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Olhos de ver

Os Jogos Olímpicos não são para Portugal?

22 Agosto, 2016 0

A judoca portuguesa Telma Monteiro, transportou a bandeira de Portugal, durante a cerimónia de encerramento  Jogos Olímpicos Rio 2016, disputada no Rio de Janeiro, Brasil, 21 de agosto de 2016. A XXI ediçãos dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, decorrem no Brasil entre os dias 06 - 21 de agosto. ANTÓNIO COTRIM/LUSA / Rio 2016: Cerimónia de encerramento / LUSA / ANTÓNIO COTRIM / BRASIL JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016 / Jogos Olímpicos de Verão / © 2016 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. / JOGOS OLIMPICOS / Rio de Janeiro

Terminaram os Jogos Olímpicos no Rio e, como quase sempre sucede quando cai o pano no mais importante evento desportivo do Mundo, ficamos com a sensação de que somos um país irrelevante no contexto internacional do desporto. Ver Portugal, no medalheiro, equiparado aos Emirados Árabes Unidos ou à Moldávia não é, de facto, animador. Pior, contudo, é perceber que nações como a Malásia (5 medalhas), Tailândia (6), Geórgia (7), Coreia do Norte (7), Irão (8) ou Uzbequistão (13) apresentam números bem superiores.

Face aos resultados, muitos portugueses questionam se vale mesmo a pena enviar tantos atletas aos Jogos. De resto, por muito que sonhem (e ainda bem que o fazem), a maioria dos nossos representantes sabe que não terá qualquer possibilidade de conquistar medalhas. Um amigo, cansado de viver várias vezes a mesma realidade, já concluiu que os ‘Os Jogos Olímpicos não são para Portugal’.

Pois bem, mesmo sabendo que a contabilidade dos Jogos Olímpicos é feita através do número de medalhas que cada país obtém e que isso, historicamente, nunca nos colocou numa posição de destaque (o máximo que conseguimos foi três troféus em 1984 e em 2004), é ilógico pensar que, face à realidade, devemos restringir a participação olímpica, deixar de apoiar os atletas/modalidades ou olhar para o evento com total indiferença. Independentemente dos resultados, os Jogos Olímpicos são para Portugal. Como são para todos os países, dos mais poderosos aos que ainda anseiam pela primeira medalha. Devemos ter orgulho em ver os nossos atletas participar naquela enorme festa, não devemos aceitar é que a presença se transforme numa enorme festa, sem qualquer tipo de exigência.

Os atletas portugueses têm de continuar a tentar melhorar os seus registos. Mas se a tentativa de evolução é um dos princípios do desporto, convém que os outros portugueses (os que assistem aos Jogos pela televisão) percebam que enquanto o Mundo existir conforme o conhecemos jamais será possível ver um pequeno país fazer frente a colossos como Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, França ou Japão.

Portugal não tem a base de recrutamento dos países mais populosos (somos apenas o 88.º nesse ‘ranking’), o poder económico das nações mais ricas, nem se assume como potência mundial num único desporto olímpico. Historicamente, o nosso país só é crónico candidato a todas as competições de uma modalidade. Porém, para nosso azar, o hóquei em patins não faz parte do programa. Pior: não parece que venha a fazer tão cedo. Ainda mais grave: quando apareceu nos Jogos de Barcelona, em 1992, com o estatuto de modalidade de exibição, ficámos… em quarto.

Em 24 presenças nos Jogos, Portugal soma outras tantas medalhas, das quais apenas quatro são de ouro (todas no atletismo). A média é fácil de fazer. Tão fácil que volta a mostrar-nos uma realidade que nos sabe a pouco. Mas, contra factos não há argumentos. Contudo, é abusivo (errado e injusto) concluir-se que o Azerbaijão ou o Irão, por exemplo, são países com melhor desporto em relação a Portugal só por terem mais medalhas. A classificação dos Jogos é feita pelo número de medalhas e com a especificidade de considerar mais importante um ouro do que hipotéticos 10 galardões de prata ou 20 de bronze, mas a qualidade média do desporto de uma nação mede-se de outras formas, até porque nos Jogos não entram todas as modalidades, não se pode participar com o mesmo número de atletas em todas as competições (o atletismo permite três por prova, mas no judo, boxe ou taekwondo, por exemplo, apenas cabe um por peso, enquanto na vela ou canoagem só se aceita uma embarcação por classe) e o programa não engloba a totalidade das várias disciplinas/especialidades que existem em certos desportos. De resto, em muitas modalidades o acesso é bastante restrito, enquanto noutras (com destaque para o atletismo) abre-se a porta de modo a possibilitar a participação de praticamente todas as nações nem que seja apenas numa prova. É por isso que nem sempre a mesma posição deve ser lida apenas como um número. O nono lugar de Luciana Diniz, na competição individual de obstáculos no hipismo, entre quase 80 concorrentes, tem mais peso que o mesmo nono lugar de Rui Bragança, no taekwondo, numa prova onde só participavam 16 elementos (e onde um foi desclassificado sem competir). Porém, se quisermos ver de outra forma, a qualificação de Bragança para os Jogos foi bastante mais exigente…

Para se ter uma noção mais real do valor médio do desporto de um país, faz mais sentido contabilizar o número de diplomas alcançados (lugares entre os oito primeiros), os pontos obtidos por cada Comité (atribuindo 8 aos vencedores, 7 às medalhas de pratas, 6 ao bronze e terminando com 1 para os oitavos colocados) ou até as posições conseguidas referentes a semi-finalistas (entre os 16 melhores).

