalade, apesar de tantas promessas de bonança, o clube prossegue a caminho do abismo. E é fácil constatar que as medidas surgem sem a devida análise. Quando a contestação sobe de tom, despede-se alguém ou contrata-se o enésimo messias. Só que, já deviam saber as cabeças pensantes, isto não vai lá só com boa vontade ou apelando à intervenção divina. Terão de ser os terrenos, enquanto ainda há tempo, a mudar o desenlace desta novela que insiste em misturar momentos de agonia, com situações completamente bizarras. A última foi ter ouvido o presidente dizer, com um sorriso nos lábios, que o Sporting já tem há muito tempo o substituto para Sá Pinto. Pois… deve ser verdade. Como não se contenta em pagar ordenados a dois técnicos para estarem em casa (Domingos e Sá Pinto), Godinho quer fazer-nos acreditar que já tem um novo homem, enquanto é Oceano que dirige treinos e jogos. A menos que a ideia seja encontrar alguém que fique para sempre no anonimato e comande o conjunto à distância!

Não considero que o actual presidente seja o único culpado dos problemas que se vivem em Alvalade. O buraco financeiro, os erros de palmatória a vários níveis, a gestão sem nexo, as opções mais que discutíveis, etc, etc, não são de agora. A questão é que já se viu que este também não é o homem que vai resolver o que quer que seja. E nesse sentido… deve sair (e ser acompanhado por mais uns quantos dirigentes da SAD). Pelo próprio pé ou após “solicitação” das massas. Godinho, como Passos, mostraria algum discernimento se percebesse que a sua hora já acabou. E que não deixará saudades…

Austeridade na Selecção Nacional

17 Outubro, 2012 0

Se a derrota na Rússia – ainda que injusta face ao domínio exercido por Portugal praticamente durante todo o jogo – não me tinha surpreendido, nem sequer preocupado, confesso que o resultado (e a exibição) da Selecção Nacional, no Porto, diante da sofrível Irlanda do Norte me deixou… angustiado.

Com quatro partidas realizadas na fase de qualificação para o Mundial 2014, parece claro que a equipa que tão bem se mostrou no Europeu deste ano está agora uma sombra de si mesma. Se o País atravessa um grave crise sem se vislumbrarem os desejáveis sinais de recuperação, creio não ser exagero dizer que também a formação comandada por Paulo Bento revela estar em processo de austeridade. Pior: o seleccionador não mostra saber onde está o mal e, consequentemente, o que fazer para, quanto antes, dar a volta à situação.

Desde que iniciou a caminhada que ainda se espera poder valer um lugar no Campeonato do Mundo do Brasil, Portugal somou duas vitórias e tropeçou em outros tantos embates. Mas, infelizmente, não são só os resultados que nos levam a pensar que algo está mal com a equipa. Ora vejamos:

– Portugal começou a perder em três dos quatro encontros, inclusive perante adversários de terceiro nível como Luxemburgo ou Irlanda do Norte.
– A dificuldade para vencer no Luxemburgo foi desesperante.
– A ineficácia caseira perante Azerbaijão (embora a sorte tenha protegido imenso o guarda-redes contrário) e Irlanda do Norte demonstra que, afinal, o problema na Rússia não teve nada a ver com o frio ou com o facto de o encontro se ter disputado em relvado sintético.
– O nível exibicional, excepção feita a cerca de 60 minutos com o Azerbaijão e 15 com a Rússia, foi globalmente paupérrimo.
– A falta de poder de concretização do ataque contrasta com a facilidade com que o conjunto sofre golos. Não é normal que luxemburgueses e norte-irlandeses consigam, até em situações de inferioridade numérica, marcar golos em transição a uma equipa como Portugal.
– O conjunto parece ter perdido muitos dos automatismos que ajudaram a ascender ao terceiro lugar do “ranking”, da mesma forma que a intensidade de jogo está bastante abaixo do que já se viu.
– Jogadores essenciais, a começar em Cristiano Ronaldo e Nani, não têm conseguido render o esperado. O capitão não parece o mesmo que brilha em Madrid e o extremo do Manchester United prossegue uma seca de golos na Selecção que já dura há 10 encontros.

Em suma, a equipa de todos nós acompanhou o País e entrou em crise, em recessão exibicional. E logo num momento em que a sociedade precisava de algo que a fizesse esquecer os problemas reais da vida. Resta saber se ainda vai a tempo de recuperar. Penso que sim, mas a verdade é que acabou o espaço para deslizes. Agora, até mesmo para assegurar o segundo lugar (o primeiro já depende da “colaboração” da Rússia), é preciso “limpar” os jogos todos. Mas, convenhamos, se nem o segundo posto for alcançado num grupo com Israel, Irlanda do Norte, Azerbaijão e Luxemburgo… o melhor é mesmo não marcar presença na fase final do Mundial. Lá, com toda a certeza, não haverá equipas tão fraquinhas.

PS – Não consigo entender o súbito desaparecimento de Nélson Oliveira na Selecção. Depois de ter justificado a aposta de Paulo Bento, o avançado deixou de ter minutos. A situação é ainda mais estranha quando Hugo Almeida tem estado de fora e a concretização tem sido um grande problema. De resto, creio que Eliseu também merece voltar ao grupo. Tendo em conta a forma como está a jogar no Málaga, ser convocado é o mínimo.

