Alesina contra-ataca: o regresso do arquitecto da austeridade

20/01/2015
Colocado por: Nuno Aguiar

Alberto Alesina passou os últimos dois anos a ouvir críticas dos seus detractores. O responsável pela criação do conceito de austeridade expansionista – que defende que é possível fazer consolidação orçamental sem recessão – viu a Europa mergulhar numa depressão económica. Com o pé no acelerador da austeridade, os europeus sentiram na pele os custos sociais de uma crise misturada com cortes na despesa e aumentos de impostos. A realidade parecia estar a desmentir as teses de Alesina, mas o italiano não desistiu delas.

 

 

Esta semana, Alesina publicou um novo paper com Omar Barbiero, Carlo Favero, Francesco Giavazzi e Matteo Paradisi. O objecto central do estudo é o esforço de austeridade realizado pela Europa entre 2009 e 2013. Parte de duas premissas: 1) as medidas de consolidação foram as principais culpadas pela recessão em muitos países; 2) esta onda de austeridade foi mais penalizadora do que em situações anteriores. Escusado será dizer que tenta desmentir ambas. Os resultados são mistos.

 

A primeira premissa não é desmentida, mas é clarificada. Alesina conclui que existe uma diferença muito grande entre uma consolidação orçamental feita à base de impostos e outra realizada com cortes na despesa. “[…] tal como no passado, nos episódios recentes há uma grande diferença entre ajustamentos orçamentais tendo por base impostos e despesa. O primeiro tem sido muito duro em termos de quebras na produção. O segundo muito menos.”

 

O paper refere que aumentos de impostos equivalentes a 1% do PIB podem resultar numa recessão de – 2% nos três anos seguintes, enquanto o caminho de corte na despesa tem um impacto no produto “não muito diferente de zero”.

 

Quanto à segunda premissa, os autores referem que não encontraram dados que mostrem que esta onda de austeridade foi mais penalizadora do que as anteriores, observadas entre 1978 e 2007. Ou seja, que os tão debatidos multiplicadores orçamentais afinal estavam bem calculados e continuam a aplicar-se à nossa situação económica. Uma conclusão que parece contradizer um estudo anterior de Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI. Segundo Blanchard, o custo da última vaga de austeridade onerou mais a economia do que no passado.

 

O que explica então a diferença entre os dois? Alesina explica que as conclusões de Blanchard incluem variáveis exógenas que compõem o modelo de previsões do FMI, ao passo que o paper que agora apresenta pretende concentrar-se apenas nas medidas de consolidação. Isto é, “se a actual vaga de ajustamento orçamental foi mais onerosa do que antes (para já, as provas são pouco claras) esta diferença seria explicada por variáveis concorrentes, como o ‘credit crunch’, não por uma alteração dos multiplicadores nos anos anteriores e posteriores à crise”.

 

O economista nota que estes recentes episódios de austeridade estiveram rodeadas de situações excepcionais, nomeadamente o facto de terem ocorrido durante o final da Grande Recessão e de uma crise financeira, que provocou contracções significativas na concessão de crédito. Além disso, muitos países implementaram medidas de consolidação ao mesmo tempo. Tudo somado, pode ter tornado desta austeridade mais dura do que em períodos históricos anteriores.

 

Ainda assim, Alesina admite que as suas conclusões nada nos dizem sobre se os países tomaram a decisão correcta ao avançarem para a austeridade antes de a recessão ter terminado, o que “normalmente não é uma boa altura para o fazer”. Lembra que foram as condições de mercado que levaram os países europeus a ter de fazer austeridade antes da recessão terminar. Em Estados como Portugal, Irlanda ou Espanha, Alesina reconhece que a dimensão da consolidação orçamental pode ter sido excessiva.

 

Mais do que defender a austeridade, este paper critica a consolidação feita pelo lado da receita, algo que em Portugal teve uma importância decisiva para cumprir as metas de redução do défice exigidas pela troika.

Nuno Aguiar