Gastando algum tempo a fazer as contas, rapidamente se percebe que Portugal é uma nação com um desporto muito mais desenvolvido em comparação com, por exemplo, o Quénia. As 13 medalhas que os africanos conquistaram no Rio foram todas obtidas no atletismo. Aliás, das 100 que já arrebatam em 14 presenças nos Jogos, 93 foram no atletismo (92 em corridas e somente uma em disciplinas técnicas) e 7 no boxe. De resto, é quase um deserto de resultados relevantes. E há muitos mais exemplos destes, como o Irão que totaliza 68 medalhas distribuídas por escassos quatro desportos (43 na luta, 18 no halterofilismo, 6 no taekwondo e 1 no atletismo). Fora as três modalidades principais… o seu desporto tem uma expressão bem diminuta.

Voltemos ao hóquei em patins. Nas 42 edições do Campeonato do Mundo da modalidade, Portugal esteve no pódio em 39 ocasiões. Alcançámos medalhas em 92.8% das presenças. Tendo em conta que o primeiro Mundial se realizou em 1936, seria expectável que nos 19 Jogos Olímpicos que se realizaram desde então, o nosso país conquistasse 17/18 medalhas só nesta modalidade. E não é exagerado, mantendo as percentagens verificadas nos Mundiais, pensar que 7/8 seriam de ouro. As nossas contas nos Jogos dariam um salto tremendo só com a presença desta modalidade. Contudo, o valor médio do nosso desporto iria continuar a ser exactamente o mesmo…

Filipe da Silva: um português “a sério”

24 Maio, 2016 0

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Filipe da Silva, como sempre escrevi, ou Philipe da Silva, como sempre foi tratado em França, encerrou no passado fim-de-semana, aos 36 anos, a sua carreira basquetebolística. Tive conhecimento da notícia pelas redes sociais e, de imediato, fui buscar memórias de grandes momentos passados a ver o Filipe jogar, principalmente ao serviço da Selecção Nacional.

Não sei quantos jogos vi do Filipe com a camisola nacional. Acredito que a maioria dos que disputou, seguramente os mais importantes (as fases finais do Campeonato da Europa em Espanha e na Lituânia) e com toda a certeza aqueles em que melhor exprimiu a sua imensa qualidade: em Logroño, contra a Espanha, no primeiro compromisso dos nossos vizinhos depois de terem conquistado o Mundial; e em Paris, num torneio de preparação para o Europeu de Espanha, com a bancada repleta de familiares e amigos do Filipe.

Devo dizer, desde logo, que o Filipe foi um dos melhores jogadores portugueses de basquetebol que vi em acção. Mas, para mim, não era só pelo que fazia com a bola nas mãos que o Filipe se distinguia da maioria. A vontade, a alegria, a intensidade ou a disponibilidade que colocava em cada lance rapidamente faziam com que não passasse despercebido. De resto, pare ele, representar Portugal era algo sublime. Conheço outros casos de atletas, no basquetebol e não só, que vibravam (e vibram) tanto como ele a escutar o nosso hino, mas não me lembro de nenhum que o sentisse mais. Muito provavelmente, o facto de ter vivido longe de Portugal tornou-o um português ainda mais “a sério”.

Mas o Filipe também não é “só” isso. Quando o conheci, depois de muitos anos emigrado em França, era um rapaz que já não conseguia esconder o sotaque. Por isso, claro, era alvo de muitas brincadeiras dos colegas. Simpático e humilde reagia (quase) sempre a sorrir, sem se importar. Estar ali era o mais importante e as “palhaçadas” eram um óbvio sinal de aceitação no grupo.

Recordo com saudade as sessões de sueca que serviam para atenuar o stress próprio de quem tem no desporto não um “hobby”, mas sim uma profissão. Aí, confesso, o Filipe era um bom “freguês”. Embora nem sempre por culpa própria…

O Filipe deixou de jogar em França, depois de passagens também por Portugal e Espanha. Espero que continue ligado à modalidade e que passe por Portugal um destes dias para, ao vivo e a cores, lhe dar o abraço que lhe deixo desde já por aqui.

PS – Sei que o Filipe tem um sucessor à altura. Diz quem viu que o filho não engana. Se jogar com a alma do pai… não haverá mesmo margem para erro.

