Portugueses recuperam do choque do OE/2011 mas continuam pessimistas

24/02/2011
Colocado por: massamonetaria

Os consumidores portugueses estão menos pessimistas, conclui-se dos indicadores de confiança do INE e da Comissão Europeia publicados hoje. Rui Bernardes Serra analisa os números de Bruxelas e, além da melhoria da confiança dos consumidores, evidencia a melhoria do indicador de sentimento económico.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor

 

 

Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. O Indicador de Sentimento Económico da Comissão Europeia registou uma subida de 4.3 pontos, para 94.7 pontos, recuperando completamente da descida de 0.1 pontos do mês anterior e atingindo um máximo desde Agosto de 2008, reflectindo melhorias em todos os sectores, com excepção do Comércio a Retalho, mas onde acabou apenas por corrigir cerca de 1/3 da subida do mês anterior. Recorde-se que, em Novembro, havia feito um mínimo desde Dezembro de 2009.

 

2. Para o 1ºT2011, o indicador encontra-se a sinalizar uma subida de 0.4% do PIB (+0.2%, apenas com o registo de Janeiro), o que não corresponde, de todo, ao nosso cenário central. Com efeito, continuamos a esperar que a economia volte a observar uma contracção neste 1ºT2011, reflectindo, nomeadamente, a queda no Consumo Privado, em resultado das medidas de austeridade adoptadas no início do ano, que provocaram uma redução do rendimento disponível real das famílias, e haviam levado a uma antecipação do Consumo de Bens Duradouros, no 4ºT2010. Em todo o caso, esta melhoria da Confiança sugere um comportamento mais favorável da economia neste trimestre face ao que fora anteriormente antecipado

 

3. A Confiança dos Consumidores registou uma subida de 4 pontos para máximos desde Setembro de 2010, já que, no mês de Outubro, a Confiança afundou 12 pontos, pressionada pelas expectativas relativamente ao impacto das medidas de austeridade aprovadas no Orçamento de Estado de 2011 (OE-2011), particularmente o agravamento da carga fiscal em sede de IVA e de IRS e o corte de salários. Apesar da subida, a Confiança continuou pressionada, permanecendo cerca de 5 pontos abaixo da sua média histórica e a sinalizar uma contracção do Consumo Privado, de 0.7%, que, atendendo à antecipação do Consumo no 4ºT2010, até deverá pecar por escassa. Esta melhoria da Confiança resultou de Expectativas mais favoráveis, sobretudo, relativamente à Economia, mas também para a Situação Financeira do Agregado Familiar, e de menores Expectativas de Desemprego. Porém, em virtude da recente evolução dos rendimentos e dos preços, os consumidores ficaram ainda mais cépticos relativamente às Expectativas de Poupança. Refira-se que, agora, com a subida do índice de Expectativas para Situação Financeira do Agregado Familiar e com a queda do indicador análogo para a Situação Corrente, todos os referidos índices de Expectativas estão acima dos indicadores análogos referentes à Situação dos últimos 12 meses, o que não deixa de ser um sinal animador (embora historicamente também seja essa a tendência).

 

4. Ao nível dos indicadores de Expectativas de Emprego dos empresários (próximos 3 meses) do survey da CE, voltou-se a assistir a um comportamento globalmente desfavorável, caindo para mínimos desde Abril de 2010, ficando mais afastadas do limiar teórico da criação de Emprego, sendo que, do ponto de vista empírico, depois de 5 meses a sinalizar um crescimento do Emprego, passaram, pelo 2º mês consecutivo, a evidenciar uma destruição de empregos, algo que, de resto, vai de encontro ao nosso cenário de degradação da situação do Mercado Laboral, atendendo à esperada contracção da actividade neste início de ano. Por sua vez, os Consumidores (mais sensíveis às medidas de austeridade anunciadas) melhoraram as suas Expectativas de Desemprego para os próximos 12 meses, pelo 2º mês consecutivo, mas após 3 subidas, que tinham colocado o indicador no nível mais elevado desde Junho de 2009, um valor teórica e empiricamente consistente com um aumento do Desemprego na economia portuguesa.