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Portugal tinha como principal esperança para a conquista de uma medalha nos Jogos Olímpicos de Londres a judoca Telma Monteiro. Contudo, logo no primeiro combate, a atleta do Benfica foi surpreen..." /> Olhos de ver - Record

Olhos de ver

A humildade de Telma

30 Julho, 2012 0

Portugal tinha como principal esperança para a conquista de uma medalha nos Jogos Olímpicos de Londres a judoca Telma Monteiro. Contudo, logo no primeiro combate, a atleta do Benfica foi surpreendida por uma norte-americana com quem nunca tinha perdido (em três confrontos) e… foi eliminada no desempate por “golden score”, uma versão de “morte súbita”.

Ninguém mais do que a própria Telma deve lamentar este resultado, pois só ela tem noção exacta do esforço realizado para chegar em boas condições à capital britânica. No entanto, já se sabe, nestas alturas muitos (nomeadamente os que descobrem de 4 em 4 anos que o desporto não é só futebol) são cruéis na forma de analisar o sucedido, considerado um desaire mínimo como um autêntico “flop”.

Telma Monteiro era uma das melhores atletas nacionais de todos os tempos antes de embarcar para Londres (e não falo apenas no que se refere ao judo). E continua a sê-lo depois de falhar, pela terceira vez, o objectivo de conquistar uma medalha nos Jogos. A sua carreira, recheada de resultados de excelência em Europeus e Mundiais, não é obra do acaso.

A grande competição desportiva planetária é, no entanto, um verdadeiro trauma para Telma que, fazendo o normal, já teria conseguido sacar, pelo menos, uma medalha. Convém, todavia, ter a perfeita noção da especificidade própria do judo. Estamos a falar de uma modalidade em que basta um segundo de distracção, um erro ligeiro e tudo está perdido. Noutros desportos é possível sofrer um golo, um cesto, um ponto ou cometer um tropeção e ainda há tempo para encetar a recuperação, na própria partida ou noutra. No judo, porém, a margem de erro é quase inexistente.

De resto, ao invés do que sucede no ténis ou ténis de mesa, o judo tem uma forma de disputa muito ingrata. Telma, a segunda atleta mais cotada na categoria de -57 Kg em Londres, defrontou logo a 11.ª colocada no “ranking” mundial. Quer isso dizer que, pese a desilusão do desfecho, não mediu forças com uma atleta qualquer. Aliás, logo de seguida, a vice-campeã europeia da categoria também foi afastada…

Em resumo, Telma teve um dia não. O problema é que só poderá redimir-se, no que a Jogos Olímpicos diz respeito, daqui a 4 anos. Resta saber se aguentará mais um ciclo tão longo ao alto nível. A avaliar pelas declarações após a derrota… tudo indica que sim. A judoca não fugiu às responsabilidades, assumiu o desaire, agradeceu o apoio da nação e assegurou que, em breve, aí estará para tentar mais vitórias, mais títulos. É esta mistura de humildade e determinação que, juntamente com o talento, estão na base dos grandes campeões. Telma faz parte desse lote de eleitos.

Mas, ao mesmo tempo, a judoca sabe bem que o País não tem muitas opções de sucesso em Londres, razão pela qual a “cobrança” será enorme nos próximos dias, mais ainda se nenhum outro compatriota resolver presentear-nos com uma medalha. O seu próximo combate é aguentar, com serenidade, algumas críticas injustas e infundadas que, com toda a certeza, vão aparecer. Mais isso, claro, também são “ossos do ofício”.

Contas olímpicas

26 Julho, 2012 0

 

Embora oficialmente os Jogos Olímpicos de Londres só arranquem sexta-feira, hoje e amanhã as competições de futebol (primeiro a feminina, depois a masculina) já estarão em ação. Os muitos milhões de adeptos do desporto, espalhados pelos vários cantos do Planeta, podem começar a seguir as incidências da grande festa que, de 4 em 4 anos, concentra as atenções gerais.