Pinto da Costa mudou

8 Abril, 2016 0

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A recente entrevista do presidente portista ao Porto Canal confirmou aquilo que há muito todos percebemos: Pinto da Costa mudou. Agora, ao invés do que sucedeu durante décadas, assume os seus erros, envia recados públicos aos jogadores, não garante a continuidade de um treinador com contrato, confessa ter aceitado comprar futebolistas que desconhecia e confirma ter sentido vergonha ao ver o seu clube perder em casa com o Tondela. Isto, há uns anos, seria impossível. Os problemas, claro, podiam ser idênticos ou parecidos, mas a gestão dos mesmos era feita de outra forma, dentro de casa, sem a exposição mediática que agora se observa. O modelo que vingou como nenhum outro na história do desporto nacional parece estar esgotado.

Para muita gente, a mudança de estratégia está directamente ligada à idade de Pinto da Costa. Sinceramente, não creio que seja essa a questão. É verdade que os 78 anos já não permitem ao líder dos dragões uma actividade tão frenética quanto no passado, é óbvio que agora sente outra necessidade de delegar funções que antigamente jamais deixavam de estar sob sua alçada. No entanto, basta vê-lo em acção para se perceber que o presidente do FC Porto ainda aí está para as curvas. O que mudou, verdadeiramente, é que o clube, de repente, passou a estar distante do sucesso desportivo. E é aí que todos os problemas começam. No Porto ou em qualquer outro local.

Já li e ouvi muitos comentadores admirados com a súbita onda de contestação no FC Porto e, por extensão, a Pinto da Costa. Tudo porque o número um portista era intocável. De facto, durante vários anos assim pareceu. Contudo, essa “barreira protectora” tinha uma razão de ser bem evidente: os resultados positivos. No FC Porto, como no Benfica ou no Sporting, tudo está bem quando se ganha ou, pelo menos, se vai ganhando com regularidade. Ora, sob a batuta de Pinto da Costa o clube nortenho venceu como nunca antes o fizera. Em quantidade e qualidade. Como é que uma eventual oposição ao presidente podia ter visibilidade? Não era possível, mesmo que pelo caminho se fossem identificando erros ou opções discutíveis. Colocar em causa o rumo trilhado por Pinto da Costa era, por si só, fatal para quem ousasse levantar a voz. Quem o fizesse estava condenado a falar praticamente sozinho. Os sócios e adeptos alimentam-se de triunfos…

Agora, o cenário mudou. O FC Porto vai cumprir o terceiro campeonato seguido sem vencer. Pior: isso irá acontecer quando continua a ter o maior orçamento dos três grandes. Por outras palavras: o investimento existe, mas parece objectivamente estar a ser mal feito. E se dúvidas existissem em relação a isso, o próprio Pinto da Costa o garantiu nesta entrevista.

Pouco tempo depois de assegurar que a equipa portista só não estava na liderança do Campeonato devido aos erros dos juízes, Pinto da Costa mudou a agulha e – mesmo entre indirectas a adversários e arbitragem – confirmou o que todos sabemos: o FC Porto está atrás de Benfica e Sporting porque, com tantos erros antes e durante a época, seria virtualmente impossível surgir à frente dos rivais. Nas suas palavras, isto equivale a: “batemos no fundo”…

Um óscar para o jornalismo

29 Fevereiro, 2016 0

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O “Caso Spotlight” venceu a categoria mais importante da edição deste ano dos Óscares. Confesso que, não sendo grande cinéfilo, fiquei surpreendido com a decisão dos especialistas. Essencialmente porque o filme não tem imagens espectaculares, grandes cenários ou interpretações particularmente exigentes. Admitindo a minha escassa (para não dizer nenhuma) competência em torno do assunto, creio que tecnicamente é um filme relativamente fácil de fazer. A única coisa que imagino ter sido complicada foi condensar em cerca de duas horas a muita informação relevante que o argumento possuía. Dito isto, e provavelmente indo contra a ideia que já possa estar a formar, adorei o filme.
Não sou religioso, mas não tenho rigorosamente nada contra quem o é. E isso é válido para os católicos, como para os muçulmanos, hindus e todos os outros credos. Saber que os meus familiares, amigos ou vizinhos acreditam nisto, naquilo ou em nada é algo que não mexe comigo. É um assunto que só lhes diz respeito. Contudo, sempre me fez imensa confusão ver gente que, publicamente, defende a paz, a solidariedade, o respeito, a ajuda aos mais fracos e desprotegidos, mas que, em privado, esquece toda a conversa que apregoa e actua com verdadeiros requintes de malvadez. Mais valia, pura e simplesmente, estarem calados. Pelo menos não eram hipócritas.

O tema que está na origem do “Caso Spotlight” é, pelo que atrás referi, algo que me interessa muito. E que tem o condão de me deixar tão perplexo, como revoltado. O abuso sexual de crianças é algo que nem quero adjectivar, tal como provavelmente a grande maioria dos pais prefere fazer para não correr o risco de desatar a gritar (ou a escrever) expressões ordinárias. Aproveitar a debilidade alheia, elegendo preferencialmente para os seus devaneios crianças oriundas de famílias disfuncionais e de meios sociais carenciados… só torna tudo pior. A prática é abjecta, o “modus operandi” realça o nível de quem tem estes hábitos. Perceber que tantos membros da Igreja Católica, em Boston e em tantos outros locais pelo Mundo fora, foram capazes de fazer tamanhas atrocidades é algo que, imagino, deve fazer corar de vergonha todos os católicos. E saliento isto tendo perfeita noção que a esmagadora maioria condena de forma veemente estes comportamentos.

