FMI está para ficar

26/06/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

 

Olli Rehn (Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros), Christine Lagarde (directora-geral do FMI) e Durão Barroso (Presidente da Comissão Europeia) Fonte: Hannelore Foerster / Bloomberg 

 

Sem se perceber bem porquê (já lá vamos) o arco do poder em Portugal virou baterias contra o FMI. Cavaco Silva não quer a instituição na troika, o PS também diz que quer soluções europeias e o Paulo Portas conta o tempo para ver o FMI fora daqui. Uma coisa é segura: Portugal contará com a presença e pressão do Washington por muitos e bons anos. 

 

As declarações dos responsáveis portugueses aproveitam um debate europeu que surgiu após o relatório do FMI ao primeiro resgate grego, no qual o FMI faz duras críticas ao programa de ajustamento e à actuação da Comissão Europeia.

 

A irritação de Bruxelas reavivou um debate antigo sobre a presença do FMI na Europa e recua à altura da constituição da troika (Na altura do resgate grego, os países do Norte com a Alemanha à cabeça levaram a deles avante e os do Sul perderam a negociação; Comissão Europeia não queria no início, mas como tantas vezes acontece acabou por seguir a posição dos vencedores; e BCE teve que se aguentar sem nunca gostar de Washington). É por isso sem surpresa que vemos Barroso e Jorg Asmussen falar no fim da troika.

 

Mas será que o FMI sairá de Portugal após o fim do programa de ajustamento em Junho de 2014? Quem acompanhar o debate em Portugal é tentado a admitir essa conclusão. Esta semana no Negócios tentámos perceber se esse cenário é possível e o que pode motivar os líderes nacionais, com Presidente à cabeça, a apontar baterias ao FMI. Vamos por partes.

 

O FMI pode sair de Portugal após Junho de 2014?

 

Não. Por várias razões, com demos conta na peça que avançámos esta semana:

 

– As regras do FMI mantêm vigilância reforçada aos países a quem empresta dinheiro (pelo menos até deverem menos de 200% da quota – os 26 mil milhões de euros emprestados equivalem a 2.300% da quota nacional);

 

– Os programas cautelares pressupõem a inclusão do FMI. No caso do FEEF, que nos empresta hoje o dinheiro da Zona Euro, o  envolvimento será procurado “em todos os casos” (ver página 4) e no caso do MEE (página 3) prevê-se que o FMI “quando possível” negoceie e avalie. 

 

– Mesmo o “leve” programa espanhol, financiado pelo ESM e dedicado apenas ao sistema financeiro, conta com o FMI como “monitor independente”.

  

– Fontes ouvidas pelo Negócios apontam para que faça sentido que FMI e Comissão continuem articulados, mesmo que apenas no período acompanhamento. Mais ainda em caso de programas cautelares;

 

– Finalmente, a Irlanda que tem servido de guia para o regresso aos mercados, pondera um programa cautelar, com o FMI. E tem activamente defendido a presença do FMI  na troika.

 

 

O que leva os responsáveis do arco do poder a apontar baterias ao FMI?

 

Esta questão é mais difícil de responder visto que:

 

– O FMI foi na troika a instituição que mais cedo defendeu a importância de olhar para ajustamento orçamental em termos estruturais permitindo reduções mais lentas de défice;

 

– Em termos internacionais, foi o FMI que se opôs à teoria da austeridade expansionista e que mais cedo avisou para os riscos  efeitos mais recessivos da austeridade

 

 

A justificar essa posição poderá assim estar uma estratégia de comunicação para o que agora se chama de pós-troika. Ricardo Santos, que acompanha Portugal no BNP Paribas, faz uma boa leitura:

 

“Em Portugal a ideia que começa a passar de não querer um envolvimento tão directo do FMI na troika, surgiu imediatamente depois do  episódio grego. Estes comentários parecem  antecipar de alguma forma  um segundo pacote de assistência financeira. Um programa cautelar, muito provável em 2014, dependerá essencialmente dos parceiros europeus e do BCE e não contará com o envolvimento directo do FMI. Dessa um segundo programa, desta vez precaucionário poderá não ser referido com um novo resgate”

 

Contudo, a olhando para o deverá acontecer, não será muito fácil argumentar que o FMI sairá de Portugal em Junho de 2014. O FMI está para ficar.

Rui Peres Jorge