Desporto: pouco produtivo e com salários altos?

06/04/2016
Colocado por: Nuno Aguiar

 

O desporto pode ter tanto de perícia como de sorte e azar. Às paixões que move junta-se um impacto económico que pode ser difícil de quantificar. A nova conta satélite do Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta novos dados que ajudam a entender a verdadeira dimensão deste sector com dados de 2010 a 2012. Em baixo, estão alguns dos principais números do da economia desportiva em Portugal.

 

 

O sector parece ser pouco produtivo e com salários acima daquilo que a generalidade dos portugueses ganha. No entanto, essas conclusões podem estar a ser distorcidas pela existência de entidades que os portugueses conhecem bem: as sociedades desportivas (SAD) que gerem os clubes de futebol.

 

 

 

O desporto representa 1,2% da produção realizada em Portugal, sensivelmente o mesmo que a indústria de produtos metálicos e mais do que o vestuário. De referir que, nesta classificação, o vestuário não inclui a indústria têxtil ou de calçado, por exemplo.

O mesmo tipo de análise – mas concentrado no emprego – mostra que o desporto tem um número de pessoas empregadas semelhante à indústria da madeira, papel e cartão.

 

Quando se compara a dimensão do sector do desporto em Portugal com outros países europeus, a comparação coloca o nosso país entre os últimos no ranking. Os dados referem-se, no entanto, a anos diferentes. Os números da líder, a Áustria, são de 2004, o mesmo ano que Chipre. Os valores da Suíça dizem respeito a 2008.

 

É um indicador mais limitado, mas ainda assim curioso. Segundo os dados publicados pelo INE, existem mais entidades de caça e pesca do que de futebol. São a categoria mais representativa dentro do sector do desporto. O INE não dá o número de praticantes, mas nota que a maior fatia também pertence a caça e pesca (27,4%). Na categoria “Desportos de grande participação” está o atletismo, o ciclismo, a ginástica, a natação, o ténis e o triatlo.

 

 

As exportações têm crescido, ao mesmo tempo que as importações caem. O resultado é um desagravamento do défice comercial desportivo. Estes números não incluem, por exemplo, transferências de jogadores de futebol, algo que os cálculos do INE não trazem. 

 

 

Entre os principais produtos vendidos ao exterior por empresas do sector desportivo, a categoria “outro material de transporte” é a mais importante, representante mais de metade das exportações. Dentro desta categoria estão, por exemplo, bicicletas, motas e embarcações de recreio.

 

As remunerações no desporto estão acima da média da economia. Essa conclusão simplista pode ser enganadora. Na realidade, essa conclusão resulta quase totalmente dos salários pagos pelas SAD, que são quase 8 vezes superiores à média nacional. O cálculo é feito dividindo as remunerações pelos trabalhadores do sector.

 

 

O sector do desporto tem um nível de produção por trabalhador abaixo da média nacional, tendo caído no último ano para o qual há dados (2012), ao contrário da generalidade do país, onde até se reforçou. O indicador está em milhares de euros por trabalhador.

 

Por último, outra conclusão que os dados permitem retirar é que é um sector que ganha muito face aquilo que consegue produzir. Pelo menos quando a comparação é feita com a média da economia portuguesa. Importa sublinhar que, tal como nas remunerações por trabalhador, também aqui pode haver alguma distorção relacionada com a inclusão das SAD, que têm salários muito elevados.

Nuno Aguiar