Já conhecia há muito o “Caso Spotlight” e, claro, aproveitei este filme para refoçar a minha convicção de que o mundo está repleto de gente que não interessa, como diz o povo, nem ao Menino Jesus. Mesmo que alguns teimem em dizer-nos que são seus seguidores…

Mas, se a exposição maciça deste tema é algo que me agrada, pois nunca se fará o suficiente para desmascarar e denunciar quem alinha nesta pouca vergonha – molestando as crianças ou abafando a situação -, o que me fez adorar o filme foi ver, de novo, muita gente a olhar com respeito para os jornalistas. E eu, que pertenço à classe literalmente desde o século passado, já tinha saudades disso.

Não sou corporativista ao ponto de pensar que todos os jornalistas, nos Estados Unidos ou em Portugal, são bons. Dizer isso seria uma mentira. Há maus, péssimos e satisfatórios, mas também bons, muito bons e excelentes. Mas, pelo menos por cá, desde o aparecimento da internet e das redes sociais, a maioria das pessoas vê nos jornalistas um grupo de pessoas pouco qualificada, sem regras nem escrúpulos, com um trabalho menor. Não é bem assim.

O jornalismo continua – e continuará sempre – a ser uma missão nobre, capaz de desempenhar na sociedade um papel fulcral, que começa na simples função de informar, mas que também deve denunciar, provocar debate, transmitir conhecimento, convidar à reflexão ou defender causas entre tantas outras coisas. Hoje, é verdade, qualquer pessoa pode ter um site ou blogue ou escrever o que lhe apetecer no twitter ou no facebook. Contudo, não é por isso que passam a poder equiparar-se aos jornalistas. E não estou com isto a dizer que não há por aí que faça um trabalho tão válido quanto os profissionais ou que não há jornalistas que se demitem das funções e validam todas as informações que apanham por aí. O que pretendo dizer é que sendo verdade que todos podem ser jornalistas, não é jornalista quem quer…

Lopetegui soma e segue

4 Janeiro, 2016 0

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Fiquei surpreendido quando o FC Porto, em 2014, contratou Lopetegui. Mais do que desconfiar das suas capacidades, pareceu-me estranha a opção por alguém com pouca “rodagem”. Eu sei que tinha boa folha de serviço nas selecções jovens espanholas, mas faltava-lhe experiência à frente de clubes. Dirigir o Rayo Vallecano e o Castilla, no escalão secundário espanhol e com um registo cinzento, não me parecia “embalagem” suficiente para tomar conta de um emblema com outras responsabilidades e ambições. Um emblema habituado a ganhar nas últimas décadas e a apostar em treinadores experimentados (nem que fosse enquanto adjuntos) estava, aparentemente, a mudar de rumo. E a fazê-lo quando pretendia, a todo o custo, impedir o Benfica de chegar ao bi-campeonato.

Não foi preciso esperar muito para reforçar a ideia de que Lopetegui era um “tiro no escuro” de Pinto da Costa. A sua forma de gerir um plantel recheado de qualidade foi questionável desde a primeira hora. E isto não significa que não entenda uma ou outra alteração. Todos os treinadores as fazem e, diga-se em abono da verdade, tem mesmo de ser assim. Existem lesões e castigos; provas e jogos mais importantes do que outros; momentos de quebra e subida de forma; jogadores que tardam em adaptar-se a novas realidades e outros que, por esta ou aquela característica, são mais indicados para defrontar determinados adversários. Há até que gerir o esfoço acumulado ao longo de meses de treinos, viagens, estágios e jogos.

Mas, na ideia do basco, tudo serve para alterar a equipa. Pelas razões atrás referidas, por outras mais específicas e por algumas que, decididamente, só ele descortina. As constantes alterações no onze ao longo da temporada anterior foram uma ajuda preciosa para o Benfica de Jesus festejar o título.

Pensei que Pinto da Costa tinha segurado Lopetegui para dar continuidade ao seu antigo hábito de só despedir treinadores no decorrer da época em último caso. Acreditava que, no arranque da actual temporada, já seria outro o timoneiro no Dragão. Enganei-me. E parece que também se enganou o experimentado líder ao manter-se fiel a uma aposta arriscada de entrada e, após uma época de teste, completamente ilógica face aos desejos de SAD e adeptos.

Pinto da Costa já percebeu que errou, pois é virtualmente impossível não ter constatado isso. Ou que ninguém o tenha alertado para essa óbvia realidade. Bem pode tentar driblar a questão com declarações de circunstância, mas ele – melhor que ninguém – sabe que o caminho que a equipa trilha não á aquele que imaginou.

