Todos de olhos postos no investimento

10/12/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

A economia portuguesa cresceu 0,2% no terceiro trimestre e caiu 1% em termos homólogos, revelou ontem o INE. O NECEP da Universidade Católica evidencia o bom desempenho do consumo privado e do investimento e avisa para riscos nas exportações. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, admite uma recessão este ano inferior a 1,8%. Os economistas da Católica e do BPI elegem o investimento como variável central a acompanhar para melhor perceber a sustentabilidade do que parece ser a inversão do ciclo recessivo nacional.

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica

 

1. No 3.º trimestre de 2013, o PIB registou uma subida de 0.2% face ao trimestre anterior e uma quebra de 1.0% em termos homólogos, evoluindo acima da sua dinâmica recente (1.1% e -2.0%, respectivamente, no 2.º trimestre).

 

2. De um modo geral, as diversas componentes da despesa evoluíram muito acima da sua dinâmica recente com destaque para o investimento (formação bruta de capital fixo), que apresentou uma variação em cadeia de 1.5%, apesar de se manter ainda em patamares historicamente muito baixos e com um comportamento desfavorável em termos homólogos (-5.3%). A sinalização da recuperação do investimento é, ainda, corroborada pelo comportamento das importações, com significativas variações positivas em cadeia e homóloga (2.6% e 5.1%, respectivamente).

 

3. Também o consumo privado evolui muito acima da sua dinâmica recente, confirmando se os sinais positivos deste agregado observados no 2.º trimestre. De facto, apesar da variação homóloga do consumo se manter em terreno negativo (-1.1%), a variação em cadeia foi expressiva (1.1%), correspondendo a um acréscimo de 0.7 pontos percentuais face à observada no trimestre anterior (0.4%).

 

4. Apenas as exportações evoluíram abaixo da sua dinâmica recente, sendo também o único agregado com variação em cadeia negativa (-0.2%). Estes dados parecem confirmar que o bom comportamento das exportações nos últimos trimestres, com crescimentos tendenciais próximos dos máximos históricos, poderá ter atingido o seu limite, sendo de esperar algum abrandamento na procura externa, o que pode vir a condicionar as perspectivas de crescimento em 2014.

 

5. De notar que nos dados em cadeia há um saldo externo ligeiramente negativo, mas nos dados a preços correntes o saldo externo é positivo. Os dados do comércio externo continuam assim a ser muito influenciados pelo cálculos dos deflatores, muito difícil na actual conjuntura.

 

6. Nos próximos trimestres, o mais importante para o NECEP, será verificar a persistência da recuperação do investimento

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do Banco BPI

 

1. O detalhe do relatório do PIB não revelou surpresas, saindo em linha com o esperado. Pela positiva destacaria o bom desempenho do investimento, que tem que ser confirmado e não obstante este ter sido, em grande parte, devido à variação de stocks. Promissor é o crescimento do investimento em maquinaria e equipamento, ainda que esta tendência careça de confirmação.

 

2. Pela negativa, a queda das exportações, ainda que este deva ser um movimento conjuntural, reflexo de oscilações do ciclo de produção à escala global. De facto, tudo indica que a performance externa continua a ser favorável, com aumentos de quota de mercado e bom desempenho em todo o tipo de bens (com excepção dos automóveis).

 

3. No conjunto do ano, há espaço para que ocorram surpresas positivas e a economia acabe por contrair menos de 1,8%, a estimativa oficial. Todavia, independentemente do desempenho de 2013, os primeiros meses do próximo ano serão fundamentais para assegurar o regresso a uma trajectória de expansão sustentada.

 

4. Como variáveis a acompanhar sugere-se o investimento e as exportações, os motores essenciais da próxima fase do ciclo económico.

 

5. Quanto aos riscos, estes estão equilibrados e continuamos confortáveis com o cenário de expansão de 0,5% em 2014.

 

Rui Peres Jorge