Desemprego surpreende pela positiva e não foi apenas a sazonalidade

07/08/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

A taxa de desemprego baixou para os 16,4% no segundo trimestre, surpreendendo pela positiva. Paula Carvalho, do BPI, vê “sinais positivos” e diz que a redução não é explicada apenas pela sazonalidade. Filipe Garcia, da Informação de Mercados Financeiros também lê nos dados do INE uma “melhoria das condições de base do mercado de trabalho”.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.   

 

Paula Carvalho – Departamento de Estudos do Banco BPI

 

1. Os resultados do inquérito do emprego relativos ao segundo trimestre do ano traduzem progressos no mercado de trabalho, superando a evolução que seria ditada apenas por efeito do habitual movimento sazonal, típico desta altura do ano.

 

2. O número de desempregados declinou 7% em relação ao trimestre anterior, melhor que as expectativas. De facto, tipicamente verifica-se uma redução do número de desempregados (ou um menor acréscimo) no segundo trimestre de cada ano reflectindo aumento de necessidades de trabalhadores temporários, normalmente para actividades relacionadas com o sector do Turismo. Todavia a queda registada no desemprego no 2T2013, de 7% q/q [face ao trimestre anterior], excede as variações sazonais habituais, sendo próxima de anos em que a economia registava ainda expansão: em 2010 e 2011 registaram-se reduções na ordem de 5% a 6%, por exemplo.

 

3. Deve, todavia, referir-se, numa nota de cautela face à informação divulgada, que a população activa registou um declínio mais acentuado que em trimestres anteriores (em termos homólogos), facto que contribuiu para o declínio da taxa de desemprego e poderá reflectir, por exemplo, aumento do fluxo de emigração: a população activa entre os 15 e os 34 anos registou um declínio de 7% em relação ao mesmo período de 2012, menos 124 700 indivíduos.

 

4. Ainda assim, os dados do INE estão em linha com a tendência de melhoria no mercado de trabalho que também se regista na informação do IEFP (número de oferta de empregos está em máximos desde 2010), e confirma o cenário mais benigno que é indicado por indicadores parcelares como a produção industrial, de novo em terreno positivo; a melhoria da confiança (ou estabilização) de empresários e famílias ou a aparente estabilização do consumo de bens duradouros, embora num patamar mínimo histórico.

 

5. Em conclusão, esta informação vem aumentar as possibilidades de que a taxa de desemprego de 2013 se situe abaixo do esperado pela generalidade dos observadores (acima de 18%), incluindo as previsões oficiais. Não obstante, a sustentabilidade desta tendência mais favorável identificada em várias frentes (não só no mercado laboral) estará também dependente dos acontecimentos pós-Setembro, na sequência dos eventos em torno da 8ª/9ª avaliação do PAEF pela Troika e da apresentação do Orçamento de Estado para 2014.

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. Estávamos à espera de uma melhoria, marcada por uma estabilização da actividade económica de acordo com os últimos dados da confiança das famílias e do Eurostat.

 

2. Naturalmente, o efeito de sazonalidade é importante, mas como se verificou em outros anos é uma condição que por si só não permitiria a redução da taxa de desemprego nesta magnitude.

 

3. Portanto, a queda de 1.3 pontos percentuais na taxa de desemprego revela uma melhoria das condições de base do mercado de trabalho. Notar que os inquéritos mais recentes dão conta de uma estabilização ou até aumento da empregabilidade da indústria e de estabilização nos outros sectores.

 

4. O emprego aumentou, assim como a população ativa, o que é um bom indicador, neste caso muito influenciado pela sazonalidade.

 

5. Naturalmente, há riscos para a manutenção desta melhoria na taxa de desemprego. Em primeiro lugar, há que filtrar a sazonalidade e esperar que a economia portuguesa – que tem dados sinais de estabilização – recupere efectivamente. Mas o grande risco está em 2014, com a implementação do OE 2014, nomeadamente a Reforma do Estado – o próprio BdP admite o potencial efeito recessivo dessa Reforma.

Rui Peres Jorge