Mas, por estes dias, ver e ouvir Lopetegui chega a ser surreal. Enquanto se entretém a misturar os seus jogadores que, salvo duas ou três excepções, são quase todos susceptíveis de passar do onze para a bancada ou vice-versa, o técnico parece não reparar que a equipa tem dificuldade em afinar rotinas exactamente por culpa do seu ímpar modelo de gestão. Para ele, mudar a dupla de centrais é tão normal como abdicar da titularidade de André André quando o médio era uma das peças fulcrais da equipa. Imbula, o tal que custou 20 milhões, parece que desaprendeu, o mesmo se podendo dizer de Bueno, Tello ou até de Osvaldo que está de abalada. O técnico quer os jogadores, mas raramente parece saber o que fazer com eles. Só assim se explica que tenha tardado em dar minutos ao talentoso André Silva, mas que depois pretendesse vê-lo ajudar a mudar o jogo em Alvalade.

Mas, o problema não é só “baralhar e dar de novo” os jogadores. As opções tácticas são cada vez mais estranhas. Alguém se lembra de ver o FC Porto ir jogar um embate decisivo (como com o Chelsea) e abdicar de avançados? E em Alvalade, a perder, será normal tirar um dianteiro (Aboubakar) para lançar André Silva? Em sua própria defesa não ficaria melhor perder o jogo a arriscar qualquer coisa? Jorge Jesus diz que não é bem assim. Tem razão. Mas, só para recordar, quando o Sporting perdeu na Madeira com o União, o técnico leonino acabou com Slimani, Montero e Tanaka lá na frente. E com Matheus Pereira por perto…

Lopetegui assegura ter condições para continuar e proclamou, após a derrota em Alvalade, que o FC Porto vai ser campeão. Pode até acertar, mas convém recordar-se que a época passada disse a mesma coisa e falhou. O treinador vive em constante estado de negação. Parece ser a única pessoa que não vê e ouve a contestação dos adeptos e dos históricos do clube; que não entende as mensagens dos Super Dragões antes, durante e depois dos jogos. Para ele, tudo se resume ao desejo dos jornalistas em vê-lo “cortado às postas”. São esses malvados, claro, que inventam notícias para semear a confusão na equipa. E devem ser os mesmos que o apupam empunhando lenços brancos. Só pode!

PS – Não me recordo, em Portugal, de ver um treinador à frente do Campeonato e a ser assobiado pelos seus próprios adeptos num jogo em casa. Mas foi isso que aconteceu no recente FC Porto-Marítimo para a Taça da Liga. De lá para cá só mudou uma coisa: o líder da prova principal.

PS 1 – Em Maio último escrevi isto sobre Lopetegui. Mudou muito? Não creio

A arte de ganhar por poucos

11 Dezembro, 2015 0

O Sporting é o líder isolado da Liga, quando estão disputadas 12 jornadas. É verdade que ainda faltam muitas partidas até a época se decidir, mas os leões têm trabalhado para, tal como prometeu Jorge Jesus aquando da sua apresentação em Alvalade, lutar pela conquista do título. No entanto, consultando a classificação percebe-se que as diferenças para o FC Porto não são muitas. Objetivamente são 2 pontos, com a particularidade de ambos os conjuntos ainda não terem perdido e somente terem sofrido 5 golos. Mas, sendo assim – e tendo também em conta que os dragões até acertaram mais 4 vezes nas redes adversárias – , onde é que reside a grande diferença entre os dois emblemas?

Provavelmente, se nos centrássemos na análise tática, encontraríamos vários aspetos suscetíveis de provocar a ligeira diferença mas, neste caso, deixamos isso de lado. Olhamos, apenas e só, para os números. E aí somos levados a eleger a capacidade que o Sporting vem revelando para ganhar jogos apertados como a principal justificação para o comando da Liga nesta altura. Nas derradeiras quatro rondas, os leões venceram sempre por 1-0, mas mais impressionante é perceber que nos 10 jogos em que conquistaram o triunfo… sete foram conseguidos pela diferença mínima (1-0 em cinco ocasiões e 2-1 em mais dois encontros). Um dado verdadeiramente invulgar, pois não é fácil encontrar – em Portugal e não só – equipas que tantas vezes (em somente 12 jornadas) joguem até ao derradeiro apito sem o jogo ‘fechado’ e não somem um ou outro tropeção.

O FC Porto é a segunda equipa com melhor balanço nos embates decididos por um só golo, visto que ganhou três vezes assim e, já se sabe, ainda não perdeu. Contudo, o Rio Ave é o clube que mais vezes (4) festejou vitórias à justa depois do Sporting.

Mas também há quem não se dê nada bem com os duelos equilibrados. E se os casos de U. Madeira e Boavista são evidentes, a situação do Tondela é… dramática, pois sete dos seus nove desaires no campeonato foram por um só golo. Quem resiste a isto?

SABIA QUE…

A última jornada foi a primeira sem expulsões? Os árbitros não exibiram um único vermelho nos nove jogos. Pela terceira vez na temporada houve uma ronda com cinco penáltis? E tal como nas anteriores, uma só equipa beneficiou de dois. Agora, o Benfica, antes Sporting (3.ª jornada) e Sp. Braga (5.ª).