Com Nelson Évora, Vanessa Fernandes e Naide Gomes “fora de combate”, Portugal não parte com o otimismo de outras edições. Ganhar medalhas parece um objetivo deveras complicado. De facto, consultando os vários rankings internacionais, fica claro que só a judoca Telma Monteiro não precisará de atingir um nível consideravelmente superior ao habitual para regressar a casa com um lugar no pódio. Todos os outros representantes da missão nacional (mesmo sabendo que há mais meia dúzia com aspirações legítimas) estão obrigados a assinar desempenhos sensacionais para poder ambicionar as tão desejadas medalhas. E a maioria, claro, sabe que nem nos sonhos mais cor-de-rosa será possível ombrear com os melhores, com aqueles que possuem outro talento e capacidade atlética, que beneficiam – desde tenra idade – das condições essenciais para evoluir até à excelência.

Mas, ao contrário do que é habitual pensar-se em Portugal, não são apenas aqueles que conseguem medalhas que merecem elogios, que devem ter os governantes de ocasião a esperá-los no aeroporto. Não estou com isto a dizer que não são os galardões que ficam para a história, pois todos sabemos que são. Apenas estou a tentar explicar que, por exemplo, se todos os nadadores portugueses batessem os seus melhores tempos em Londres tal seria sensacional, mesmo sabendo-se, por antecipação, que jamais daria para arrebatar medalhas.

Oprimeiro passo para se fazer contas corretas no que à participação portuguesa nuns Jogos Olímpicos diz respeito é saber, nem que seja por alto, qual o valor real dos nossos representantes. Mesmo admitindo que todos os atletas têm dias bons e maus, ao alto nível as surpresas não acontecem com grande regularidade. Dito de outra forma: o oitavo colocado de um qualquer ranking pode perfeitamente chegar aos três primeiros lugares, mas isso está virtualmente vedado a quem é trigésimo ou quadragésimo da lista.

Portugal não vai sair de Londres com muitas medalhas, mas não ficarei surpreendido que obtenha vários lugares de finalista (até ao oitavo posto). E isso, a verificar-se, pode ser suficiente para, no final, dizer que os nossos representantes rubricaram uma prestação de grande nível. Contudo, já sei, para a maioria da população uma posição que não esteja entre os três primeiros é… sinal de resultado negativo. É triste, mas os portugueses são mesmo assim. Têm dificuldade em associar-se a quem, mesmo dando o seu melhor e alcançando registos únicos, não seja um vencedor. Alguns, claro, fazem-no de propósito, mas a maioria apenas por ignorância, por não terem a mínima ideia do que é o desporto e, já agora, por continuarem a pensar que esse mesmo desporto é, apenas e só, sinónimo de futebol. Quem sabe se um dia aprendem…

Dinheiro e não só…

15 Julho, 2012 0

Quem ler na edição impressa de Record de domingo a entrevista que os meus camaradas Nuno Farinha e Rui Dias fizeram a Carlos Barbosa, ex-vice-presidente do Sporting, percebe facilmente que no reino do leão falta dinheiro. Muito, por sinal. Porém, duvido que alguém possa ficar admirado com tal constatação. A falta de verbas é um problema que alastra pela Europa, no desporto e – infelizmente – em praticamente todas as áreas. E se em Alvalade os cofres estão pouco ou nada recheados, tenho a certeza que não existe um único emblema em Portugal que possa dizer, alto e a bom som, que vive uma situação financeira de total desafogo. Quem o afirmar está distraído, não sabe fazer contas ou opta por mentir. Por outras palavras, chegou mesmo a hora de inverter uma lógica que durava há décadas e que, basicamente, funcionava de forma simples: gastava-se à grande e, depois, quando soava o alarme, falava-se com a banca para arranjar outro tanto, enquanto as dívidas se acumulavam de forma vertiginosa. A “jogada” foi tão inteligente que, como agora se sabe, já não há dinheiro dos dois lados da barricada. E este comportamento, diga-se em abono da verdade, não foi exclusivo dos clubes. Muita – e aparentemente respeitável – gente fez isso. Mas, como de costume, cá estamos nós para pagar a fatura…

Independentemente de se concordar ou não com determinadas opiniões de Carlos Barbosa, alguns dos princípios que defende são indiscutíveis. Quem vive acima das suas posses, mais tarde ou mais cedo fica numa encruzilhada. Mas desengane-se quem pensa que o problema do desporto nacional é apenas financeiro. Apostar na modernidade, procurando soluções distintas do passado é, mais do que um caminho, uma obrigatoriedade dos tempos modernos. Isto, porém, não funciona apenas à base da boa vontade, da dedicação, da carolice. Quem corre por gosto continua a ter um lugar importante no desporto, mas já não pode assumir papel de grande protagonismo. Ou então, como alternativa, tem de estar rodeado de profissionais qualificados. Preferencialmente da cor do clube que lhe paga, embora em Portugal isso não pareça ser importante em muitas casas…

