As pessoas só lêem 2,4% do livro de Piketty (mais coisa menos coisa)

20/05/2015
Colocado por: Nuno Aguiar
E vocês, leram todas as páginas do livro de Thomas Piketty?

E vocês, leram todas as páginas do livro de Thomas Piketty?

 

“O Capital no Século XXI” foi um sucesso de vendas, mas de certeza que já se perguntou quantas pessoas leram todas as 700 páginas do livro? A resposta é: muito poucas. Grande parte dos leitores parece nem sequer passar das primeiras páginas.

 

As contas são feitas por Jordan Ellenberg, um professor de matemática, que desenvolveu um indicador intitulado “Índice Hawking”, em homenagem a Stephen Hawking, físico popstar e autor do que muitos dizem ser o livro menos lido de sempre, “Uma Breve História do Tempo”. Isto é, muitos compraram, mas poucos leram mais do que um par de páginas.

 

Como é que é feito este exercício? As páginas da versão Kindle de todos os livros apresentam sempre a lista de cinco passagens mais “destacadas” pelos leitores da versão electrónica de cada obra. Ellenberg utiliza essa ferramenta da Amazon, partindo do princípio que, em média, as citações deveriam estar distribuídas ao longo do livro. “Se cada leitor chegar ao fim, esses destaques podem estar espalhados ao longo do livro. Se ninguém passar da introdução, os destaques mais populares estarão concentrados no início”, escreve o matemático.

 

Portanto, o método passa por pegar nos números das páginas dos cinco principais destaques do livro, calcular a média e dividi-la pelo número total de páginas da obra. A lógica é que quanto mais alto for este rácio, mais o livro foi lido. “Aviso: isto não é minimamente científico e serve apenas como entretenimento!”, avisa Ellenberg.

 

Aceitamos o aviso, mas avançamos por nossa conta e risco. O potencial de conclusões é demasiado delicioso. Nesse exercício, o livro de Thomas Piketty, “O Capital no Século XXI” tem uma classificação terrível, com a média dos destaques a ir apenas até 2,4% do livro (mais ou menos 17 páginas).“The Goldfinch”, de Donna Tartt atinge um valor de 98,5%. “As Cinquenta Sombras de Grey”? 25,9%.

 

Mas não se pense que Piketty está sozinho no registo de valores desoladores. Com ele estão as memórias de Hillary Clinton, com 2,04% (“Hard Choices”), as memórias do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com 2,78% (“Promises do Keep”). Barack Obama está um pouco melhor. “Dreams from My Father” apresenta um rácio de 17,94%.

 

Claro que classificações mais baixas podem dever-se ao facto de as passagens mais “citáveis” e interessantes estarem concentradas no início do livro ou ao facto de os leitores se sentirem mais motivados para destacar passagens do livro quando o começam a ler, desistindo progressivamente ao longo da leitura, principalmente se ela for longa. No caso de Piketty, outro factor provoca ruído: o livro tinha saído há três meses quando a primeira avaliação foi feita.

 

Cinismos à parte, 1,5 milhões de pessoas terem comprado um livro de 700 páginas sobre evolução histórica da desigualdade já é um feito impressionante. Lerem-no todo já podia ser pedir demais.

 

 

Nuno Aguiar