Sá Pinto: um réu que foi vítima

5 Outubro, 2012 0

E pronto… a saída de Sá Pinto do comando do Sporting está confirmada. Sem surpresas. Tal como defendi aquando da suada vitória caseira perante o Gil Vicente, o divórcio apenas tinha sido adiado. Restava saber até quando, pois a única maneira do adeus não se consumar era a equipa de Alvalade desatar a ganhar jogos uns atrás dos outros. E isso, adivinhava-se facilmente, não iria suceder.

Sá Pinto, como qualquer outro treinador que apresente um saldo fraquinho ao nível das vitórias, foi afastado por causa dos resultados. Contudo, no clube verde e branco, há muito se percebeu que, pese os eventuais erros próprios de quem tem de gerir um grupo de futebolistas, de escolher o melhor onze ou a táctica ideal… o maior problema nunca é o treinador. Mais que não seja porque, se o eleito confirma não ser o indicado para o cargo, a responsabilidade maior dever ser atribuída a quem o escolheu.

Sempre tive muitas dúvidas que Sá Pinto fosse capaz de desempenhar com sucesso esta missão. Sei bem que existem inúmeros casos de ex-futebolistas que, quase sem experiência, assumem o comando de formações de topo e a coisa corre bem. No entanto, defendo (e sempre defenderei) que o caminho adequado é um treinador ganhar tarimba durante vários anos até chegar a uma formação sénior com objectivos elevados. Passar pelo futebol juvenil de forma consistente ou ganhar calo nos escalões secundários são, em meu entender, os caminhos mais normais. As excepções devem continuar a ser vistas como algo que não sucede com regularidade. Sá Pinto “queimou” demasiadas etapas e acabou “queimado”. A garra, o espírito lutador e a dedicação ajudam, mas não são decisivas no alto rendimento.

Não tenho dúvidas que Sá Pinto cometeu muitos erros, sendo que o maior de todos talvez tenha sido a incapacidade para encontrar, esta época, um onze base. As trocas foram sempre muitas e, em alguns casos, sem se entenderem. O exemplo mais flagrante sucedeu precisamente no último jogo do seu consulado. Que raio de ideia lhe passou pela cabeça para poupar vários elementos diante do Videoton? Se a partida fosse em casa, se o Sporting tivesse derrotado o Basileia na estreia na Liga Europa, se o encontro já não possuisse qualquer interesse competitivo… talvez se entendesse a opção. Mas não, a lógica de Sá Pinto foi uma batata. Começou demasiado cedo a pensar na deslocação ao Dragão e pagou um preço caro. Daqui a uns dias ficaremos a saber se o clube ainda ganhará alguma coisa com a opção. Sinceramente… acho que não.

Mas, não olhemos apenas para Sá Pinto que, acrescente-se, de repente pareceu completamente perdido, com intervenções próprias de quem não estava a ver rigorosamente nada do que se passava à sua volta. Nem dentro do campo com a equipa, nem fora dele com aqueles que o deviam escudar de certos embates. Sá Pinto foi o menos culpado deste filme que, como todos sabem, não é muito diferente do enredo que também apanhou Paulo Bento (embora tenha resistido mais tempo e conseguido vários feitos importantes), Paulo Sérgio, Carvalhal, Couceiro ou Domingos. Em Alvalade, qualquer treinador tem de se preocupar com as questões normais da sua profissão, mas também com a falta de liderança, estratégia e gestão dos dirigentes, a começar por quem ocupa o cargo mais alto da estrutura.

Enquanto o Sporting não tiver um presidente (e mais dois ou três dirigentes) firme, decidido, com capacidade para traçar um rumo claro para o clube e corajoso para dizer apenas as verdades (mesmo as dolorosas) aos sócios e adeptos, a probabilidade de o emblema sair do marasmo é diminuta. Hoje em dia, por exemplo, ninguém entende se o Sporting quer apostar na formação ou se vai manter a compra desenfreada de estrangeiros; se vai aumentar a massa salarial com a contratação de jogadores experientes quando a falta de verbas aconselha precisamente o inverso; se vai continuar a dizer que rejeita propostas quando, invariavelmente, o segurar determinadas pedras não chega para atingir os títulos desejados.

Em Alvalade, desde há muitos anos, as derrotas começam fora do terreno de jogo. E o mais preocupante é que poucos parecem reparar nisso ou – pior – limitam-se a deixar andar. Por isso, nesta altura, mais que encontrar o treinador certo, penso que o clube deveria tratar de descobrir os dirigentes necessários. Ainda assim, no que ao cargo de técnico diz respeito, é capaz de ser bom optar por alguém experiente, com provas dadas, dono de uma personalidade forte e, já agora, estrangeiro. Não possuir ligações a este ou aquele clube (inclusive ao Sporting) pode evitar mais uns quantos problemas.

PS – A confirmar-se que o Sporting ofereceu o cargo de treinador da equipa B a Sá Pinto nem sei o que dizer. Entendo que o clube procure forçar uma rescisão amigável ou que não queira pagar a mais um treinador que não esteja a desempenhar funções, mas avançar com algo deste género é completamente ridículo.

PS1 – Resta perceber se Godinho Lopes irá conseguir escapar pelos intervalos da chuva e mais este momento corturbado. O seu espaço de manobra é cada vez mais diminuto. E pedir desculpas, um dia, não será suficiente para acalmar os adeptos mais exigentes.