E se Keynes nascer três vezes

31/01/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

Entre o final de 2008 e o início de 2009, com a economia mundial a afundar vertiginosamente, assistimos ao segundo nascimento de Keynes, economista praticamente proscrito desde a década de 70. Nesse período, o homem cujas ideias salvaram o mundo da grande depressão dos anos 30, voltou à ribalta, para gáudio de uns e desconfiança de outros e o mundo voltou a ouvir falar sobre a “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da  Moeda“.

 

Mas esses são tempo que já lá vão. Afastado o risco de depressão económica, os mercados financeiros começaram a acusar (e a aproveitar) as fragilidades nascidas no aumento do peso da dívida pública um pouco por todo o mundo. A ênfase no estímulo da procura agregada foi rapidamente substituida pela urgência de politicas de austeridade. 

 

Foi a segunda certidão de óbito que o mundo ocidental passou a Keynes que, com ela, viu cair significativamente o número de buscas no Google para níveis pré-crise.

 

 

Mas nem tudo o que parece é. A julgar por algumas recentes propostas e criticas à estratégia europeia de saída da crise, as notícias da morte de Keynes podem ser manifestamente exageradas. Senão vejamos:

 

1) Um dos primeiros sinais de uma possível segunda reanimação do economista chegou há uns meses, mas de fonte suspeita: a Confederação Europeia de Sindicatos (CES). No final de Setembro de 2010, após a criação do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, Ronald Janssen, um dos economistas da CES, defendeu que os 500 mil milhões de euros deveriam ser canalizados para um plano de investimento público e não para evitar perdas nos bancos:

 

The 500 billion effort (160 billion each year) will lift the level of economic activity by 240 billion in 2011, 2012 and 2013. In return, member states do need to commit to reducing their deficits. The big difference however with the 'austerity 'scenario is that member states will not be put in the impossible situation of being forced to reduce deficits at the cost of a renewed economic downturn. Instead, the European Investment initiative will revive economic activity, thereby delivering member states the possibility to grow out of deficits and debt. Deficits would in this way be reduced by 120 billion or 1, 5% of Euro Area GDP, bringing the average deficit back to 4, 5% of GDP in 2011, 2012 and 2013. From 2014 onwards, the European stimulus is to be withdrawn.   

 

 

2) Já este mês, uma proposta na mesmo linha chegou, mas de fonte bem menos suspeita. A 10 de Janeiro, a equipa de economistas do Barclays Capital propõe uma saída para crise com vários ingredientes. E entre eles:

 

A major infrastructure investment programme promoted by the European Commission and European Investment Bank, with a particular focus on improving growth potential, would provide support to offset fiscal austerity

 

3) A ideia de maior aposta na procura agregada pode estar mesmo a generalizar-se. Em recente entrevista ao FT, uma estratega de investimento desaconselhou as actuais políticas de resgate e austeridade, avisando que o problema no Sul da Europa, e em Portugal em particular é de solvência. A semana passada até Ricardo Salgado ensaiou um discurso de promoção das políticas de crescimento.

 

 

Face a isto, não se espante se Keynes nascer mesmo terceira vez.

Rui Peres Jorge