Oficialmente também foi por falta de dinheiro que o FC Porto anunciou, ainda que de forma indireta, o fim da sua equipa sénior de basquetebol. Todos sabemos que a modalidade, como sucede em qualquer clube grande português, jamais foi rentável e poucas vezes (se é que isso aconteceu) não terá dado prejuízo. Mas, ainda assim, apontar as questões financeiras como única explicação para encerrar a secção é, no mínimo, contar apenas meia verdade. Se fosse só isso, os dragões deveriam acabar igualmente com o andebol e hóquei em patins, pois essas modalidades também são deficitárias e o prejuízo não começou agora. Mais: sabendo das contas, tendo noção que o clube andou sistematicamente com ordenados em atraso nas duas últimas épocas (o que não agradou a muitos atletas que o mostraram em diversas ocasiões), como é que os dirigentes resolveram renovar contratos, anunciar aquisições e fazer propostas em cima do fim? Fizeram mal as contas? Se calhar sim, tal como no passado, quando reforçaram o plantel com ordenados proibitivos por cá…

Equidade só para alguns

10 Julho, 2012 0

Segundo consta por aí – e não deve ser por acaso que se ouve isso… – ainda não é certo que a ideia de impedir o empréstimo de futebolistas entre emblemas do escalão principal vá avante. Pessoalmente, contudo, gostava que a medida fosse mesmo aprovada. Por concordar cegamente com ela? Não propriamente. Apenas porque desconfio que essa regulamentação iria fazer com que muitos dirigentes gastassem umas noites a inventar formas de a ludibriar, mas também por considerar que, em definitivo, devem acabar as lesões de última hora ou as gripes fora de tempo que, ciclicamente, afastam alguns jogadores preponderantes em determinadas equipas quando o calendário lhes reserva confrontos com a verdadeira entidade patronal.

Não sou entendido em leis. Jamais tirei algum curso relacionado com isso e, se a memória não me falha, penso que nem me inscrevi em nada do género. Ainda assim, creio que o futebol português – para não variar – vai entrar num período pitoresco se, para além da tal questão dos empréstimos, alguém se lembrar de questionar a legitimidade de uma norma que apenas permite a seis emblemas do escalão principal ter formações secundárias. Dito de outra forma: entendo que determinados clubes queiram ter equipas B. Não compreendo é que outros não possam ter…

Éevidente que uma Segunda Liga hipoteticamente com 32 participantes – caso todos os clubes da divisão principal desejassem ter equipas B e reunissem condições financeiras para avançar com o projeto – seria algo de bizarro (a menos que se disputasse com duas séries de 16), mas também não deixa de ser estranho perceber que só alguns dos emblemas da divisão principal podem beneficiar de determinadas benesses existentes para quem possui formações B. Quais? Basta, por exemplo, falar da possibilidade de utilizar mais futebolistas durante uma época desportiva. FC_Porto, Benfica, Sporting, Sp. Braga, V. Guimarães e Marítimo não têm o mesmo limite de inscrição de jogadores na Liga que os seus adversários, pois ao longo da temporada podem utilizar também os elementos que, de entrada, são designados como membros da turma B. Os restantes 10 participantes na 1.ª Liga partem, de forma clara, em evidente desvantagem. E isso, no meu entendimento de leigo no que a leis diz respeito, é errado. Tanto que, fazendo uso de uma expressão tão em voga nos últimos dias, me parece evidente a falta de… equidade.

Um maior poderio económico deve possibilitar adquirir melhores profissionais, utilizar instalações mais adequadas e reunir todas as condições consideradas necessárias para se atingir o sucesso desportivo. Contudo, em momento algum deve contribuir para jogar com regras diferentes. E em Portugal, ao decidir-se que apenas seis clubes podem ter equipas B a jogar na 2.ª Liga, é isso que está a acontecer. E a questão não se resolveria possibilitando que os restantes 10 membros do escalão principal tivessem equipas B nas divisões inferiores. Na época de recuperar este modelo todas as equipas da 1.ª Liga deviam poder ter equipas B e jogar na mesma divisão. Tudo o que não seja assim é, no mínimo, injusto.