O Sporting é a única equipa que nunca sofreu mais do que 1 golo por jogo? Os cinco remates que Rui Patrício não susteve aconteceram em cinco partidas diferentes.

O U. Madeira marcou mais golos (4) nas duas últimas jornadas do que em todas as outras (3)? E os dois obtidos nesta ronda tiveram forte impacto, já que valeram importante sucesso diante do Tondela (2-0).

O FC Porto passou a ser a equipa com mais remates na prova (176)? Mas o Benfica tem 175 com um jogo a menos…

Clippers-Golden State: Veja e diga se exagerei

20 Novembro, 2015 0

Não faço ideia do número de jogos de basquetebol a que já assisti. Sei que foram muitos. E foram assim tantos porque, como é fácil perceber, tenho desde cedo enorme paixão por esta modalidade que pratiquei a partir dos 9 anos. Adiante…

Sempre tive alguma dificuldade em perceber as pessoas que, mesmo não tendo qualquer ligação com o basquetebol, ficam indiferentes a espectáculos de enorme qualidade. Então se essas pessoas gostam de desporto é ainda mais complicado entender esse óbvio contra-senso. Sim, gostar de desporto e não apreciar um bom jogo de basquetebol é algo que, pura e simplesmente, não encaixa. E não me venham sequer falar das regras, do nome dos jogadores ou de outra coisa qualquer. Não é preciso dominar todas as vertentes de uma qualquer modalidade para nos sentarmos no sofá e apreciar as imagens que nos chegam. No basquetebol, então, com regras tão lineares, todos podem olhar para a televisão e perceber o que se passa.

Vem toda esta conversa a propósito do embate entre os Los Angeles Clippers e os Golden State Warriors, na madrugada de sexta-feira, em mais uma jornada da NBA. Por ter assistido a tantas partidas de basquetebol posso afiançar que esta constituiu um verdadeiro hino à modalidade. Não, não estou a exagerar. Este jogo, que em Portugal começou para lá das 3.30 da manhã e se prolongou até perto das 7, foi um verdadeiro espectáculo. Foi tão intenso que, confesso, quando o acabei de comentar na Sport Tv estava… cansado. Até parecia que tinha andado a correr atrás daqueles atletas espantosos.

Face ao adiantado da hora é evidente que muitos portugueses não tiveram posibilidade de assistir, em directo, a um dos melhores jogos que vi em muitos anos. Por isso – e face ao facto de vivermos numa época que nos permite estas veleidades – faça um favor a si próprio: se gosta de basquetebol, de desporto de uma forma geral ou tão somente de grandes espectáculos… encontre maneira de ver este encontro. Vai ver que não dará por mal empregue o seu tempo.

Acredito que muitos, por esta altura, pensam que estou a “puxar a brasa à minha sardinha”. Bom, aqueles que me conhecem sabem que às sardinhas, a puxá-las para algum lado, terá de ser para bem longe de mim… Falando a sério: não estou a exagerar nem um pouco. O duelo entre duas das melhores equipas da actualidade na NBA foi mesmo sensacional. E teve de tudo, desde alta pontuação a desempenhos individuais de excelência (com destaque para Stephen Curry e Chris Paul). De resto, houve incerteza quanto ao vencedor até bem perto do final, chuva de lançamentos triplos concretizados, alternâncias no comando do marcador, “afundanços” poderosos e lances sensacionais por parte de vários jogadores.

Se ainda duvida do que estou a dizer, então deixe de lado as minhas palavras e veja o que os norte-americanos pensam sobre o jogo. Ok, o pessoal nos Estados Unidos tem uma enorme ligação ao basquetebol. Se calhar, noutras paragens, não vibraram assim tanto com o jogo. Então espreitemos o que foi escrito em Espanha, Itália, França, Brasil ou Argentina. Estarão todos enganados? Não, não estão. Mas veja por si mesmo e depois diga-me o que achou…

PS – Se não puder (ou conseguir) ver o jogo todo, fique pelo menos com este pequeno resumo. Sempre dá para ter uma ideia.

Muro de betão no Minho

12 Novembro, 2015 0

Se é certo que o Benfica – tal como o FC Porto – tem uma partida em atraso com o U. Madeira e isso pode proporcionar-lhe atingir os 21 pontos, a verdade é que, por agora, o Sp. Braga (20) ocupa um excelente terceiro lugar na classificação. O ataque minhoto, com 17 remates certeiros, não está nada distante dos 18 dos dragões ou dos 19 do líder Sporting. Só os encarnados, com 22, estão um pouco longe. Mas, se calhar, muito do atual sucesso arsenalista deve-se, em primeira análise, ao acerto defensivo da formação comandada por Paulo Fonseca.

Os bracarenses somam quatro golos sofridos, exatamente tantos quanto o FCPorto. Contudo, como já se referiu, a equipa de Lopetegui tem um jogo a menos, razão pela qual a média dos minhotos (0,4 golos encaixados por partida) é ligeiramente melhor . Mas, mais notável é constatar que o Sp. Braga cumpriu nesta 10.ª jornada, na Madeira, o quinto jogo consecutivo sem ver a sua baliza violada na prova. Com efeito, o sector recuados dos minhotos passou incólume no dérbi em Guimarães (1-0), na receção ao Arouca (0-0), na deslocação ao Dragão (0-0), na goleada caseira ao Belenenses (4-0) e agora no triunfo na Choupana face ao União (1-0).

A última vez que o russo Kritciuk, de 24 anos, foi buscar a bola dentro da baliza por si defendida aconteceu na quinta ronda. O autor da proeza foi o brasileiro Dyego Sousa, avançado do Marítimo. Desde então passaram 502 minutos, o que equivale a mais de 8 horas de futebol. Notável!

Por mais estranho que possa parecer, o Sp. Braga não começou a época com a dupla de centrais que agora está em alta (Boly e Ricardo Ferreira). As primeiras opções recaíram em Aderlan Santos – entretanto negociado para os espanhóis do Valencia – e André Pinto.
Olhando para as defesas menos batidas à passagem da 10.ª jornada na última década conclui-se que os minhotos começam a estar habituados a apresentar defesas de betão. Aliás, neste período, o recorde pertence-lhes, pois na época 2005/06, após uma dezena de encontros, apenas tinham sofrido dois golos.
SABIA QUE…
» O U. Madeira (só tem 8 partidas cumpridas) marcou 1 golo nos últimos sete encontros? Os insulares festejaram duas vezes na ronda inaugural (frente aos rivais do Marítimo), mas desde então só acertaram um pontapé na baliza do Estoril.
» Nas últimas cinco rondas (com dois jogos em atraso) foram assinalados apenas 4 penáltis? Nas primeiras cinco tinha sido… 18!
» Benfica e FC Porto, apesar de terem um jogo em atraso, são as duas equipas com mais remates? As águias somam 150 ‘tiros’ e os dragões já ‘dispararam’ 139 vezes.
» O golo do leão Slimani, em cima do apito final, impediu o Arouca de somar o sexto empate seguido? Ainda assim, os nortenhos são os reis dos empates (6) na competição.
» O líder Sporting foi a primeira equipa a conseguir quatro vitórias consecutivas na época?

Quem tem medo do “Football Leaks”?

1 Outubro, 2015 0

 

Confesso que não deve ser agradável acordar e perceber que, desta ou daquela forma, informações que julgávamos confidenciais (e por isso mesmo só ao alcance de meia dúzia de pessoas… quanto muito) circulam, sem qualquer controlo, nas redes sociais. Isso não é simpático se estivermos a falar de documentação sensível respeitante a um clube (ou SAD), da mesma forma que seria desconfortável se em causa estivesse o nosso extracto bancário, a declaração de IRS de um familiar próximo ou o ficheiro clínico de um amigo.

Feita a introdução – onde, ainda que genericamente, posso dizer que me solidarizo com todos os que, em nome individual ou colectivo, viram informação que pensavam privada tornar-se totalmente pública – devo acrescentar que, como tantas outras pessoas, também não resisti à tentação de ir visitar o blog do momento, o “Football Leaks”. E ressalvando o que atrás afirmei…gostei do que vi. Dito de outra maneira: gostei do que me proporcionaram ver. Há ali muita matéria interessante. Para quem é jornalista, é certo, mas igualmente para qualquer adepto. E se assim é, tal como sucedeu com a “Wikileaks” em relação a outras áreas, ainda bem que alguém a disponibilizou. O interesse público é evidente. E não diminui por, quase de certeza, o material ter sido obtido de forma ilegal. Isso é outra questão.

Não é segredo para ninguém que o futebol esconde (cada vez menos) um mundo de práticas, no mínimo, discutíveis. E por muito que nos tentem dizer que a lei protege determinados comportamentos ou ligações, a verdade é ninguém com dois dedos de testa precisava do aparecimento do “Football Leaks” para saber que, numa milionária indústria, que movimenta milhões e milhões de euros por ano, existe muita coisa com cheiro nauseabundo. E pouco me importa se, neste ou em qualquer outro caso, os holofotes incidem mais sobre o clube A, B ou C. Para mim, ao mais alto nível, em Portugal, na Europa ou onde quer que seja, poucos (para não dizer ninguém) devem aproveitar este ou aquele momento ou facto para atirar pedras ao telhado do vizinho. É que rapidamente o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Será, apenas e só, uma mera questão de tempo.

É normal que clubes, dirigentes, treinadores, jogadores ou empresários fiquem aborrecidos por verem escarrapachados na net dados que, em teoria, não deviam ser públicos. No entanto, se o futebol se regesse por regras diferentes, talvez todo este alvoroço não existisse. Seria assim tão ilógico, por exemplo, que no futebol, tal como sucede na NBA (e nas restantes ligas profissionais do desporto norte-americano), os salários dos protagonistas fossem públicos? Viria grande mal ao mundo se existissem tectos salariais, de modo a procurar o maior nivelamento possível entre todos os participantes numa competição, apesar de uns serem mais ricos que outros? Não me parece. E, naturalmente, poderíamos enumerar outras situações. Não vale a pena.

Nunca ouvi um profissional do desporto norte-americano lamentar-se por o seu salário ser do conhecimento público. E faz sentido que assim seja. Eles ganham todos muito, mas apenas e só porque lhes reconhecem talento e, claro, existe alguém disposto a pagar. De resto, se há um ror de dólares em torno da sua modalidade isso deve-se à popularidade do desporto, ao seu impacto. E isso está directamente ligado aos milhões de adeptos que fazem circular esse dinheiro das mais diversas formas. Logo, se é o povo quem paga a festa… é normal que qualquer cidadão saiba quanto recebe o jogador A ou B. Isto é completamente pacífico. Ou melhor: lá é…

Assim sendo, quero destacar a forma tranquila como Jorge Jesus reagiu ao facto de terem sido tornados públicos os termos do seu actual contrato com o Sporting. Pura e simplesmente borrifou-se para a questão. E fez bem. Ele recebe o que o clube lhe ofereceu (ou o que ele pediu, o que para este caso dá no mesmo) e ponto final. Se é muito ou pouco, todos podemos ter a nossa opinião, mas isso é irrelevante para o processo. De resto, todas as cláusulas existentes, por muito que nos pareçam adequadas ou desajustadas, são apenas o resultado do entendimento entre duas partes. Tudo normal.

Posto isto, importa salientar que, com excepção da questão abordada logo de entrada, só vejo uma razão para existirem muitos nervos de Norte a Sul com o aparecimento do “Football Leaks”: medo de que as desconfianças de todos nós acabem, perante a observação de determinados documentos, por se tornar realidades incómodas. Aliás, mesmo que tudo o que venha a lume possa ser legal, em alguns casos, pelo menos, vamos poder perceber que houve gente a mentir (ou a tentar iludir). Aos jornalistas, aos accionistas, aos adeptos, a toda a gente.

Destaco também a forma enérgica como, num ápice, apareceu uma legião de contestatários a criticar o “modus operandi” do “Football Leaks”. Aceito quem seja contra a publicação deste tipo de informação confidencial, mas estranho que entre esses apareçam muitos que, ao longo dos tempos, se têm entretido a dizer cobras e lagartos da Comunicação Social, alegando que não investiga, que tem medo, que sabe de determinadas coisas e se acobarda, etc, etc. Ora, se assim é, então não deviam aplaudir que a imprensa, quase que unanimemente, tenha dado eco às revelações do blog em causa? Ainda por cima, parece não haver a mais pequena dúvida de que os documentos são verdadeiros. E se o são, qual é o problema de divulgá-los? Aliás, muitos até ajudam (e acredito que continuarão a ajudar no futuro…) a provar que, afinal, algumas coisas que os adeptos pensavam ser mentiras dos jornais… eram verdade.

Nelson Évora: um verdadeiro campeão

27 Agosto, 2015 0

Aos 31 anos, Nelson Évora continua a demonstrar, independentemente da prova em que participa e do nome dos adversários, ser um atleta de eleição, um verdadeiro campeão. Depois de ganhar o Mundial de 2007, os Jogos Olímpicos de 2008 e de ter ficado em segundo no Campeonato do Mundo de 2009, o saltador teve de lidar de perto com a praga das lesões. Falhou os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e parou durante mais de um ano. Parecia estar já “fora de combate” no que se refere a resultados de excelência. Mas, se isso seria o normal para um atleta normal… Évora fez questão de nos confirmar que pertence a um outro lote. A medalha de bronze que arrebatou em Pequim, no mesmo local em que garantiu a glória ao “sacar” o ouro olímpico, foi simplesmente fantástica. Mais do que não seja por ter sido obrigado a chegar aos 17,52 metros. Para quem não saltava mais de 17,50 desde 2009… não se pode pedir mais.

Mas, no desempenho do saltador do Benfica neste Mundial há um outro aspecto que merece destaque: Évora apurou-se para a final no terceiro e último salto da qualificação e assegurou a medalha no sexto e derradeiro ensaio da final. Dito por outras palavras, teve de lutar até ao fim pelos seus objectivos e fê-lo, com nota alta, num cenário de tremenda pressão. Isso é só mais um sinal da sua inquestionável valia. Muitas vezes, mais do que ganhar, é preciso ser capaz de brilhar em determinado momento,nem antes, nem depois. A forma como Nelson Évora combinou a capacidade física, a qualidade técnica e o poder mental foi sublime. Mais uma vez mostrou ser um campeão. Sim, porque os campeões nem sempre são de ouro.

Daqui a um ano, no Rio de Janeiro, ele lá estará para tentar mais uma gracinha. E se outros possuem maior capacidade nesta fase, convém ter em atenção a invulgar predisposição que Évora tem para render quando é necessário. Se voltara ganhar uma medalha… não ficarei admirado.